Lissa Maddes
Um navio chacoalhava e chacoalhava mas nunca afundava. Era um sonho ruim, só havia percebido que era quando abri os olhos diante tá luz laranja do sol quente, quase engasguei com a própria saliva quando quis soltar um resmungado. Gostaria que o navio chacoalhando fosse a realidade, e o deserto o pesadelo.
O calor abraçava o quarto inteiro enquanto eu permanecia de bruços com a bochecha afundada no travesseiro macio. Meus olhos focaram na porta da varanda aberta, onde eu havia adormecido na noite anterior, lembrava perfeitamente do incomodo que a madeira da cadeira fizeram nas minhas costas antes de ser depositada na cama.
Que merda era aquela?
Levantei completamente assustada, com a certeza que não havia adormecido na cama. Alguém havia entrado e me visto nua. Toquei em meu corpo em busca de machucados de violação, mas nada, era quase como um terceiro pesadelo e eu não sabia no que acreditar.
Ao levantar fui em busca das minhas roupas estendidas na varanda, precisei lavar os tecidos na pia do banheiro na noite anterior. O muro alto que tinha visto na noite, se misturando com o céu, realmente era real. Me vesti e busquei por comida no pequeno frigobar próximo ao lado da cozinha minimalista. Meu coração disparou pelo tanto de coisas que havia lá dentro, iogurtes, queijos, chás gelados, sorvete e até mesmo chocolate. Desisti de comer e fechei o frigobar rapidamente, pensando em como aquelas coisas foram parar ali se o estilo de vida na cidade abandonada era primitivo e o hotel era inabitável a tanto tempo.
Meus olhos estava diante da mesa redonda, morando em uma caixa delicada sobre a mesma, não estava ali na noite anterior. Uma caixa pequena daquelas que guardam jóias caras.
Me aproximei com receio, tudo ao meu redor parecia errado. Ao abrir a caixa meus olhos aumentaram imediatamente, minha mão tremeu e eu me segurei no fato de não ser real, mas puxei um dedo de dentro da caixa, a pele escurecendo perto de onde deveria estar o restante da mão, o cheiro ruim subindo com o sangue coagolado eu tive certeza de que era real. A pequena âncora tatuada na parte de dentro fez um grito sair alto da minha boca quando derrubei o dedo no chão.
Era o dedo de Dylan, eu reconheceria a tatuagem que eu mesma tatuei enquanto estávamos bêbados após um festival de música.
O cara que explanou vídeos meus estava com um dedo à menos, seria maravilhoso se não fosse horrível.
Eu corri do quarto e chorei descendo escada abaixo, atravessando o pequeno pátio direto para o bar. Eu estava desesperada por segurança, esperança e qualquer coisa que fosse real.— Adam?
Chamei pelo moço do bar e nada, procurei por toda parte e ele não estava em lugar algum. Após minutos girando e girando, sentei no chão e chorei por tanto.
Eu estava perdendo o pouco da consciência que ainda me restava, queria lutar mas estava fraca e todos os mantimentos deixados lá no quarto me deixavam insegura sobre utilizar deles. Pensei em todas as pessoas que gostariam de me fazer mal, pensei em todos os comentários e críticas que recebi na internet e pensei que só uma pessoa muito poderosa seria capaz de organizar tanto pesadelo, mas eu sequer conseguia encontrar o motivo para ser alvo de tanto ódio capaz de enlouquecer qualquer ser humano em minha situação.
Caminhei a tarde inteira pelo deserto enquanto chorava em desespero, fiz todo o percurso que pensava ter feito e deixado meu carro, mas ele não estava lá novamente. Pensei em continuar e parar somente quando estivesse em casa, mas sabia que o caminho era longo demais e eu morreria antes da metade. Eu sentia meu corpo rejeitar a ideia nos meus pés cansados, corpo dolorido, suor pegajoso e lábios cortados.
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Pesadelo (Bill Skarsgard)
RomanceApós confessar ter se inspirado na fisionomia da homem mais perigoso do país para ter escrito seu romance best-seller, Lissa Maddes têm sua vida atormentada de polêmicas perseguidas de acontecimentos ruins, e ao tentar escapar dos problemas se encon...