o que eu mais quero

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nunca houve dois corações mais abertos
nem gostos mais semelhantesou sentimentos mais em sintonia!◞ 
— jane austen.

·˚.

Acordara com uma dor de cabeça terrível. Gostava de beber e acordar assim, sentindo essa dor latejante, quase como uma punição. Para seu desagrado, naquele dia se lembrava de exatamente tudo da noite anterior.

Vários flashes de imagens vinham à mente quando abriu os olhos tão cedo, flashes de sorrisos soltos, cabelos negros e cacheados, blusas de linho com botões abertos e excitação. Sim. Não era iniciante na arte de flertar e estava longe de ignorar o que havia acontecido e, mais, o fato de não ter sido repreendido ou afastado.

Havia certo magnetismo no Visconde Amaury que deixava Diego alerta, mas nunca hesitante. Dava para notar que o homem era completamente novo nisso, no entanto, não imune.

Ele era como Diego. Ainda que não soubesse disso.

E o ruivo, como um bom rapaz que se considerava ser, estava disposto a fazê-lo descobrir.

·˚.  

Não era um bom dia para aquilo, mas sabia que era inadiável. Amaury precisava urgentemente de mais servos na casa Lorenzo. A mãe sempre ficava encarregada disso, mas naquele dia, ele queria distrações, e nenhuma dessas distrações eram seus deveres habituais.

— Não acho que Georgiana precise de duas amas para ajudá-la a se vestir. O quão difícil é apenas se vestir?

— Filho, façamos o seguinte: eu não me envolvo com seus negócios de contabilidade, e você não se envolve com os meus assuntos domésticos, tá bem, querido?

Foi reprimido pela mãe, esta que carregava um sorriso que fazia parecer que suas broncas eram, na verdade, apenas sugestões.

Ele revirou os olhos, afundando-se na poltrona. Tinha tantos assuntos para resolver naquele dia, porém nenhum deles parecia interessante o suficiente e, na verdade, ele estava com uma ansiedade crescente.

— Não tem assunto para resolver em Londres?

— Está me expulsando da minha própria casa, mãe?

— Não, querido. Não é isso, eu apenas nunca o vi tão inerte. Há algo o preocupando?

Amaury demorou para responder, o que chamou a atenção da mãe. Ele queria falar sobre a noite passada, mas julgava que a mãe não era a melhor pessoa para ouvir sobre seus desejos mais profundos, então tratou de arrumar logo uma desculpa para seus devaneios.

— Acho que estou doente. — inventou.

— Oh, é mesmo? O que sente?

A viscondessa conhecia o filho bem demais para saber quando estava mentindo, mas entendeu que, se havia algo errado, ele não estava pronto para falar ainda. Então aceitou a resposta mentirosa por enquanto.

— Sim. Eu me sinto... Bom, não consigo me concentrar e sinto... uma dorzinha na garganta, sabe?

— Sei... Vou mandar preparar um chá de camomila para você.

Lançou um olhar de cumplicidade para o filho mais velho e saiu da sala, deixando-o com sua "dor de garganta".

·˚.  

— Está me dizendo que, como o deixei sozinho com o rapaz, a culpa é minha?

Felipe, o duque, não parecia nada chocado com tudo que Amaury havia contado. Ele tinha a língua solta, não conseguiria conter para si tudo que vivenciou na noite anterior. Precisava contar para alguém, e Felipe era seu melhor amigo, saberia o que fazer.

razão e emoção | dimauryOnde histórias criam vida. Descubra agora