Capítulo 1 - ME ENCONTRA

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24 de Outubro de 2011

Campo Grande - Rio de Janeiro

Luiza Pov

O dia começou estranho e nublado. Não gosto quando amanhece assim, parece um dia triste como se algo ruim fosse acontecer a qualquer momento. Desde criança nunca gostei, sempre fui uma pessoa que gosta de sol e calor, um tanto quanto contraditório para quem mora em uma das capitais que mais fazem calor. Mesmo morando em uma cidade onde tem praia, já não costumo ir com tanta frequência. É como dizem, depois que atingimos a maioridade parece que as responsabilidades aumentam e comigo não seria diferente.

Comecei minha semana com a mesma rotina de sempre, acordei às 06:00 em ponto. Tomei um banho para despertar, fiz minha higiene matinal. Sempre deixava minhas coisas preparadas para a semana. Dessa forma era mais fácil e eu não me atrasava. Fiz um lanche de café da manhã e me dirigi até o ponto de ônibus que fica a poucos metros da minha casa. Eu moro cerca de 1 hora da faculdade sem trânsito, quando tinha algum imprevisto na via era um caos total.

Sempre odiei atrasos, então gostava de sair adiantada, era melhor ficar esperando do que chegar atrasada. Em alguns minutos meu ônibus chegou. A viagem por ser longa era sempre acompanhada de alguma playlist aleatória com uma pitada de reflexões sobre a vida hoje a música escolhida foi Me Encontra - Charlie Brown Jr.

Assim que me formei no Ensino Médio já tinha minha vida acadêmica planejada. Fiz o ENEM e usaria a nota de corte para ingressar em uma alguma faculdade. A UFRJ sempre foi o meu grande sonho, embora eu soubesse o quanto era difícil entrar procurei focar e me concentrar nos meus objetivos.

Nada era mais importante para mim do que ter uma carreira estável e ser respeitada no mundo acadêmico. Comecei a mandar alguns currículos assim que me graduei no Ensino Médio. Como toda boa ariana, não conseguia ficar muito tempo parada, decidi que iria trabalhar e estudar para manter as despesas do meu curso, o que não seria nada barato.

Entre vários currículos enviados e algumas entrevistas de empregos sem sucesso, acabei conseguindo um emprego na PUC. Era o último lugar que eu esperava para começar a trabalhar. Além de ter vários benefícios, o que mais me chamou atenção foi que funcionários tinham 100% de bolsa em qualquer curso. Não hesitei em começar o meu tão sonhado curso de Ciências Biológicas já que minha nota de corte não tinha sido suficiente para ingressar na UFRJ. Eu estava no primeiro período do curso, trabalhava durante o dia e já ficava na faculdade para assistir às aulas. Entre o meu horário de almoço e o espaço de tempo que o meu expediente se encerrava para o início das aulas eu usava para estudar. Mesmo sendo bolsista, a faculdade exigia uma média nas matérias de pelo menos 80%.

Minha melhor amiga Duda também estuda na mesma faculdade, o que é ótimo porque assim tenho companhia para ir embora. Cursa Publicidade e está no segundo período. Nossa amizade começou lá no jardim de infância, na verdade eu não sei ao certo como tudo começou. Nós nos tornamos inseparáveis desde então. A Eduarda é uma pessoa muito animada e conhece quase todos da faculdade, o que foi ótimo, já que sou uma pessoa mais tímida, ela me ajudou a me enturmar com a galera.

Foi através dela que conheci minha atual ficante Camila, ela é uma garota agradável e atenciosa. Por enquanto só trabalha e não tem muita perspectiva sobre o futuro, o que me incomoda um pouco. Estamos ficando há quase um mês e eu não tenho pretensões de levar nossa relação adiante. Quando surge o assunto eu deixo claro que não está nos meus planos ter um relacionamento por agora. Temos costume de sair em alguns finais de semana, às vezes vamos a algumas resenhas, sorveteria ou cinema.

A minha sexualidade nunca foi um tabu, desde muito nova eu sempre senti atração por garotas, até que um dia finalmente tive coragem de beijar uma menina que estudava comigo no Ensino Médio. Achei o beijo normal como se estivesse beijando qualquer outra pessoa. Me considero bissexual por até uns 2 anos atrás eu só me envolver com garotos. Mesmo não tendo nada físico além de alguns beijos, eu nunca me senti completamente atraída ou tinha algum desejo sexual. Duda é a única pessoa que sabe sobre a minha sexualidade dentro do meu convívio familiar. Não cheguei a contar para minhas irmãs, elas não entenderiam.

