Capítulo 2 - ACASO

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24 de Outubro de 2011

Barra da Tijuca - Rio de Janeiro

Valentina Pov

Acordei às 09:00 em ponto. Pretendia ter acordado mais cedo para correr. Acabei não conseguindo, na noite anterior fui dormir bem tarde assistindo a uma reprise dos Jogos Olímpicos Beijing 2008. Estava muito empolgada com os jogos que aconteceriam em Londres 2012. É uma cidade que sou fascinada e está na minha lista de lugares que quero conhecer.

Me levantei, fiz minha higiene matinal e desci para tomar café. Como sempre estava sozinha em casa. Meus pais já tinham saído para trabalhar, aproveitei para separar algumas matérias que eu deveria estudar. Curso Educação Física na PUC e me sinto realizada. Sempre que estou tomando meu café me perco nos meus pensamentos. Deve ser mal de pisciana.

Desde criança sou apaixonada por esportes. Vôlei sempre foi a minha paixão. Comecei a jogar assim que iniciei o Ensino Fundamental, mesmo não tendo a estatura para jogar como ponteira passadora. Sempre gostei de jogar nessa posição. Disputei alguns campeonatos intermunicipais pela escola, recebi alguns convites para seguir carreira. Porém, nunca me interessei.

Mesmo fazendo do vôlei um hobbie, sou muito disciplinada e levo o esporte bem a sério. Em um dos jogos entre amigos acabei conhecendo meu melhor amigo Mateus com quem tive uma conexão imediata. No início por sermos bem grudados todos pensavam que éramos um casal. Nas palavras do Mateus somos "um casal de viado e sapatão". Ele sempre foi muito afeminado e nunca escondeu a sua sexualidade da sua família. Sua mãe sempre o apoiou e me recebeu muito bem em sua casa.

Assim que o conheci contei para ele que gostava de garotas. Ele ainda teve a audácia de dizer que "sentiu de longe o cheiro de couro". Achei ele bem abusado falando dessa forma por ser uma pessoa que mal me conhecia. Logo fui entendendo que esse era seu jeito e ficamos amigos. Lá se vão 7 anos de amizade e contando. Ele sempre achou meu irmão Igor muito gatinho, mas nunca teve coragem de chegar nele para falar, confesso que no início eu tinha um pouco de ciúmes dos dois. Hoje eu não consigo imaginar uma pessoa melhor para namorar o meu irmão.

Igor e eu sempre fomos muito próximos desde crianças. Ele sempre teve aquela síndrome de irmão mais velho e protetor. Quando ele me contou que era gay, meu primeiro instinto foi tentar proteger ele assim como ele sempre fez comigo.

Nossos pais sempre foram pessoas mais fechadas e conservadoras. Quando ele resolveu se assumir, nossa mãe chegou a ameaçar expulsar ele de casa por não querer um filho gay. Meu pai em primeiro momento ficou calado, mas logo em seguida chamou minha mãe para conversar e disse que essa não era a forma de resolver as coisas. Vendo tudo isso mesmo sendo muito nova, eu ameacei de ir embora junto com ele. Não conseguia aceitar minha mãe fazendo isso com meu irmão. Depois desse dia, a relação em casa ficou estremecida.

Aos poucos meus pais foram tentando se aproximar do meu irmão e passaram a respeitar sua orientação sexual. Até hoje não sabemos se eles aceitam de verdade ou optaram por apenas respeitar. O mais importante é que meu melhor amigo Mateus frequenta aqui em casa como namorado do meu irmão. Inclusive ele e meu pai se tornaram mais próximos no decorrer dos anos.

Meu irmão foi a primeira pessoa que eu contei quando beijei uma garota pela primeira vez. Eu tinha 12 anos e foi com ela que eu perdi meu BV. Sempre me pareceu algo muito natural, não conseguia ver os garotos com outros olhos, as meninas sempre me chamaram mais atenção.

Aos 16 conheci Stefany através de amigos em comum. No início era uma pessoa com a qual eu ficava às vezes. Até que foi evoluindo para um namoro, todo mundo diz que o primeiro relacionamento é o que chamamos de amor da nossa vida. Nunca consegui sentir a tal das borboletas no estômago com ela. Ela foi a minha primeira garota e algo que era para ser mágico acabou se tornando estranho e sem sentido.

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