Capítulo 01: Fresh start

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Alexa Morgan
Los Angeles, Califórnia.
??/09/2017

Meus joelhos estão ardendo. O barulho das sirenes preenche a rua que só está iluminada por conta das chamas que vem de dentro da minha casa. Pessoas saem de suas residências para ver o que aconteceu.

De relance consigo ouvir os policiais, lamentando sobre o ocorrido. Mas não é isso que chama a minha atenção. E sim a frase que um deles solta.

"O caso não foi um acidente. A casa foi incendiada de forma intencional. Beatriz Morgan foi vítima de homicídio premeditado."

Meus olhos se arregalam e sinto meu corpo travar.

Como assim um homicídio? Quem matou a minha mãe?

       (...)

Los Angeles, Califórnia.
01/08/2017

As tintas jogadas no chão do meu quarto me fazem pensar o quão desleixada fui esses dias. Chuto os tubos de aquarela para debaixo da cama e vou até o espelho, ajeitando a gravata do meu novo uniforme. Amarro meu cabelo em um coque, colocando um lápis para prendê-lo. Está tão bagunçado que eu seria incapaz de ir com ele solto.

Escuto a porta do quarto ser aberta e vejo minha melhor amiga entrando em seguida.

— Está pronta, gata? — Audrey fala, encostando as costas na parede.

—  Sim — digo, colocando meus tênis com dificuldade.

Reparo nas tranças feitas na lateral do seu cabelo. Os cachos volumosos e sua pele negra fazem contraste com a parede branca do meu quarto. Se não estivéssemos tão atrasadas, pediria para Audrey posar para mim.

— Decidiu fazer um penteado novo?

— Óbvio. Quero dar uma boa impressão no primeiro dia de aula

Isso é realmente necessário? Se for, com certeza não vão ter a melhor das opiniões sobre mim.

— Vai conseguir mais do que só uma boa impressão — pontuo, colocando minha bolsa nas costas — É capaz de todo mundo se apaixonar por você à primeira vista

— Isso vale para você também?

— Com certeza, bebê — zombo, e não demora muito para cairmos na risada.

— Vamos logo, idiota. Minha mãe não vai esperar para sempre — diz, pegando minha mão e me arrastando para fora do quarto.

Descemos as escadas com pressa, mas Audrey me para de forma bruta. Se não fosse o braço dela na minha frente eu teria caído de cara no chão. Minha amiga parece concentrada ouvindo a conversa das nossas mães.

— Beatriz, você acredita que a Audrey tentou usar minhas roupas de novo? — tia Emily reclama, cruzando os braços. — Não entendo o porquê de comprar roupas para ela se aquela pestinha usa as minhas o tempo todo

Dreydrey coloca as mãos na cintura e vai até a cozinha. Eu sigo o mesmo caminho, só não imito a postura autoritária que ela faz.

— Mamãe, você sabe que X9 morre cedo, não é?

— Isso é uma ameaça, queridinha? — tia Emily questiona, se levantando da cadeira que estava sentada.

Essas duas parecem mais cão e gato do que mãe e filha.

Ignoro a briguinha entre elas e vou até minha mãe, abraçando-a por trás.

— Bom dia, mãe — digo, encostando meu queixo na curva de seu ombro.

— Bom dia, meu amor.

Mesmo que seja difícil, consigo ver que suas olheiras estão mais evidentes do que antes. Os remédios não funcionaram?

Se continuar desse jeito, duvido que minha mãe melhore. Já fazem cinco longos anos que ela luta contra a depressão e continuar se entupindo de remédios não faz bem.

Eu o culpo, culpo o homem que nem consigo chamar de pai. Ele soube muito bem como acabar com as nossas vidas antes de ser preso.

— Melhor irmos agora, ou vão perder a chance de fazer novos amiguinhos — tia Emy diz, afinando a voz.

Pego meus fones que estão em cima do balcão e me despeço da minha mãe. Ela beija o topo da minha cabeça e acena enquanto saímos de casa.

Em passos rápidos, entro no carro, vendo a tia Emily e Audrey fazerem o mesmo.

Encosto a cabeça no assento macio e abro a janela. O vento frio acaricia meu rosto quando o carro dá partida.

Tenho a sensação de que meu coração vai sair pela boca. Passei anos sem ir à escola por conta do bullying, mas aqui estou, voltando para o mesmo ambiente tóxico de antes. Meu medo, em si, não é o lugar, e sim as pessoas. Aprendi há muito tempo que os seres humanos são capazes de tudo e de todo tipo de crueldade.

— Soube que um garoto veio de Paris para estudar na nossa escola — Audrey diz, fechando sua revista de moda.

— Que legal.

— Não ficou nem um pouco interessada?

— Seria mais estranho se eu ficasse.

Audrey revira os olhos e faz biquinho.

— Você poderia ao menos fingir que se importa?

— Eu nem conheço o garoto, Audrey.

— Mas vai ter a oportunidade de conhecer! Você tem quinze anos na cara, Lexy. Qualquer adolescente dessa idade deveria estar louca para arrumar um namorado!

Escuto a tia Emily soltar uma risada baixa e ela nos olha pelo espelho do carro.

— Apesar da Audrey só falar besteira, dessa vez ela tem razão. Você tem que socializar mais, querida. Viva sua adolescência, faça besteiras e deixe que do resto eu cuido, ok?

Dreydrey faz uma expressão convencida, levantando a cabeça e sussurrando um "Eu te avisei".

Volto a olhar para a janela, digerindo as palavras da minha tia. Não posso me dar o luxo de aproveitar, mesmo que eu queira.

Tenho que viver constantemente com os pensamentos de que a qualquer momento minha mãe pode se suicidar. E eu juro, perder ela seria a coisa mais dolorosa de toda a minha vida.

As árvores que tapavam a vista dos arredores passaram, e agora, finalmente, consigo entender a magnitude da melhor escola da região.

— Chegamos, Lexy — minha amiga fala, adotando uma postura confiante.

Abro a porta do carro, encarando os grupinhos na frente da escola. Várias pessoas rodeando alguém que mal posso ver. Dentre essas pessoas, uma em específico me chama atenção. Cabelos castanhos, batom vermelho e um corpo invejável. Sem dúvidas é a Arianna.

Será que ainda dá para desistir?

Olho para trás e vejo que a tia Emy foi embora. Aposto que ela e a Audrey planejaram tudo isso. Sabiam que eu sentiria vontade de voltar.

Traidoras.

— Bem-vinda de volta, Alexa! — minha amiga diz, segurando minhas mãos. — Não disse isso antes, mas eu senti sua falta todos os dias na escola. Vamos ficar juntas e não nos separar nunca mais, viu?

Sinto as lágrimas querendo se formar em meus olhos.

Meu pobre coração, perdoarei ela dessa vez.

— Não fala assim, idiota. Desse jeito vou acabar querendo ficar por vontade própria.

— Essa é a intenção. — Sorri.

O barulho do toque de recolher ecoa por toda a escola. Olho para Dreydrey, e ela me arrasta para dentro antes que pudesse falar algo.

Não parecia ser tão ruim voltar a estudar sabendo que Audrey estaria comigo o tempo todo. Mas essa minha mentalidade ingênua foi completamente destroçada quando Dylan Legrand corrompeu a minha alma por completo.

Fim do primeiro capítulo.



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