The Wedding: There's Music in You

468 35 3
                                    

Depois de uma semana de apenas aulas de inglês no Centro de Artes, tudo o que eu queria era começar para valer as minhas aulas de escrita de roteiro, figurino, canto, dança e todo o resto que faz parte do currículo do curso de teatro musical. Mas essas vão começar apenas na próxima semana então tudo bem eu estar passando o meu primeiro final de semana na Inglaterra trabalhando em um casamento. Tudo bem mesmo! Até por que eu estou com a Polly, e Juan e eu já nos temos como bons amigos (já superamos a história Brasil x Argentina) considerando o fato de que tivemos todas as aulas de inglês até agora juntos.

— A cerimônia já começou, pessoal. — Jeffrey, o gerente do buffet, é um homem grande, alto e largo, de cabelos muito loiros, pele meio avermelhada e mãos gorduchas. Ele me entrevistou por vinte minutos e me deu a vaga ao perceber que eu não era nenhuma delinquente ou maluca. Provavelmente ser parente de Poliana ajudou. — Então eu quero todo mundo pronto para a recepção e em seus devidos lugares em cinco minutos.

Estou muito ocupada analisando o lugar para prestar atenção no que Jeffrey com seu sotaque britânico fortíssimo está dizendo. Polly me disse que esse na verdade é um clube de ricaços que foi fechado exclusivamente para esse casório. Várias tendas daquelas que possuem apenas o teto estão espalhadas pelo gramado verde para proteger os convidados do fraco sol londrino. Em alguma delas nesse instante os noivos estão fazendo os seus votos em frente a mais ou menos 300 pessoas. Violetas e fios de ouro são o grande foco da decoração. Incontáveis mesas redondas com toalhas com bordas rendadas estão dispostas à nossa frente.

— Jeffrey está mais paranoico que o normal. — Polly me puxa pelo braço para trás de um balcão e eu dou de cara com várias prateleiras espelhadas com todos os tipos de bebida alcoólicas, refrigerantes e sucos que poderia existir.

— Sério? – respondo tentando não esbarrar em nada. — Achei que ele fosse assim normalmente.

— Não! – Ela começa a separar os copos de vinho dos de champanhe em um movimento automático. — Quero dizer, ele é meio obcecado, mas revistar as bolsas de todos os funcionários três vezes é um pouco demais.

— Ele jogou meu spray de pimenta fora. — Faço um careta e dou de ombros quando ela me lança um olhar acusador. — Eu estou em uma cidade desconhecida, tenho que andar precavida.

— Você ouviu o que ele disse, né? — continua a falar, me ignorando totalmente. — Nada de celulares.

— Pode deixar, querida. — Pego algumas garrafas de vodca com cuidado. — O meu está muito seguro no bolso dessa calça cáqui.

— Só não o tire daí — Polly diz chacoalhando uma coqueteleira com as mãos.

— Não conheço ninguém aqui. Se não contar o despertador, meu celular não vibra desde que eu saí do Brasil. — Lembro-me da última mensagem que recebi e estremeço um pouco. — Poliana, você sabe que eu não sei fazer drinks, né? — pergunto em uma tentativa de mudar de assunto, mas também um pouco assustada com as habilidades dela.

Ela sorri jogando o líquido verde batido em um copo longo e o decorando com um pedaço de kiwi.

— Não se preocupe, deixa isso comigo. Mas você sabe sim! Você fez aquele curso de barman em São Paulo assim que fez 18 anos. Eu lembro.

Barwoman!— eu a corrijo me distraindo decorando alguns copos com pedaços de morangos. — E durou só uma semana.

— Então é hora de fazer essa semana valer a pena, afinal são 300 libras só essa noite.

Realmente o dinheiro era bom e bem-vindo. A quantia que eu tenho não daria sequer para quatro meses. E além de me manter aqui e guardar um pouco para o futuro, também quero mandar um pouco para os meus pais que estão até agora sem entender por que eu quis sair do país tão rápido. Eles não precisam exatamente da minha ajuda financeira, porém eu me sentia responsável e culpada.

