Dores

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Um mês havia se passado desde que Alane tinha dado o primeiro passo para a vida de Fernanda e mudado ela por completo. Elas estavam de alguma forma felizes e aliviadas por tudo estar dando certo até então, as crianças amavam Alane que as amava de volta. Ambas estavam deitadas na cama, apenas apreciando o amanhecer quando o celular de Alane tocou assustando-as. Fernanda não conseguia ouvir o que estava sendo dito, porém pela cara de Alane não era coisa muito boa. A bailarina desligou o celular, virando para Fernanda com os olhos aguados e enterrou a cabeça em seu peito "O que foi, meu bem?" Fernanda passou a mão nos cabelos castanhos de Alane fazendo-a aconchegar-se mais em si enquanto soluçava em choro "A minha mãe..." fungou fazendo com que Nanda fizesse uma cara de nojo, logo em seu pijama "Ela está no hospital" levantou a cabeça para olhar para Fernanda "Eu preciso ir vê-la, Nanda, eu preciso" a menor assentiu "Eu vou com você" disse sentando na cama e encostando na parede, puxando Alane para seu colo "Não precisa, meu amor" Fernanda franziu o cenho, odiava ser chamada de 'meu amor' por Alane desde que começou a virar um apelido recorrente em seus stories falsos "Sim, eu vou, mas por favor não me chame assim, você sabe que eu odeio" respondeu limpando as lágrimas do rosto de Alane "Mas-" foi interrompida "Não vou deixá-la sozinha. Não vou deixá-la afundar-se em culpa, em dúvidas, em dores. Eu te conheço, Alane. Você não se importa com nada além da felicidade dos outros, então sequer é seu direito reclamar de mim a essa altura" a bailarina estreitou os olhos, orgulhosa e temerosa ao mesmo tempo por chamar-lhe a atenção "O que quer que aconteceu não foi culpa sua. Não a deixarei sozinha para sofrer ou tentar transferir esse peso para seus ombros, Ficarei com você" Fernanda disse firme.

Alane não respondeu. Sentiu apenas os próprios olhos marejarem novamente e, impulsivamente, agarrou-se ao abraço acalentador de sua namorada falsa, finalmente permitindo que todas as lágrimas derivadas do que estava ocorrendo escorressem. Estava frágil. E Fernanda sabia, via em seus olhos. E permaneceria ali, consolando-a, ao seu lado, por quanto tempo fosse necessário. Enquanto, em seu interior, mantinha a chama da esperança acesa. Voltariam para Belém e voltariam pra casa com tudo resolvido.

Fernanda vira que Alane tinha pego no sono novamente. Nanda, por um momento, considerou mandar mensagem para os produtores e ter a informação do que havia acontecido com a mãe de Alane, contudo mudou de ideia ao ver o rosto exposto de Alane com sofreguidão nos olhos, como se tivesse tendo um sonho angustiante. Também sabia o que era cometer um erro com alguém que lhe é querido, não queria perder a bailarina, por mais que custasse admitir. Sabia o que era sentir vergonha e desejo de reparação. Um erro derivado de uma besteira dessa que precisaria ser consertado. Sabia também que Alane se orgulharia se pudesse vê-la buscar uma solução através do amor e não da guerra. Mais uma vez percebia que tudo, absolutamente tudo, havia mudado dentro de si.

Apesar de sua exagerada preocupação com Alane e sua mãe, lamentava também  por constatar que ela e sua bailarina quase nunca tinham uma paz duradoura além da que naturalmente tinham em seus interiores uma com a outra, Nanda jamais imaginou uma sensação tão maravilhosa. Pensou que deveria ter pedido isso à Deus há muito tempo, pois era refrescante, emocionante, apavorante e extasiante, tudo ao mesmo tempo. Se pegou pensando, enquanto fazia suas malas e de Alane, no tempo que passara voando, o quanto conviveram juntas e o quanto brigaram juntas. Riu sozinha. "Nanda..." Alane se espreguiçou "O que você está fazendo com esse pijama minúsculo e uma mala na mão" Fernanda riu "Nossas ma-" não conseguiu concluir a frase. Alane perdeu completamente o controle olhando-a de costas, agarrando-a pela nuca para um beijo desestruturador. As roupas que ainda estavam nas mãos de Fernanda, finalmente foram ao chão quando, num rompante, a mesma correspondeu ao gesto enlouquecido. Ambas ardendo, como se estivessem saciando uma saudade de quase vinte anos.

A insanidade consumia Alane, a garota apoderava-se de seus movimentos, de seus dedos, de sua língua e ainda pior: De seu coração. Quando dá-se conta, está com as unhas praticamente fincadas na cintura de Fernanda, erguendo-a para sentar-se na mesa que havia no quarto colocando-se entre suas pernas "Alane..." Nanda chamou mas foi ignorada. Os papéis foram ao chão em desordem e suas mãos vão parar nas coxas de Fernanda já expostas "Acho melhor... melhor pararmos" Alane não falava, não se comunicava, falar a tiraria do transe "Alane!" a mais velha empurrou a bailarina pelos ombros "Eu sei que você está sofrendo, eu entendo sua dor e eu queria poder arrancar ela e trazê-la para mim" disse e Alane virou de costas para ela, emburrada "Não seja assim..." Fernanda desceu da mesa e virou Alane para si "Nós vamos resolver isso, ok? Não é assim que se resolve as coisas" Alane assentiu minimamente e Nanda deu um beijo em sua testa "Agora vem me ajudar a arrumar nossas malas"

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Saibam que eu adoro vocês, hein. haha 😰

Epílogo do tempo | FERLANEOnde histórias criam vida. Descubra agora