Consciência

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Acordaram-se grudadas na cama, Alane com a cabeça encostada no peito de Nanda que afagava seus cabelos de leve "Por que você é assim?" Alane perguntou virando e olhando para Fernanda "Elabore" respondeu levantando uma sobrancelha, desconfiada. Alane riu. O riso da bailarina era como o calor de um sol ameno no coração da Nanda e ecoou em seus ouvidos como uma sublime sinfonia "Eu não sei" Alane deu de ombros "Irresistivelmente teimosa e mandona" Fernanda gargalhou e levantou da cama seguida por uma Alane despida, pelo menos ela ainda estava de roupa quando a matriarca bateu na porta e entrou sem ser convidada "Eu vim-" Aline riu com a cena "Eu só vim dizer que estou indo ao hospital novamente" Fernanda estava paralisada, não conseguia mover um dedo sequer.

"Tenham um bom dia" Aline disse. Ambas devolveram o cumprimento e Alane finalmente abriu um sorriso, mas agora encolhida atrás de Fernanda. Pegando-a de surpresa, entrelaçou os braços em sua cintura, abraçando-a por trás e pousando o queixo em seu ombro, sem desmanchar o sorriso terno "Tá bom, mãe" disse "A gente se vê lá, ok?" Aline entendeu as entrelinhas "Ok, ok, vou saindo" deu um passo para trás e fechou a porta. Alane relaxou levemente os braços na cintura de Nanda que ainda piscava atônita "Que porra foi essa?" xingou quando voltou sua consciência "A gente não trancou a porta" Alane respondeu "E pelo menos a pelada era eu e não você" riu "Você tem um ponto" Fernanda respondeu virando-se se dentro do abraço, puxando Alane pela nuca para um beijo surpresa, imiscuindo os dedos em seus cabelos, calando-a de seu desconserto. Alane jurava estar flutuando em outros universos enquanto era, como sempre, domada em seu toque. Quando Nanda a libertou, a boca da bailarina estava tingida de vermelho, assim como um caminho pelo queixo por onde os lábios da mais velha deslizaram mordendo. Com um sorriso encantado e os olhos zonzos, nada mais tinha a dizer.

"Agora estou com fome" Fernanda disse e Alane a olhou maliciosa "Não assim" Nanda corou "Quer dizer, assim sim, porém não agora" riram em conjunto quando o estrondo baixo da barriga de Fernanda pôde ser ouvido por ambas. Guiaram-se pela casa já invadida pelo nascer do sol, onde Fernanda sabia que Alane quereria experimentar tudo, saborear tudo e, acima disso, entusiasmar-se com tudo. A mais velha a analisava com curiosidade e encanto. Era como se tudo que Alane comesse fosse um deleite e uma experiência de vida que ela jamais se esqueceria. Uma característica que ela descobriu ao saírem do programa. E foi exatamente como imaginava. Doces, bebidas, tortas, pães, frutas, tudo, tudo a bailarina fez questão de provar e fechar os olhos, conquistada pelos tantos sabores e combinações. Quando finalmente acabou e relaxou os ombros, satisfeita, Fernanda riu enquanto usava um lenço para limpar ao redor de seus lábios melados de geleia "E eu achei que eu que estava com fome" comentou.

Haviam chegado no hospital a menos de uma hora quando repentinamente, todo o hospital entrou em festa. Fernanda riu trazendo Alane para o aglomerado, livrou-se da capa de chuva que usava e que a cobria para revelar-se sorridente. Assim como todos os presentes, inclusive as namoradas, Alane esqueceu-se de respirar. Ainda mais com os braços estendidos abraçando Nanda de lado e um sorriso débil desde que Fernanda deixara a capa de chuva em outra sala, podendo assim ver suas roupas pouco molhadas, porém coladas no corpo.

Alane observou atentamente uma médica dirigir-se ao centro da grande sala principal "Hoje mais que nunca temos um anuncio fazer" começou a enfermeira "Aline está com nós há mais ou menos um mês e achamos que essa seria a hora certa de contar para todos, principalmente para sua filha que se encontra aqui conosco" continuou "Na data de hoje nós conseguimos uma vaga para sua mãe no Rio de Janeiro, Alane" a enfermeira encarou uma Alane de boca aberta e olhos molhados, não era real, como eles conseguiriam isso tão rápido? Uma pessoa veio em sua mente "Você fez isso?" Alane perguntou e Nanda só assentiu "Por que?" estranhamente Fernanda tornou-se confiante. Se dependesse dela, todos os dias teriam uma nova declaração ou uma nova surpresa. Havia milhares de palavras que ainda não havia proferido para ela, milhares de pequeninos encantos que gostaria de lhe oferecer.

"Porque eu te amo, Alane" limpou uma lágrima e abriu um sorriso "E eu te conheço, sei que não descansaria até estar mais perto de sua mãe" impulsivamente, Alane atirou-se em seu abraço, perdida em seu aroma e quentura, incapaz de expressar-se diante de suas confissões. Saber que sua Nanda estava disposta a permanecer com ela lhe era surreal. A viagem que temeu ser um ponto onde ambas decidiriam o que viver pela frente era, na verdade, apenas uma confirmação do que seus corações já tinham plena consciência.

Epílogo do tempo | FERLANEOnde histórias criam vida. Descubra agora