De Lua, com amor

The Bitch of Living

Eu devia saber. Devia saber que as coisas não iam ficar naquela calmaria por tanto tempo. Mas até encontrar Polly - em um clube de golfe de luxo onde seria o trabalho de hoje - eu realmente achava que as coisas iam ficar bem por algum tempo.

A encontro na área externa, onde alguns funcionários estão arrumando as mesas. Poliana está organizando algumas coisas no bar, mas para assim que me vê. Eu me aproximo já estranhando o olhar avaliador dela sobre mim.

— E aí?

— Oi. — Ela força um sorriso que morre em poucos segundos. Poliana fala de mim, mas ela também não é muito boa em esconder quando alguma coisa está errada. — Você está bem?

— Sim. Ótima. — Talvez eu esteja exagerando um pouco porque eu nunca estou ótima.

— Que bom. — Polly sorri de novo e dá as costas pra mim.

Ela começa organizar algumas garrafas de champanhe nas estantes do bar e eu a observo atentamente

— O que foi? Algum problema com o Jeffrey?

— Jeffrey está bem. Na verdade ele está menos tirano hoje do que o costume — ela responde ainda de costas.

— Então é o Stuart? Vocês brigaram?

Polly se vira pra mim de repente. Os olhos verdes e as mãos meio agitados.

— Stuart é um banana, mas eu não tenho coragem de brigar com ele.

— Então o que é?

Ela solta um suspiro cansado.

— Você entrou no twitter hoje? Ou em alguma coisa que tenha a ver com a internet?

Ah não. Ah não. Ah não.

É tudo o que penso enquanto caço o meu celular na mochila. Ela nem precisa dizer mais nada, porque toda vez que ela começa falando sobre twitter ou internet eu já sei que alguma coisa aconteceu. Só preciso descobrir qual o tamanho do estrago.

Enorme.

— Eu tenho 10 mil seguidores. — Falo baixo pois não quero chamar a atenção dos outros funcionários porque obviamente eu não poderia estar com o celular ali. E por estar nervosa, claro. — Como que eu passei de 150 pra 10 mil seguidores?

— Hum... — Polly aperta os lábios. — Acho que... Que tem umas fotos suas...

— Quê? Que fotos? — ela não responde de imediato, apenas me olha com uma expressão de pura piedade — Poliana, fala de uma vez!

Ela pega meu celular e começa a mexer nele. Minhas mãos estão um pouco suadas e eu sinto uma vontade imensa de me sentar. Quando Poliana me devolve o celular e eu vejo ao que ela estava se referindo, eu sento mesmo. Ali, no chão, do lado do bar, correndo o risco que Jeffrey passe e tropece em mim.

— Eu acho que viram você saindo do prédio dele ontem. — Eu escuto a voz de Polly bem do meu lado. Acho que ela se sentou também, mas estou ocupada demais olhando as fotos.

Era exatamente aquilo o que tinha acontecido. Tinha fotos minha e do Liam chegando no prédio dele e fotos minhas saindo horas depois.

— Não.

— E eu acho que as pessoas perceberam que é a mesma garota que está com ele nas fotos dele no Centro de Artes, lembra? — Polly fala baixo, como se quisesse me consolar. Eu balanço a cabeça para dizer que sim, eu lembro, claro que eu lembro.

Continuo olhando para o celular, meus dedos tocando a tela devagar enquanto eu vejo meu rosto de vários ângulos. Eu não me lembro de ter visto ninguém tirando foto nenhuma quando eu cheguei na casa do Liam e muito menos quando eu saí, mas acho que esse era um dos requisitos para quem quisesse ser paparazzi: ser invisível.