Devolva ela pra mim.

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Os raios de sol da manhã brilhavam fervorosos, e Marcus encontrava-se em sua cozinha, passando café e desfrutando de um donut, enquanto Gabrielle, no outro cômodo, se cercava de um perfume de flores exóticas, enquanto ajeitava o comprido e luxuoso vestido que caía sobre seus pés calçados em um Saint Laurent.

Marcus e Gabrielle saíram de sua casa bem arrumados e se dirigiram ao carro, ambos em silêncio, até que Marcus quebrou o gelo.

— Estou ansioso para a nossa conversa com os pais. — Ele disse fazendo um sorriso cúmplice.

Gabrielle olhou para ele e riu.

O carro seguia tranquilamente em direção à residência dos pais de Gabrielle, mas a tensão do encontro se fazia sentir a cada passagem de rua.

Enquanto entravam em seu condomínio, a exaustão emocional de Gabrielle estava começando a se sentir com sua garganta seca.

Marcus sentia o olhar tenso de Gabrielle, e entrou no personagem do comediante, falando para ela:

— Tá com cara de um homem que vai ver o sogro pela primeira vez.

Gabi se deu conta de que isso foi o que precisava e se permitiu rir do seu próprio nervosismo.

— Você sabe exatamente o que dizer na hora certa, né, Marc?

A chegada de Marcus e Gabrielle à casa de seus pais seguia-se a um abraço de quatro braços, beijos na bochecha e um cheiro delicioso de comida que só sua mãe sabia fazer.

Gabrielle sorria e disse:

— Mamãe, isso está com um cheiro maravilhoso! O que foi que você fez?

O nível de energia da casa era contagiante, e embora Gabrielle estivesse ansiosa para falar aos pais sobre o casamento, primeiro ela queria saborear todo aquele amor de família.

— Não posso revelar meus segredos culinários, meu amor! Mas está na hora de começar a comer. Vamos, temos muito para conversar. — Respondeu a mãe de Gabrielle.

Seu pai adentrou o cômodo com os pais de Marcus, ele sorriu em resposta.

Os quatro poderosos parceiros se sentaram à mesa, e o ambiente estava carregado com a tensão da conversa que estava prestes a acontecer. Os pais de Gabrielle, assim como os de Marcus, mantiveram um olhar de curiosidade e expectativa.

— Então, filhos, estamos ansiosos para saber tudo sobre a data e o lugar do casamento! — Afirmou o pai de Gabrielle.

As palavras do pai de Gabrielle pareciam reverberar na mente de Gabrielle e Marcus, enquanto eles ouviam a expectativa nos tiques do relógio de cozinha e nos seus próprios corações martelando.

Marcus limpou suor de sua testa.

— O negócio é que... nós não vamos ter o casamento que vocês imaginam. O que está por vir é bem diferente.

— Queremos só algo entre amigos principalmente de trabalho e vocês, é claro. — Diz Gabrielle finalmente.

O ar ficou carregado, e os tantos pares de olhos não saíram dos dois jovens.

— Tudo bem, o casamento é de vocês, afinal.

Marcus e Gabrielle suspiraram em alívio, achando que seus pais entenderiam.

— Então, vamos começar a comer. Temos muito a celebrar! Aí depois, nós podemos conversar sobre a logística do casamento, ok? — o pai de Gabrielle mencionou, tentando continuar com a conversa.

A casa de Gabrielle e seus pais, que estava repleta de calor e cor de flores, foi invadida pelo ar frígio das realidades que precisavam ser confrontadas. Os jovens, sentados à mesa, esperavam a resolução da conversa entre eles e seus familiares mais velhos, enquanto o cheiro de comida deliciosa esquentava a atmosfera do ambiente.

— E então, quais são as madrinhas e padrinhos do casamento? Eu estou tão animada para participar do casamento de vocês! — diz a mãe de Marcus com aplausos e sorrisos carinhosos.

— Chamei alguns amigos de trabalho pra ir com amigas de Gabrielle e Sarah com Kim vão ser madrinhas também.  — Diz Marcus.

As cabeças dos pais de Gabrielle se movimentam em busca de conexões e familiaridade. A mãe de Marcus parecia animada por ouvir a amiga de Kim mencionada, e respondeu:

— A Sarah! Ela é tão amável e gentil. Parece uma ótima escolha. Mas vocês vão ter mais amigos do trabalho do que família?

Gabrielle se concentrou em cada mordida que os convidados davam na comida, como se a sobrevivência deles dependesse disso. No mesmo momento, Marcus percebeu o que o pai de Gabrielle queria que os dois fossem conversar longe, para a cozinha. Marcus estava com uma pilha de pratos na mão.

O pai de Gabrielle havia enchido a pia com os pratos e se virou para encarar Marcus.

— Algo está errado? — Questionou Marc.

Seus olhos eram um registro do amor pelo filha e o respeito pelo futuro genro. O pai de Gabrielle seguiu com uma preocupação.

— Não machuque minha filha, Gabrielle é o meu tesouro. Não machuque minha filha.. — Sua voz oscilou.

Marcus se conteve mas seus olhos já estavam lacrimejando.

O pai de Gabrielle limpou seu rosto, enxugando a última borda de suor e mantendo a mão em posição, recusando-se a terminar.

— Ela é a única filha que eu tenho. Meu amor por ela é infinito. Se você for capaz de machucá-la, eu virei atrás de você, você entende?

A tensão crescendo, Marcus permaneceu sério e ligeiramente intimidado pelos olhos ardentes de seu futuro sogro.

— Entendo completamente. E eu prometo que vou tratar ela como o tesouro que é. Eu amo ela, você sabe disso.

— Sei — respondeu o pai, calmando-se.

— Não brinque com ela, se não quiser ficar com ela.. volte e devolva ela para mim, Por favor.

Os olhos de Marcus ficaram vermelhos e úmidos, apercebendo-se da importância de suas palavras para seu futuro sogro.

— Nunca deixaria algo acontecer. Eu farei tudo para cuidar dela, eu prometo. Ela é minha vida.

— Marcus, por que acho que não está sendo sincero comigo? — O sogro perguntou, sua voz trêmula.

Um tremor de emoção tomou conta de Marcus, assustado de seu sogro saber exatamente o que ele pensava.

— Eu estou apenas... — Ele hesitou, tentando encontrar as palavras certas. — Só estou meio... nervoso. É uma grande mudança. Eu apenas quero fazer o melhor que posso.

— Não amo sua filha. — Sua voz falhou e sua cabeça abaixou.

O sogro engoliu em seco, o silêncio que se seguiu foi sufocante, enquanto as palavras de Marcus ressoavam no ar.

— O que...? O que você disse?

— Disse que vou cuidar bem dela.. — Sua voz estava embargada mas Marcus seguiu firme.

— Te dou meu voto de confiança.

Eles trocaram um aperto de mão e voltaram pra cozinha.

— Quem quer sobremesa? — perguntou o pai de Gabrielle em um tom animado.

Gabrielle tocou o braço do futuro marido que parecia abatido.

— Tudo bem? — Ela perguntou em um tom de voz dócil.

Marcus a beijou surpreendendo-a e deu um sorriso inocente.

— Eu estou bem.

Logo após isso ele passou o dia todo em silêncio, as palavras do sogro pesando em sua consciência.

Gabrielle: O Coração da Lei.Onde histórias criam vida. Descubra agora