— Pronta ou não, aqui vem eles — Polly diz abrindo um sorriso enorme. 

Essa era outra ordem de Jeffrey: sorria sempre, mesmo que seu cachorro tenha acabado de morrer.

Em menos de dez minutos toda a área externa que dava para um campo de golfe e um pequeno lago de patos, já estava cheia assim como a enorme tenda da recepção. Homens de smoking preto, cinza ou azul marinho e óculos escuros andavam com uma postura ereta e mãos nos bolsos caros e provavelmente cheios de dinheiro. Mulheres com vestidos em tons pastéis e penteados muito bem feitos os acompanhavam com sorrisos amarelos.

A parte boa é que poucos convidados iam até o bar. Não era necessário, pois havia tantos garçons servindo as pessoas que eu e Polly ficamos encarregadas de abastecer as bandejas para eles.

— Ahh! — Quase deixo cair a garrafa de "José Cuervo" que eu estava segurando com o gritinho de Poliana. — Olha ali, Lua. A noiva!

Os noivos passam de mesa em mesa cumprimentando os convidados. A noiva é uma mulher de meia-idade de cabelos castanhos avermelhados que estão presos em um coque meio solto. Uma tiara fina com um laço de lado cravejado com pedras brilhante dá o toque necessário no penteado. O vestido, todo rendado, tem as mangas soltas e largas e um decote em "v".

— Eu conheço essa mulher — solto do nada ainda encarando a noiva que sorri largamente só que, ao contrário do nosso, o sorriso dela é sincero e de pura felicidade.

— Como assim? — Polly pergunta já está de volta aos coquetéis. — Ela é famosa? Por que ouvir dizer que ela tem um filho famoso, mas não sei se ela é também.

Mordo os lábios ainda olhando os noivos. Apesar de sentir que já vi essa mulher em algum lugar, não consigo me lembrar de onde. Tento repassar todos os filmes ou celebridades que eu conheço em poucos segundos na minha cabeça, mas é impossível.

— Não sei — digo, por fim, voltando a trabalhar. — Talvez eu esteja confundindo.

Mas eu não estou confundindo e em menos de um minuto eu entendo. Meus olhos capturam uma movimentação algumas mesas à frente. Um grupo está se acomodando nas cadeiras. Todos parecem muito jovens e incrivelmente bonitos, uma beleza um pouco acima da média até para os ingleses em geral. Meu cérebro começa a trabalhar um pouco mais rápido e eu encosto os copos no balcão. De repente todo mundo me parece um pouco familiar: o loiro de cabelos arrepiados e pele branquíssima, por exemplo, que solta risadas altas e conversa com todo mundo. O outro de pele um pouco mais dourada do que a dos outros, elegantemente vestido com um terno preto de alta costura, os cabelos castanhos um pouco raspados deixando apenas um topete. Um deles usa uma combinação meio estranha para um casamento; chapéu sobre os cabelos enrolados, óculos escuros, camisa social preta com vários botões de cima abertos deixando a mostra seu tórax e um pedaço de uma tatuagem no abdômen que parece demais uma borboleta.

Espera. 

— Puta merda.

Polly me olha horrorizada ao ouvir o palavrão, mas já é tarde demais porque já estou sentada no chão atrás do balcão, escondida do mundo, com as costas apoiadas na parede e os olhos fechados com força.

— Lua? — Ouço Polly me chamar, mas não consigo me mexer. — Lua? — Sinto ela se abaixar ao meu lado e me chacoalhar de leve. — O que foi? Você tá tendo algum tipo de ataque de pânico?

— Não — balbucio. Meu coração parece uma escola de samba e minha respiração está fora de ritmo. Isso é ridículo. Sinto-me ridícula, mas não consigo controlar o meu corpo. — Eu... Eles...

Pigarreio um pouco e respiro fundo. Tenho 21 anos e estou trabalhando em Londres. Não tenho mais idade para ter um ataque desse tipo.

— Quem? — Poliana pega meu rosto com as duas mãos e vira a minha cabeça em sua direção. — Responde, droga!

— One Direction.


De Lua, com amorOnde histórias criam vida. Descubra agora