pequenos detalhes são mensuráveis

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é uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro, possuidor de uma boa fortuna, deve estar necessitado de esposa.

 — jane austen.
·˚.

Ser o único homem em uma família de quatro mulheres era, de longe, um fardo que apenas um visconde poderia suportar. Sua irmã mais nova e suas duas primas debutariam juntas. Era responsabilidade dele cuidar dos dotes, avaliar os pretendentes e garantir que todas se casassem bem. Podia não demonstrar o suficiente, mas amava cuidar do futuro de cada uma delas.

Sua irmã, Menah, era saudável e parecia herdar do irmão a facilidade em socialização e conversa fiada. Mesmo jovem, tinham a energia de uma tempestade de verão, daquelas que vêm com ventos que deixam todo o campo devastado e bagunçado. Depois da morte do pai, Amaury precisou tomar as rédeas de toda a parte burocrática da família, além de garantir a criação dela, e prestar suporte à mãe, a quem julga nunca ter se recuperado da perda. Faziam 15 anos, e a presença do pai se fazia sentir todos os dias pela enorme casa da família Lorenzo.

As duas primas, Emma e Georgiana, haviam se mudado para a temporada de bailes e, bem, podemos dizer que não eram tão diferentes de Menah, que já morava ali. Amaury se perguntava como sobreviveria em uma casa com tantas mulheres o lembrando diariamente que poderia haver mais uma ali, se ele se casasse logo.

Suspirou pesadamente, sentado na sala de estar, esperando a mãe passar instruções minuciosas à modista em relação aos vestidos do primeiro baile das meninas.

— Mãe, preciso ir. — anunciou, terminando de bebericar o chá e já se levantando para partir.

— Não precisa, não. — respondeu a viscondessa, fazendo o homem recostar-se na poltrona novamente.

Se perguntassem, ele negaria, mas havia sido uma tarde agradável com a mãe, e ao final pôde conversar com as meninas alguns minutos, o que era sempre um grande martírio, visto que o assunto era sempre o mesmo.

— Acho que ele deveria se casar com alguém que goste de música. — opinou Emma.

— Seria interessante! Ele toca piano, seria romântico! — Menah completou.

— Pois eu acho que ele deveria apenas se casar logo. Conhecendo-o bem, seria um milagre encontrarmos alguém que não o passe a perna. — emendou Georgiana.

Amaury revirou os olhos. Elas estavam no canto da sala, conversando alto o suficiente para que ele escutasse, e ele sabia disso.

— Eu acho que vocês três deveriam, no mínimo, respeitar minha presença aqui. — fechou o jornal de uma vez, levantando-se.

A mãe apenas ria, bordando o que pareciam ser lírios em uma toalha. Estava preparando o enxoval das meninas, cada uma possuía uma flor diferente. O visconde julgava ser cedo demais para isso, visto que não haviam ao menos ido ao primeiro baile da temporada, mas preferiu não comentar. Tudo que ocupasse sua mãe, tirando a atenção dele, já era de bom grado.

A morte de seu pai fora, ao mesmo tempo, súbita e inesperada. Ele não tivera a chance de fazer um último pedido ao filho mais velho antes de perecer. Mas, se não fosse assim, Amaury estava certo de que haveria pedido que cuidasse da mãe e irmã com a mesma diligência e afeição que Geraldo Lorenzo lhes dirigira.

— Vou passar no escritório e, à noite, passo aqui para busca-las. — deu um beijo leve no rosto da mãe e acenou para as meninas.

Seria uma noite e tanto acompanhá-las no primeiro baile delas, e ele tinha que cuidar para que a lista de dança pendurada em seus pulsos fosse minimamente descente.

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