Capítulo 8

148 11 8
                                    

Lissa Maddes

Não havia tanta dor para que eu pudesse chorar da força que estava fazendo, era como se fosse um arranhão à ferro quente, mas ainda sim, o susto e a adrenalina do momento fazia com que eu gritasse aos prantos. Bill guardou a arma travada no cós da calça e puxou-me para seu braço enquanto o outro sustentava a minha bolsa.

Tinha desistido de lutar por acreditar que ele atiraria outra vez se fosse possível, e para valer.

Entramos no carro roubado e seguimos estrada fora. Puxei a minha legging abrindo mais o tecido e observei o sangue escorrer por minha pele pálida, não era um buraco, era um corte um pouco mais profundo. Meus dedos tremiam um pouco e eu sabia que era pelo medo misturado com alguma coisa que fazia meu coração bater forte.

Bill escorregou a mão do volante direto para a minha coxa, e recebeu um tapa furioso enquanto eu me virava para a janela não querendo ver seu rosto. Eu não queria ir, mas não tinha nenhuma outra opção e no fundo meu ressentimento nem era sobre a partida que eu sabia que precisávamos fazer e sim sobre meu notebook transformado em cacos na calçada do prédio. Uma lágrima escorreu e precisei limpa-la sentindo-me completamente triste.

Eu sentia os olhos de Bill em mim, mesmo que não pudesse vê-lo. Estavam-me sobrecarregando, mas ele sequer disse uma palavra.

Em um campo aberto na saída da cidade estava um jatinho provavelmente particular nos aguardando. Bill carregou minha bolsa enquanto nos dirigimos para o jatinho, percebi quando ele tentou colocar a mão em minhas costas e me afastei antes que o fizesse, continuei caminhando à frente para que ele não visse meu rosto.

Estávamos ambos caminhando de forma dolorida pelos nossos ferimentos. De batalhas e sentimentos, completamente abertos e sangrentos.

— Senhor? — o homem cumprimentou Bill com formalidade.

Olhei para ambos tentando entender o motivo de tanta formalidade.

— Mauro! — Bill disse seu nome ao apertar sua mão — Essa é Lissa Maddes.

— Lissa Maddes? — o homem de cabelo ralo pareceu entusiasmado — Eu amo seus livros.

Minha aparência destruída havia me deixado constrangida, mas sorri em agradecimento.

Bill Skarsgard

Lissa permaneceu estática no acento mais isolado do jatinho, enquanto Mauro estava em sua cabine de piloto nos fornecendo a imagem maravilhosa de um céu azul coberto de nuvens bonitas em torno de um dia ensolarado. Os olhos da minha mulher estavam perdidos na paisagem, e completamente ofuscados de tristeza.

Eu não estava arrependido, sabia que poderia resgatar seus rascunhos e manuscritos com algumas horas trancado em um quarto que me fornecesse uma tecnologia mais avançada. Mas eu não diria à ela, queria que sentisse o peso das consequências de suas ações, por mais dolorosas que fossem.

Jamais tiraria algo dela que não pudesse devolver ou entregar um melhor, e um dia ela saberia disso sem que eu precisasse dizer.

— Naquela cabine ao fundo há uma cama, você deveria descansar. — apontei para a cortina em tons de creme assim como todos os acentos e ela simplesmente se enfiou lá dentro sem dizer qualquer palavra ou levantar barulho.

Quanto mais tempo eu passava sentado naquele acento, mas as nuvens começavam a se tornarem cinza conforme nos aproximavámos do nosso destino. Deixei os conflitos mentais de lado e fui até Lissa, a encontrei encolhida na pequena cama encostada ao fundo do jatinho, estava de costa parecendo menor ainda pela forma que se encolhia.

Pesadelo (Bill Skarsgard)Onde histórias criam vida. Descubra agora