Alexa Morgan
Los Angeles, Califórnia. 05/08/2017Sento-me na cadeira do refeitório, posicionando minha bandeja com batatas fritas na mesa. Audrey faz o mesmo, contudo, a sua bandeja só tem frutas.
As pessoas que estão sentadas conversando parecem robôs. Alguns se beijando e outros fixados na tela do celular. O som de mastigação do time de futebol na mesa só quebra ainda mais minhas expectativas de relaxar.
Comer e descansar era o meu único objetivo. Mas ao invés disso, estou escutando minha amiga reclamando sobre Ethan incessantemente, o ruivo que ela diz odiar mais que tudo.
Ouvi sobre ele durante esses dias. Um garanhão que adora se mostrar para as meninas. Não é surpreendente já que metade dos garotos dessa escola se comportam desse jeito.
Ethan é melhor amigo de Dylan, sei disso pelos boatos que passam de boca em boca por aqui. Mesmo que eu nunca tenha visto Dylan de perto, ele também é considerado um dos meninos mais famosinhos da escola. Se não o maior.
Desde que o dito cujo apareceu nessa escola, tudo parece um típico cenário de filme clichê.
— Ethan é um canalha, Alexa. Fica pulando de garota em garota o tempo todo — Audrey diz, batendo as mãos na mesa.
— Eu já entendi essa parte.
— Na aula de física ele ficou piscando e mandando beijinho para a vadia da Arianna.
— Sabe que isso é problema dele, não é?
— Mas ele não pode, não com a Arianna!
Respiro fundo, finalmente entendendo o porquê de tanta reclamação. Pensei que Audrey tinha motivos lógicos e consistentes para odiar Ethan, mas está claro qual é o real problema.
— Sério que eu passei esse tempo todo ouvindo você morrer de ciúmes pelo garoto? — suspiro — Se quer tanto ele é só falar
— Eu não quero ele
— Bom, não é o que parece.
Audrey fica em silêncio por alguns segundos mas logo solta um gritinho frustrado.
— Desistiu de se enganar? — Sorrio.
— Vai se foder, Lexy.
Acho engraçado quando Audrey fica sem argumentos. Sua única forma de escape é me xingar e ficar emburrada. Ela sabe que estou certa, sempre estou.
De qualquer modo, não consigo entender. Ela poderia simplesmente se declarar para ele. Audrey é bonita o suficiente para conseguir o homem que quiser.
Como uma batata frita e vejo Dreydrey pegar seu celular. A mesma o encara por alguns segundos e suspira, se levantando.
— Mamãe está ligando — ela diz, colocando o telefone no ouvido
Eu me levanto da mesa e me despeço de Audrey. Não estou afim de escutar ela discutindo com a mãe, ainda mais com toda a poluição sonora do pátio.
Se minha amiga fosse um pouco menos parecida com a tia Emily, tanto em aparência quanto em personalidade, talvez as duas pudessem ter uma conversa normal.
Caminho até corredores velhos da escola, na intenção de achar um único lugar menos barulhento que o refeitório. Mas toda sala que eu entro ou são os alunos se pegando ou os professores.
Desço as escadas do segundo andar e vou até o bebedouro. Minha boca está seca depois de tanto falar.
Abro a torneira e posiciono a garrafa embaixo, esperando o bebedouro fazer seu trabalho de enchê-la.
Que sufoco.
Tenho a sensação de estar sendo observada desde que as aulas voltaram, como se um par de olhos me seguisse por todo lugar. É desconfortável, e eu sempre confiro se há alguém me seguindo.
Claro que pode ser tudo paranoia da minha cabeça. Mas, na época que a fofoca sobre meu pai se espalhou, repórteres matavam para ter entrevistas com a minha mãe ou comigo. Uma ex-modelo envolvida em polêmicas era prato cheio para eles, não podiam perder a oportunidade.
Mamãe teve que enfrentar as diversas críticas à sua família, e foi assim que ela se afundou na depressão. Enfim, consequências da fama.
Naquele momento, eu consegui sentir o peso de ser uma pessoa famosa.
Se eu gostei? Prefiro morrer do que passar por isso de novo.
Volto a olhar para o bebedouro e sinto a água fria transbordando na minha mão.
Tomo a garrafa molhada em meus lábios, matando qualquer possibilidade de desenvolver uma pedra nos rins.
— Bem-vinda, boneca
A voz no meu ouvido me faz engasgar e eu tento puxar o ar que perdi. Quem é o louco que sussurrou no meu ouvido?
Levanto minha cabeça, vendo um garoto loiro, alto e de olhos azuis. Suponho que faça parte do time de futebol pela jaqueta que está usando. Seus ombros são bem largos e uma cicatriz se destaca na sua sobrancelha.
Parece que minha alma foi embora e nunca mais voltou.
— Eu poderia ter morrido, sabia? — indago, furiosa.
— Você não morreria. Eu faria respiração boca a boca para te salvar — o garoto fala, se encostando no bebedouro.
Não tenho palavras para expressar a tamanha vergonha que estou sentindo agora. Não por ter gostado da cantada horrorosa dele, e sim pelo fato dele ter achado boa. Como um pateta desse pode ser tão convencido?
O loiro mantém um sorriso inabalável no rosto e se aproxima apertando minha cintura.
— Sabe, a gente poderia ir para um lugar mais reservado.
— Não, obrigada — recuso, tirando suas mãos indesejadas de mim.
— Fala sério, prometo que não vai se arrepender!
— Eu não quero!
A expressão dele não parece mais tão simpática. Preciso sair logo daqui.
— Eu gosto das difíceis, mas não estou com muita paciência hoje — o loiro me prende contra seu corpo e o lápis que prendia meu cabelo caí.
— Me solta, seu lixo!
É quase instantâneo. Uso minhas pernas livres ao meu favor e golpeio sua virilha.
O garoto geme de dor e eu me afasto. Infelizmente não consigo andar muito, já que em poucos segundos o loiro me agarra novamente.
— Desgraçada! — grita, apertando meu braço com força — Agora você vai aprender a se colocar no seu lugar!
Eu quero afastá-lo e gritar para alguém me ajudar, mas o som não sai. A mão do cretino adentra minha blusa e é nesse momento que o desespero toma conta de mim.
Me ferrei.
Bem, era o que eu pensava, até ver o vulto de um garoto empurrar o loiro no chão. O empurrão é tão forte que a cabeça do canalha que me assediou vai de encontro com a maçaneta da sala de química. O sangue escorre por sua testa, deixando claro que o impacto não foi fraco.
— Melhor sair daqui — o garoto de cabelos escuros diz, sua voz grave me causando arrepios.
— Tem certeza? — pergunto, torcendo para que ele diga sim.
— Não sei. Você quer ver eu arrancar as mãos deste filho da puta na sua frente?
Recado recebido.
Subo as escadas que levam ao refeitório com pressa.
Me recuso a olhar a cena grotesca atrás de mim, o barulho já é o suficiente para que eu tenha pesadelos durante uma semana.
Espero que ele fique bem. Não o loiro. Aquele idiota merece mais do que ficar sem as mãos. Só estou preocupada que o garoto que me salvou tenha problemas com a escola. Não vai ser fácil explicar uma agressão.
Fim do segundo capítulo.
O capítulo ficou um pouco curto, mas espero que gostem 💖
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A arte dos seus olhos
RomansaAlexa Morgan finalmente tem a chance de experimentar o ensino médio depois de anos estudando em casa. Sua vida parece tomar um rumo emocionante quando ela chama a atenção de Dylan Legrand, um misterioso garoto recém-chegado de Paris. No entanto, o d...