Capítulo 4

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                            Lissa Maddes

Não há caminho certo quando se quer fugir da própria mente. Eu havia acumulado tanta coisa por muito tempo, que elas pareciam querer esmagar tudo que tivesse dentro de mim para sair fora.

Pisei no acelerador dentro da noite, já havia perdido o sinal da ligação com Sam por algumas horas e sequer havia conseguido conectar à internet. Quando o combustível evaporava mais depressa percebi que a escolha mais certa era abastecer para então seguir minha jornada sem fim.

Foi quando algo enganchou no meu pneu fazendo o carro deslizar na pista de forma radical caso eu não tivesse estressada.

— Que merda.

Desci do carro e fui em busca do dano causado no pneu, uma espécie de bala de algum tipo de sniper espera preso no plástico duro.

— Que merda é essa?! — gritei para além do deserto que me cercava.

Nenhuma altura considerável para esconder algum especialista em armas de longa precisão. Foi então que eu percebi, que o destino estava me encurralando, não importava o que eu fizesse e o quanto me esforçava, eu havia nascido para ser fodida.

Sentei-me no chão quente da estrada e chorei. Após longas horas de lágrimas, e com a garganta seca decidi levantar em busca de qualquer coisa que me sustentasse para a volta até casa. Eu não deveria ter saído.

Caminhei por tempo demais, até que o céu estivesse tornando-se claro com o nascer do sol. E quando pensei em desistir pela dor que subia dos meus pés até minhas panturrilhas, avistei uma cidade parecendo em meio ao deserto enquanto o sol nascia pelas cabanas de madeira alaranjada.

Naquele momento pude perceber o lado da minha perspectiva. Eu nunca havia passado por uma situação tão ruim desde que havia me mudado para a cidade grande, nunca havia visto o ruim das coisas boas... E ali percebi, que estava começando me estressar com o sol que tanto almejei que aparecesse por entre os prédios da cidade, talvez eu fosse uma egoísta, esperando para que os momentos favorecem qualquer situação ao meu redor.

Levantei o rosto para o céu e deixei o sol aquecer meu rosto pálido de garota da cidade. Um risco de suor escorreu do meio da minha testa em direção a ponta do nariz, me esforcei para não chorar de novo. Sempre me considerei forte, mas talvez não passasse de uma armadura invisível, onde qualquer um conseguia ver a confusão que estava por dentro.

A cidade não havia acordado quando entrei em um bar adormecido que não parecia dormir durante a noite. Estava vazio em questão de freguesia, apenas um homem do outro lado do balcão guardava uma única caneca entre tantas vazias.

— Bom dia. — eu disse ao me aproximar. Meus passos tímidos fizeram o assoalho ranger e o homem se encolher um pouco ao notar minha presença.

— Bom dia, como posso te ajudar?

Ele não sorriu, mas também não pareceu rude. Apenas entediado, eu diria.

— Você sabe se tem algum posto de gasolina por aqui?

— Nada.

— Nada? — perguntei incrédula, e ele permaneceu firme na resposta — Nada mesmo?

— A cidade é minúscula fazemos tudo caminhando.

— E quanto aos mantimentos e coisas que a cidade precisa?

— Chegam por um trem.

Abri a boca, mas nenhuma palavra quis sair.

— Quer beber algo? Eu tenho café.

— Você vai cobrar?

A pele dele era morena como caramelo, e os fios duros do cabelo eram claros. Um bronzeado perfeito para uma pequena cidade abençoada por uma sol perfeito.

Pesadelo (Bill Skarsgard)Onde histórias criam vida. Descubra agora