Consigo ouvir perfeitamente os acordes do piano acompanhado pela voz aguda e vibrante de Amanda. Ela está há poucos metros de mim, em pé ao lado do instrumento, ensaiando pela primeira vez um dos seus solos de Wicked. A Sra. Higglan é a pianista e o resto da sala só observa, todos sentados no tablado. Alguns conversam entre si através de sussurros, outros atentos demais nas próprias partituras e textos.
Estou pensando em como será quando eu tiver que cantar pela primeira vez alguma música da Elphaba na frente de todo mundo, mas uma movimentação do meu lado interrompe minhas divagações. Olho para o lado e reconheço o amontoado de cabelos castanhos antes mesmo de descer os olhos para o rosto de Dylan. Ele se senta, as pernas dobradas e os braços apoiados nos joelhos. Olha pra mim e eu forço um meio sorriso por educação antes de virar para a direção do piano.
— Então... — ele começa a falar com a voz bem baixa. — Estava pensando que a gente precisa resolver isso. — Viro para ele sem entender. — Senão o Mantello vai perceber que você me odeia e isso... — Dylan faz um gesto com as mãos apontando para o resto das pessoas. — Não vai funcionar.
Ele encara os próprios tênis.
— Eu não odeio você — digo depois de abrir a boca várias vezes. Dylan só balança a cabeça, mas eu noto sua descrença. — Sério eu não odeio você. Meu Deus!
— Tem certeza?
Agora ele vira pra mim.
— Por que eu odiaria você?
— Não sei. — Dylan passa os dedos pelos seus fios, os bagunçando um pouco. — É uma boa pergunta, na verdade. Você deveria se perguntar isso.
E então ele vira pra frente, focando a atenção na garota cantando os versos de "Popular". Eu não desvio o olhar do rosto dele tão rápido por que, por mais que eu realmente não o odeie, sei que venho dando motivos para fazê-lo achar que sim.
— Eu estou aqui graças a você, eu acho. — Ele não olha para mim de imediato, mas eu sei que ouviu. — Eu cantei "What the Fuck" na audição e aparentemente deu certo.
Lentamente um sorriso se abre nos lábios dele.
— Esse é o seu jeito de dizer obrigado?
— Esse é o meu jeito de dizer que não te odeio. — Apoio as costas na parede e trago para mais perto a minha mochila que estava estirada na minha frente. — Me desculpa se eu dei essa impressão.
— Você não consegue nem me olhar direito por mais de cinco segundos.
Apesar de falar ainda sorrindo, a voz dele soa um pouco quebrada e magoada. Tenho vontade de bater com a minha cabeça na parede porque ele não tinha feito nada pra mim.
— Lembra daquela pessoa que eu te falei no dia que a gente se conheceu? — indago, passando os dedos pela alça da minha mochila nervosamente. O vejo concordar e continuo: — Acho que você me lembra um pouco ele.
Dylan muda de posição, dessa vez virando o corpo todo na minha direção. Ao fundo consigo ouvir a voz de Amanda atingindo algumas notas impossíveis.
— Aquele idiota? — Ele parece verdadeiramente ofendido. — Você está me dizendo que eu lembro um cara que você odeia?
— Não odeio ele — bufo
— Você não odeia ninguém, pelo jeito. — Ouço ele resmungar do meu lado.
— Você me lembra ele fisicamente. Não... Acho que é o seu jeito. Não sei.
Fico meio frustrada porque tinha acabado de perceber aquilo. Eu sabia que tinha algo em Dylan que me irritava, mas não tinha notado o que.
— Foi mal — ele diz.
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De Lua, com amor
FanfictionNasci em uma noite de outono. Minha mãe diz que no caminho para o hospital a única coisa que conseguiu distraí-la das dores das contrações foi a lua cheia, laranja e gordinha que brilhava no céu. Ela estava tão grande e majestosa naquela noite que...