Casa

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Chegaram tarde em Belém. Ao avistar sua cidade natal, Alane repousou a cabeça no ombro de Fernanda, Alane por um momento, um momento finito e sem precedentes, Alane permitiu-se esquecer-se. Esqueceu-se do contrato, da mãe, da família do destino que estava. Sobre o ombro de Fernanda, com o vento alto esvoaçando ao lado da janela, conseguia ver as asas do avião mexerem. Jamais pensou que poderia voar através das nuvens, tão mais perto das estrelas. Mas o devaneio sumiu tão rápido quanto veio, a emoção inigualável lhe atingiu, involuntariamente tocou a mão áspera de Nanda entrelaçando seus dedos, sorrindo fraco de olhos fechados. Fernanda nada poderia dizer, mas sentiu o toque suave sobre si e sua resposta foi abraça-la forte olhando para a lua rasgando o céu noite adentro.

Chegaram por volta das 3h da manhã em Belém e Alane já teimava que queria ir direto ao hospital, mas Fernanda não permitiu. Ela precisava dormir antes.

Se aconchegaram na cama do hotel "Amanhã cedo vamos direto ver sua mãe, eu prometo" Alane franziu o cenho, mas não respondeu. Deitou-se ao seu lado, com a cabeça sob o mesmo travesseiro e os corpos tocando-se suavemente. Ambas sorriram uma para outra, para depois fecharem seus olhos, mudas. O sono aproximou-se lentamente, levando-as para outros mundos. Mas a dura realidade é o despertar amargo dos sonhos bons.

Há duas horas Fernanda observava a morena adormecida com os primeiros raios tocando seu rosto. Levantou-se vagarosamente, procurando seu celular, mas achou o de Alane primeiro e ela sabia a senha, nunca tinha dado indicação ou vontade de olhar o celular da garota. Até agora. Quis lutar. Quis lutar com todas as suas forças e destroçar toda aquela vontade de dentro de si, queria aniquilar aqueles homens que a olhavam com desdém quando a fizeram assinar o contrato. Queria flechar o coração de cada um daqueles trastes que se consideravam e faziam-se passar por homens de honra com mentiras e falcatruas. Mas não pôde: A vida da mãe de outra pessoa  estava na ponta da espada. Não poderia permitir-se perder mais ninguém. Então ela olhou, ela precisava saber com o que estava lidando. Câncer de mama.

Alane despertou tocada pelo indócil sol da manhã. Seus olhos sensíveis acostumaram-se a claridade, esfregou-os enquanto espreguiçava-se e bocejava algumas vezes antes de sentar-se para ver-se sozinha na cama "Nanda?" olhou-a e viu algo em sua mão "Nanda o que está fazendo?" se apressou para levantar da cama. Fernanda sumiu de seu próprio corpo, as palavras pareciam distantes. Transportou seus pensamentos para dias agradáveis, onde ela provara seu valor com amor. Mas ao ver o que tinha feito, com Alane logo atrás de si, soube novamente que não poderia vencer dessa vez com uma luta. Deveria ter acordado-a, deveria ter confiado em Alane. Mas não pôde, não foi capaz. E ela já imaginava o porquê "O que você esta fazendo com meu celular, Fernanda?" a mais velha virou-se para Alane "Voltamos para os nomes completos então" Alane riu de raiva "Eu vou perguntar mais uma vez" puxou o ar com força "O que você está fazendo com meu celular?" este era o ponto final, onde a batalha havia sido perdida. Fernanda ficaria condenada pelo resto de seus dias a viver como uma solitária desvalorizada e triste, sempre com sua família sob ameaça. Sua garganta queimou. Queria gritar, queria gritar para que Alane a entendesse, mas quase podia ouvir as batidas do coração da bailarina, fortes e descompassada "Se eu não falei nada é porquê eu não consegui!" gritou e Nanda baixou a cabeça "Você não me deu tempo de processar o que está acontecendo e já vai mexer no meu celular? Não confia em mim?" bateu o pé com força no chão. Fernanda nada disse.

"Eu vou pra casa" arrancou o celular das mãos de Fernanda "Depois vou no hospital visitar minha mãe, você fica aqui" Fernanda suspirou e passou a mão pelos cabelos "Não posso, ainda temos que fingir, Alane" disse "Pois finja, depois volte para o hotel sozinha. Não era pra você saber, minha mãe é uma mulher orgulhosa, quanto menos pessoas souberem melhor. Pelo bem estar dela, você não sabe de nada!" Fernanda concordou com a cabeça.

O caminho até o hospital foi feito em absoluto silêncio. As estradas estavam silenciosas e todos estavam dormindo. Após ambas entrarem e flagrarem a mãe de Alane sorridente conversando com uma enfermeira, deixando-a imediatamente envergonhada ao ver a filha no estado que estava "Oi, minha filha" andou até a garota segurando o rosto dela com as duas mãos "Está tão magrinha e essas olheiras, você não tem cuidado dela, Fernanda" Aline disse fingindo braveza "Eu-" Fernanda tentou responder "Eu estou bem, mamãe" Alane cortou Fernanda e abraçou a mãe com força "Venha vou te levar pro quarto" segurou a mão de sua mãe "Fernanda espera aqui. Alane trancou o quarto com ela e a mãe dentro, aliviada por Nanda fingir não saber, ou ao menos não ter se manifestado.

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Fernanda 🤝🏻 Alane serem extremamente dramáticas quando se trata da vida pessoal delas

Epílogo do tempo | FERLANEOnde histórias criam vida. Descubra agora