Ayanna
Mais um domingo de baile, e como eu estava doida pra ir mas não podia por causa da minha mãe, tive que inventar que eu ia dormir na casa da Raquel. No início ela desconfiou e me encheu de perguntas, mas nada que dona Leia; avó da Raquel, não tenha ajudado. Estávamos atrasadíssimas, Raquel ainda estava se maquiando, e eu acabei de sair do banho.
Raquel: me empresta aquela tua argola, tu vai usar ela? — nego, vestindo a calcinha de renda — vai dar pra quem hoje?
Eu: pra ninguém, por quê? — tiro a toalha do meu corpo.
Raquel: tá usando Lingerie combinando, normalmente quando não temos intenção de trepar, usamos calcinhas e sutiãs feiosos, com combinações diferentes.
Eu: nada a ver. — passo o meu hidratante da lily nas minhas pernas, espalhando.
Raquel: a gente tinha que ter começado a se arrumar mais cedo, minha demora foi só porque lavei meu cabelo hoje e fiz a fitagem, se não fosse isso já estaria pronta mo tempo.
Eu: ligou pro Dedé? Ele vem buscar a gente?
Raquel: vem, inclusive, pega o meu celular que tá aí em cima da cama, acho que ele já mandou mensagem. — pego o celular, entregando pra ela — eu não disse, ele tá mandando a gente apressar, porque ele já tá vindo.
Eu: só vou me maquiar mesmo, pranchei meu cabelo em casa e tá ótimo — me levanto — colocasse minha bolsa onde?
Raquel: tu levou pro banheiro. — ela aponta e eu entro no banheiro abrindo a minha bolsa, pegando o meu conjuntinho vermelho e o meu salto preto.
Enquanto eu e Raquel terminávamos de nos arrumar, Dedé tinha chegado e tava esperando a gente na sala, com a avó da
Raquel.Raquel: tô pronta. — ela se levanta da cama toda linda, cabelo cacheadinho, vestidinho azul e um saltinho branco todo brilhoso. Minha amiga tava uma gostosa.
Eu: deixa só eu passar um perfume — pego o meu Eggeo dentro da minha necessaire passando pelo corpo todo — vamos.
Raquel: de uma coisa eu tenho certeza — ela diz antes de sairmos e eu encaro ela — atenção não vai nos faltar hoje.
Saímos pra sala ouvindo o Dedé soltar gracinhas pela nossa demora. Fomos os três em uma única moto, Dedé no toque, eu no meio e Raquel atrás. Minha saia tava tão curta que se não fosse pela velocidade que Dedé corria com aquela moto eu estaria pagando calcinha pro povo na rua.
A Raquel a mesma coisa.Raquel: mandei tu ir devagar — ela dá um tapa no ombro do Dedé que ri da nossa cara — bagunçou meu cabelo todinho esse carai.
André: não mandei vocês demorar. — desço da moto depois de Raquel, ajeitando a minha saia que tinha subido toda, atraindo os olhares daqueles bando de arroz que ficava na frente do baile.
Eu: tu vai levar a gente de volta, né? — pergunto passando a mão no meu cabelo.
André: eu mermo não, já fiz o favor de trazer. Arrumem carona com os machos de vocês — ele desliga a moto descendo —Folgadas.
Raquel: tu fecha teu cu — ela aponta pra ele — vamo entrar — ela me puxa pela mão.
André: vou pros meus esquemas, quero saber de ninguém me ligando não. — ele grita e Raquel mostra o dedo do meio pra ele, me fazendo rir.
Na porta já tinha bastante gente, Raquel tinha parado pra cumprimentar uns caras que ela conhecia, me apresentando alguns que nem disfarçavam as intenções quando me olhavam, tinha umas meninas que a gente conhecia também que chamaram a gente pra ficar com elas, mas eu não gostava de ficar em bando, meu negócio era dançar, bater perna, e ficar de boa com a minha amiga no nosso canto. O funk tava altão, já tinha muita gente dentro, tava mais lotado que o normal, tinha tanta gente que tava difícil até pra andar pelo lugar como costumava fazer.
Eu: porra, hoje tá movimentado né?
Raquel: baile só fica assim por dois motivos — ela fala no meu ouvido por causa da música alta — um, quando o dono do morro tá, e dois, quando vem um Dj muito bom.
Encaro ela, passando meu olhar pelo lugar. Só de pensar na possibilidade de me encontrar com aquele homem de novo, me causa uma sensação fogosa. Eu e Raquel ficamos em um canto, um pouco perto do palco, onde dava pra ver todo o camarote, que tava bem lotado por sinal.
Raquel: Dedé aquele filha da puta, nem pra colocar a gente no camarote.
Eu: acho que ele vai demorar, deve ter ido comer uma puta antes. — falo e ela concorda.
Raquel: teu irmão onde tá. — ela aponta e eu passo o meu olhar pelo lugar vendo o Igor; um dos meus irmãos mais velho, agarrado com uma garota.
Meus irmãos eram bem de boa, não tinha o risco deles contar pra minha mãe as coisas que eu fazia, eles sempre ficavam do meu lado, até porque ela não era assim só comigo. E eles também nem ligavam pra nada, também aprontavam e estavam pouco se fudendo pro que eu fazia ou não, o Igor principalmente, já o Gustavo era um pouco mais protetor comigo, mas era aquele cuidado normal de irmão. De toda forma, nenhum deles era de me dedurar pra minha mãe.
Eu e a Raquel ficamos dançando no nosso canto de boa. um tempinho depois foi que
a gente saiu pra pegar as bebidas, mas voltamos pro mesmo lugar que a gente tava. Sempre encostava uns machos inconveniente na gente, outros até interessante mas com papo todo tilt, aí nem dava. Vez ou outra passava umas piranhas soltando piadinhas pra gente, eu particularmente nem ligava, isso era coisa de mulher sem postura, e eu pensava o seguinte, enquanto não tocassem um dedo em mim, eu não perderia a minha. A Raquel que era mais esquentada que eu, que revidava os afrontes com deboche pras cutiaias. Mas eu que não iria perder a minha noite discutindo com aquelas raparigas, tava vibrando junto com o funk estalado, e era só isso que me interessava naquele momento.Virava a bebida toda na minha boca enquanto descia até o chão e subia lentinho com uma mão na minha saia pra não subir ao ponto de mostrar a minha calcinha. A vibe tava muito boa, casa lotada, escura, música alta, o álcool já me o álcool já me deixando altinha, e o cheiro dá maconha incensando no ambiente, tava o verdadeiro caos ali, e se não fosse assim, nem prestava.
Raquel: anna — ela me catuca e eu encaro ela, ainda dançando — olha pro camarote e presta atenção em quem tá lá te observando.
Ela aponta com a cabeça e eu paro de dançar procurando com os olhos, olhando rosto por rosto presente ali. E sabe aquela sensação de choque? Nem era de surpresa, era mais pela forma que eu estava sendo observada, e por quem eu estava sendo observada. Enfim, foi exatamente como eu me senti no momento em que parei em um par de olhos escuros, que me penetrava na alma, me fazendo sentir exorcizada, numa espécie de transe.
Caralho. Ele tava ali.