Minha melhor amiga como sempre me deu muita força e quando contei que tinha beijado uma mulher pela primeira vez ficou tão eufórica que parecia que tinha sido ela. Considero a Duda como uma irmã e meus pais a têm como uma filha postiça. Ela sempre está na minha casa me chamando para sair, segundo ela eu só vivo para estudar, pareço uma jovem senhora que dorme às 21:00 em um sábado a noite e a juventude precisa ser aproveitada. Embora eu discorde dela em alguns momentos, é bom ter esse tipo de pessoa por perto que me obriga a sair e distrair um pouco. Domingo é um dia que eu não abro mão, gosto de ficar em casa, repassar as matérias e conteúdos que eu tive durante a semana. Além de organizar toda minha rotina para a semana. Vez ou outra gosto de ir à praia no domingo, esses momentos se tornaram tão raros na minha vida que quando vou me sinto pisando na areia pela primeira vez.

Chego à faculdade em mais uma semana que não inicia nada de novo na minha rotina. A mesma coisa de sempre orientar alunos, atender ao telefone, cumprir demandas administrativas. Finalmente o expediente se encerrou. Como consegui colocar toda a matéria em dia no final de semana que optei por não sair, decidi me juntar à galera. Meus amigos costumavam ficar nas mesinhas do refeitório. É um espaço grande e arejado, próximo às mesas tem um grande gramado com algumas árvores. Alguns casais costumam ficar lá por ser um lugar mais reservado e tranquilo. Assim que vou me aproximando avisto a Duda e o Mateus, ele eu conheci a pouco menos de um mês. É um cara bem alto astral. Está sempre indo as resenhas da galera da faculdade e todo final de semana gosta de jogar vôlei, sempre tenta me arrastar para que eu possa assistir uma peladinha. Vôlei é um esporte que eu acompanho apenas pela TV, conheço as regras e torço pra seleção brasileira feminina de vôlei. Mas nada, além disso. Assim que me aproximo já comprimento os dois e procuro me inteirar da conversa.

- Amiga, esse final de semana você precisa sair e não adianta falar que tem que estudar. Vou te arrastar de qualquer jeito - Duda disse.

- Para onde você vai me arrastar Eduarda? - Falei sem emoção.

- Gata, você precisa ir nessa resenha. Vamos jogar vôlei e depois irei fazer uma social na minha casa. - Disse Mateus entrando no assunto.

- E se por acaso eu estiver com meu final de semana planejado. Vocês estão decidindo minha vida sem me consultar. - Falei com um leve tom de irritação.

- Você tem planos para o final de semana? Vai sair com quem a Camila? Me poupe Luiza. Tem dois finais de semana que você inventa uma desculpa para não ver a garota. - Disse Duda revirando os olhos.

- Eita! Já está assim Luiza? - Até que isso durou muito tempo, do jeito que você é a senhorita não posso me distrair dos meus objetivos eu achei que não passaria da primeira ficada. - Disse Mateus debochando.

- Garoto! Você está por fora mesmo. Elas estão há quase um mês nessa. Luiza fala que não quer nada sério, mas quando bate a vontade de beijar na boca é a Camila que você procura né safada. - Duda falou rindo.

- Vamos parar com a palhaçada? - Falei levemente irritada.

- Eu vou nessa resenha, mas só se vocês dois pararem de encher meu saco. Realmente estou precisando me distrair e vai ser bom assim o Mateus para de me cobrar que eu nunca fui o ver jogar. Se acha o próprio Bruninho. - Falei rindo.

- Gata, aqui é só passa classe A. Me respeita! - Todos nós começamos a rir com seu comentário.

Ficamos de papo até o horário do início das aulas. Mateus disse que iria na frente pois precisava encontrar uma amiga que também jogava vôlei com ele e o ajudaria a organizar a resenha. Eu e Duda continuamos conversando. De longe, avistei uma garota de costas com ele. Jaqueta de couro, cabelo liso longo e preto. Ela se virou por alguns minutos e nossos olhares se cruzaram. Seu rosto era familiar, olhar penetrante. Parecia que eu já a conhecia de algum lugar. Ficamos nos encarando distraídas por alguns bons segundos até que Duda me tirou desse transe e nos encaminhamos para sala de aula. Durante o caminho só pensava na tal garota. Porque o rosto dela me parecia família e eu não conseguia parar de pensar nisso.

Música que a Luiza estava escutando perdida em seus pensamento.

Agora me conte. O que acharam?

Próximo capitulo quarta-feira 22/05 - 12:00.

Até lá!

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