Penúltimo

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Voltar para Niterói foi quase como que uma faca estivesse sendo cravada no peito de Alane, mesmo sabendo que logo a mãe estaria perto dela "Está tudo bem?" Nanda perguntou preocupada e a  bailarina assentiu, puxando-a para si para depositar o pequeno embrulho na palma de sua mão. Trocaram um olhar significativo. Fernanda sabia que Alane ainda estava tendo dificuldade em deixar sua casa, mas ali, naquele exato momento, parecia exatamente a sua bailarina, fitando-a em expectativa. O pano de veludo, ao ser tocado por seus dedos, revela a jóia. Fernanda estremeceu, boquiaberta. Nele, um anel prateado com uma pedra de jade cravada. Admirou sua beleza, alternando o olhar da pedra reluzente para os olhos prediletos dela lhe encarando em ansiedade "O que significa isso?" Nanda disse segurando a joia em seus dedos "O que você quiser que signifique" Alane respondeu encarando suas próprias mãos "Quer coloca-lo em mim?" Alane finalmente suspendeu o olhar para ver Fernanda sorrindo grande, um sorriso que Alane havia visto poucas vezes. Nanda estendeu-lhe a mão, compartilhando de seu desconserto. A bailarina muito lentamente segurou o anel e posicionou-o em seu dedo, quase suando frio. Olhava dentro de sua imensidão castanha que eram os olhos de Fernanda, encaixando delicadamente a jóia como se fosse feita especialmente para ela.

De repente, o brilho da jade quase as cega por causa do sol. Iluminando um pouco a fachada da casa de Fernanda, como uma estrela cadente ilumina a escuridão do céu noturno. É forte, mas aconchegante. Gradativamente, como se regressasse à pedra, a luz diminui, até que seus olhos se encontraram novamente, não surpresos, mas em plena felicidade. As mãos de Fernanda seguram o rosto da garota com a devoção de quem segura o bem mais precioso do universo.

"Isso está acontecendo de verdade?" Alane disse. Fernanda intensifica seu sorriso, impulsionando-se para frente, beijando-a. Pega de surpresa, Alane arregala os olhos, para em seguida fechá-los lentamente, rendida pelo beijo devorador de Nanda. Sai de um estado de entorpecimento para entrar em outro ainda mais enlouquecedor "Sim" Fernanda respondeu ao soltar-se da jovem "Venha vamos entrar, as crianças estão com Gabriel"

Ao finalmente entrarem em casa Alane relaxou colocando o braço levemente na cintura de Fernanda, refletindo sobre suas palavras O que aquilo significava? Nem ela mesma sabia ao certo "Vamos dormir? Já são 4 da manhã" Fernanda comentou mexendo no seu anel, Alane concordou com a cabeça. Mesmo ainda em temor, Alane sorriu adoravelmente, aconchegando-se nos braços para assistir o começo do espetacular amanhecer. Nanda compreendia perfeitamente seus receios, visto o quanto sua bailarina sofreu para que chegassem até ali. Caberia a ela, agora, mostrar-lhe que cada uma de suas palavras era verdadeira, assim como o seu tão imensurável amor.

Velando o sono de Alane com carícias suaves, a confeiteira passou a refletir brevemente sobre sua trajetória. E que vida degustou até ali. Quantas mudanças, quantos pesares, quantos renascimentos. E o mais importante: Quantos mergulhos. Coberta pelas estrelas, acariciando os cabelos escuros da bailarina adormecida em seu colo, cada memória é um tesouro redescoberto nos fundos de seu imenso oceano, palco de uma batalha que jamais se esqueceria: A que travou contra seus próprios demônios, sua própria escuridão. Compreendia o que Alane dizia sobre as pessoas serem suas próprias salvações. Fernanda levantou-se o mais sorrateiramente possível, indo em direção a porta do quarto até a sala, se jogando no sofá. Fernanda ao recordar-se do sofrimento estampado no rosto da garota, quando debatia consigo mesma, repreende-se novamente. Não deveria jamais tê-la deixado sentir-se culpada ou egoísta, pois egoísmo era a última característica que poderia ser atribuída à Alane. Era justamente o contrário, a bailarina sempre esteve disposta a abdicar de tudo pelos seus, até mesmo da própria vida. Nanda jamais se esquecerá do dia em que Alane quase a deixou. Nunca se esquecerá de como foi vê-la afogando-se nas próprias lágrimas, nos braços da mãe. Como ela poderia sequer ter pensado em voltar para sua vida antiga quando descobrira o significado de "lar" somente depois de conhecê-la? Depois de conviver com a sua bailarina?

"Fernanda?" ouviu seu nome sendo chamado no final da escada e andou até uma Alane apenas de roupão "Por que eu sempre acordo e você nunca ela lá comigo" choramingou fazendo Fernanda sorrir de lado "Você não gosta de dormir comigo? Eu posso dormir no colchão se-" Fernanda impediu-a de continuar argumentando. Foi tomada por um desespero do íntimo que a faria compreender que a bailarina a escolheria em qualquer circunstância. Espalmou uma mão no peito e imiscuiu a outra nos longos fios castanhos, beijando-a. Alane que costumava ser tão mais contida, capturou Fernanda.  Atravessando todas as portas de timidez e receio que a separavam dela, às pressas tirou sua camisola. O roupão foi atirado no chão. Tudo sob o olhar agora temeroso de Alane. Fernanda estava nua diante dela, ofegante e com um olhar de fogo que Alane já havia visto uma vez. A bailarina não estava raciocinando. Sabia o que desejava, o que necessitava. E isso era tudo. Voltou a se aproximar, beijando-a lasciva novamente, profundamente.

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Bjs da autora

Epílogo do tempo | FERLANEOnde histórias criam vida. Descubra agora