de coração para coração 🔞

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tinha remorsos sem saber bem de quê. desejava a estima dele quando não tinha mais esperança de que essa estima a beneficiasse. queria saber notícias suas e não tinha a menor esperança de que ele lhe escrevesse. e agora, que não havia mais probabilidade de encontrá-lo, estava convencida de que poderia ter sido feliz com ele — jane austen.

·˚.

Mais tarde, naquela mesma noite, Amaury decidiu que dormiria em sua casa de solteiro do outro lado da rua. Precisava pensar e julgava precisar também de privacidade. Mantinha dois criados na residência, pequena, apenas para quando precisava muito ficar sozinho e refletir. E naquela noite, precisava muito disso. Estava quente, e após o que pareceram horas no escritório, subiu para tentar dormir.

Havia alguns arrependimentos que carregava consigo, mas o principal era: deveria ter beijado Diego.

Ainda que achasse que isso apenas o faria sentir-se pior, julgava que era melhor se arrepender por algo que fez do que por algo que não fez.

Óbvio que sabia que o casamento aconteceria, era o que Diego queria, ou pelo menos, era o que queria Lady Martins. Como ele, Diego era devoto à mãe, então obviamente se casaria.

Amaury estava quase se cansando de sentir pena de si mesmo quando ouviu, na porta da frente, uma carruagem.

Não estava esperando ninguém, então levantou-se, vestindo apenas uma calça apropriada para dormir, sem camisa. Pela hora, preocupou-se que algo tivesse acontecido na casa Lorenzo, então não esperou que o criado o chamasse e levantou-se num pulo.

Não precisou descer as escadas para visualizar a visita inesperada no hall.

Era Diego.

Vestia uma capa que cobria sua cabeça, mas Amaury o reconheceu assim que ergueu o olhar. O menor pareceu incrédulo com a visão que estava tendo, com o homem descendo a escada com o peito desnudo. Isso o tirou de um transe, mas conseguiu ao menos falar.

— Preciso falar... Preciso falar com o senhor.

Algo no olhar dele denunciava certa urgência. Amaury assentiu, dispensou o criado e fez um gesto para que o menor o seguisse até seu escritório.

— O que pode ser tão urgente que não podia esperar até amanhã? — questionou, assim que entraram no cômodo.

As velas ainda estavam acesas, mas quase no fim, então havia pouca luz no local. Amaury sentiu-se extremamente exposto ao notar que estava sem camisa.

Parado no meio do cômodo, Diego o encarava como se visse uma estátua no Louvre, escaneando todo o corpo do homem à sua frente. Aquele olhar fez Amaury lembrar-se da sacada horas atrás e o quanto estava disposto a tê-lo ali mesmo.

— Diego. — exclamou, tirando o ruivo de um transe. — Diga. O que aconteceu?

O menor balançou a cabeça, como se precisasse colocar todos os pensamentos em seu devido lugar.

— Eu... Eu não quero me casar. Eu... — sua voz foi perdendo as forças, ele engoliu em seco. Parecia tremer.

Amaury se aproximou, numa preocupação transparente. Diego parecia mal respirar, as mãos estavam inquietas e a capa que usava foi retirada por Amaury, sendo largada sobre uma pequena poltrona.

— Calma, Diego. Você precisa respirar. Quer que eu peça ao Macoy para que traga algo? Chá, ou algo assim?

O menor negou, respirando fundo pelo que pareceu a primeira vez desde que chegara ali.

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