PRÓLOGO

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Duas linhas.

Jamais fui boba ao ponto de ignorar o que duas linhas em um teste de gravidez significavam.

Aquelas duas linhas representavam a minha ruína, uma vez que inevitavelmente esfregavam dolorosamente em minha cara impecavelmente maquiada que uma criança estava a caminho... e crescia em meu ventre naquele exato instante!

Encostei a cabeça a parede fria do banheiro e deixei o corpo escorregar até cair no chão, inerte pela loucura que me preenchia. As lágrimas tomaram meus olhos sem que eu pudesse segurá-las, levando-me a questionar se realmente aquilo era real ou apenas um sonho absurdamente confuso.

— Não pode ser, Ron. Você não pode ter feito isso comigo. — Sussurrei ao fechar os olhos e me dar conta do que tudo isso significava.

Não era uma criança desejada.

Eu sequer podia ficar com ela!

Levei a mão delicadamente ao meu ventre e nada senti, apenas um vazio imensurável por pensar que não existia espaço para um bebê na vida de uma advogada de renome como eu, principalmente agora que havia passado no concurso federal e assumiria um cargo de Juíza.

Todos me conheciam por ser uma defensora famosa e constantemente envolvida em casos polêmicos e que exigiam muito jogo de cintura para serem vencidos. Meu rosto era símbolo constante em marcas famosas e minha figura vendida como a de uma mulher empoderada e que jamais deixaria algo como uma gravidez inesperada acontecer e destruir tudo que, com muito custo, construí na vida.

Filha única de um pai solteiro que perdeu a esposa no parto, cresci sozinha e calada até nos mudarmos para a casa vizinha a da família Green. Papai trabalhava o dia todo e me deixava aos cuidados de uma babá idosa, que sequer conseguia dar conta de si mesma, quando conheci Gabriele Green no quintal e nos tornamos amigas através da cerca.

— Onde está sua mãe, adorável Hannah? — Meus olhos se encantaram pela silhueta jovem e feliz da senhora Green quando a conheci, ainda escondida do outro lado da cerca do quintal — Sou mãe da Gabriele e posso pedir a ela que deixe você brincar aqui em nosso jardim. Tenho certeza que será muito mais legal do que brincar com as madeiras entre vocês duas.

— Ela não tem mãe, mamãe. — Gabriele respondeu por mim, erguendo o rosto sardento para encarar a mãe, igualmente ruiva e de cabelos longos — A mãe dela foi para o céu.

— Oh, eu sinto muito... — Sua expressão era de quem realmente sentia.

— Mas tenho um pai — Falei um pouco altiva — E você pode pedir para ele, senhora Green.

— Grace. Me chame de Grace. — Nos encaramos longamente e senti sua pena me tocar em todo o ser.

Eu tinha oito anos quando Grace Green convenceu meu pai a me deixar brincar com Gabriele e fui pela primeira vez até a casa do outro lado da cerca alta de madeira. O lugar era lindo, acolhedor e repleto de crianças.

Doug era o mais velho, um garoto de treze anos que gostava de pregar peças em todos ao redor. Tinha cabelos longos e ruivos e um sorriso divertido.

Colin tinha dez anos e era muito inteligente. Passava a maior parte do tempo no grupo de estudos e confesso que eu já tinha o visto na escola, uma vez que meu maior passatempo era frequentar o grupo de estudos e a biblioteca.

— Meu irmão Ronald ainda não chegou. Ele é um chato e você não perde nada em não o conhecer... — Gabriele comentou enquanto tomávamos sorvete na varanda.

— Ele é seu irmão gêmeo? — Gabriele rodou os olhos na face sardenta.

— Infelizmente! Como você sabe? — Dei de ombros.

JOGANDO COM O DESTINOOnde histórias criam vida. Descubra agora