Capítulo 23

42 15 5
                                    


O caminhão avançava pela estrada fazendo a poeira fina da terra seca embaçar a paisagem por onde passava. Na cabine do caminhão, Li dormia no colo de Irin após chorar por minutos ininterruptos a morte de Freen. O cansaço venceu a criança fazendo com que dormisse entre seus suspiros.

Na carroceria o clima era frio, cinza e triste. Ninguém ousava ou queria falar nada. Becky estava sentada com as costas apoiadas na lataria. Seus olhos se fixaram em um ponto e estava perdida em seus pensamentos. Seu olhar era opaco e sem vida, nada parecido com a Becky animada e divertida que estavam acostumados. Não muito diferente de Kate que apesar de se mostrar forte, ainda processava a morte de Tack. Heng estava sentado ao lado da mulher enquanto apertava sua mão entre seus dedos lhe passando força, mas a verdade é que ele mesmo não tinha forças suficiente, a morte de Freen era recente e o perturbava.

Os ombros de Becky estavam caídos enquanto a mulher tinha um ar apático. Vários de seus colegas tentaram se aproximar da colega e consolá-la, mas a mulher não queria companhia. Não queria ninguém. A pessoa que ela queria já não mais falava ou sorria. A pessoa que ela queria estava deitada e cercada por flores. A pessoa que ela queria estava gelada e quieta.

Pequenas informações pela estrada sinalizavam que estavam a poucos quilômetros do arraial. Do lado esquerdo se via uma pequena fazenda distante da estrada e cercada por suas plantações. O caminhão cruzou a ponte sobre um rio e uma placa sinalizou que logo chegariam ao destino.

Um rangido no motor fez o caminhão perder a aceleração até que finalmente parasse. Nan bateu no volante estressada e então desceu do automóvel.

- O que foi? - Nop pergunta ao pular da carroceria.

- Acabou a gasolina. - Nan explica.

- Que merda. - Nop leva a mão até a cabeça.

- O que aconteceu? - Tee desce do automóvel e se aproxima dos dois colegas.

- Vamos ter que ir a pé. - Nan explica. - Acabou a gasolina. Tee olha para o céu e para o horizonte observando que já escurecia.

- Precisamos achar um lugar para ficar, já vai escurecer. - Tee avisa e Nop concorda.

- Aquela placa diz que tem um templo a poucos metros. - Nan aponta para a placa que estava parcialmente coberta pela vegetação. - Podemos ir para lá. É o que está mais próximo. - A mulher sugere.

- Certo. - Tee concorda.

Os três avisaram os colegas que recolheram seus pertences e se prepararam para andar. Irin desceu da cabine do caminhão com Li ainda em seu colo. Becky se apressou até a loira e observou aquele pequeno ser em seus braços e que dormia serenamente. O entorno de seus olhos, o nariz e bochechas ainda estavam vermelhos denunciando o longo choro.

- Deixa eu levar ela? - Becky pediu a Irin que prontamente lhe entregou a criança.

Li se tornou a única referência que tinha de Freen, além de sua semelhança com a mulher. Olhar para a menina lhe trazia recordações as quais queria se agarrar para que não se perdessem. Becky agarrou a menina em seus braços de forma necessitada e então seguiu o caminho com seus amigos pela estrada.

Poucos metros a frente, poucos minutos andando, avistaram a entrada para o templo. A pequena construção estava no centro do terreno cercada por um jardim e diversas árvores dos mais diversos tipos. Nos fundos era possível ver as águas do rio correrem incessantes em seu curso. Provavelmente era um lugar muito aconchegante quando o mundo ainda podia ser considerado normal.

O grupo seguiu pelo caminho de pedras perfeitamente alinhadas que levavam aos dois degraus a frente da porta do templo. Chin e Nop foram a frente e arrombaram a porta de madeira. Os colegas entraram na pequena construção aproveitando o restante de claridade do sol para admirarem todo o interior do templo trabalhado e decorado em barroco. Era simplesmente lindo.

End Of TimesOnde histórias criam vida. Descubra agora