por dentro do escuro

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quando os prazeres daqueles que amamos estão em jogo,
às vezes a sua gentileza sobrepõe-se ao seu julgamento
— jane austen.

·˚.

— Sabe que não pode fugir para sempre, certo?

Esperava sua carruagem na frente do clube, acompanhado de Felipe. O duque insistia em não comparecer sequer a um baile, nem quando o baile em questão era oferecido na casa Lorenzo, a casa de seu melhor amigo.

— Bom, eu posso. Só não é muito educado fazer isso.

— E, ainda assim, o faz?

O duque riu. Amaury havia contado tudo a Felipe. Tudo mesmo, desde os acontecimentos recentes até o fato de estar nervoso com a possibilidade de ver Diego novamente, num baile. Jamais imaginou que confidenciaria coisas que ele mesmo não se sentia confortável em dizer em voz alta, mas Felipe era... Bem, Felipe. Quase um irmão para o visconde. Família.

— Bom, conquistador. — exclamou Felipe, segurando o ombro de Amaury. — Nos vemos na semana que vem, certo? Não beba muito no baile sem mim e, por Deus, não demonstre tanta ansiedade para vê-lo novamente. — balançou o visconde levemente. — Você está sendo óbvio demais!

Amaury tentou dizer algo, mas num abraço rápido, Felipe apenas riu e partiu, cambaleante.

O que ele queria dizer com aquilo, afinal? Amaury se questionou em todo o trajeto até em casa.

·˚.

O salão de baile estava, como sempre, florido e bem iluminado. A Viscondessa Lorenzo era conhecida por dar os melhores bailes da temporada, pela música, pelos convidados e, claro, pelo cardápio. Como regra social, não se bebia mais de dois drinks, nem se comia mais de um pedaço de bolo ou torta, mas nos bailes dados por ela, era simplesmente impossível seguir essa regra.

Ela contava com uma excelente equipe de cozinha e se orgulhava muito disso.

No canto do salão de baile, Amaury e Georgiana discutiam qual dos pratos estava, na opinião deles, ultrapassando as expectativas. Não era nada refinado o que estavam fazendo, e provavelmente levariam uma bronca da anfitriã, mas esta estava muito ocupada recebendo os convidados, de modo que eles podiam agir como queriam.

— Sinceramente, não sei dizer. — comentou o visconde, lambendo o chantilly do polegar, uma ação nada educada. — A torta de limão está muito boa, mas o bolo de chocolate... está igualmente saboroso!

— Não se esqueça do bolo caramelizado! — exclamou Georgiana, com a boca cheia. Uma atitude nada graciosa para uma dama em debut na alta sociedade.

Como um gavião cercando a presa, do outro lado do salão, Amaury sentiu o olhar de sua mãe em suas costas. Quando olhou para ela, pôde quase ouvir o que dizia, algo como "eu-sou-sua-mãe-sai-dai-agora-mesmo". Ele cutucou Georgiana, que notou o mesmo. Lentamente, ambos se afastaram da mesa de doces, como se de repente notassem que havia outras coisas mais interessantes para fazer.

Amaury, como de costume, seguiu a lista de damas que havia sido entregue para ele para que dançasse. Era algo tão corriqueiro nos bailes que ele não se importava mais, simplesmente seguia o que a mãe pedia — impunha — a fim de ter alguma paz.

Acontece que, desta vez, era diferente. Sabia exatamente com quem queria dançar, ou conversar, nos bailes. Se perguntava se Diego apareceria naquela noite, como seria vê-lo em público depois de tudo. Passaram a semana trocando correspondências, e se viram uma ou duas vezes no clube.

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