6.A festa

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Narradora,

Rayne Ames estava parado perto da entrada do salão de festas, tentando disfarçar a ansiedade que sentia. Estava naquela festa por obrigação e, enquanto olhava para o relógio pela enésima vez, ajeitava o smoking, certificando-se de que cada detalhe estava impecável. Sua mente, no entanto, estava em Kareen. Ela havia mencionado que estava tendo problemas, mas não explicou o que realmente aconteceu, e isso estava atrasando sua chegada.

O salão estava decorado de maneira exuberante, com luzes cintilantes e arranjos florais espalhados pelos cantos. Mesmo que Abel tenha saído da comissão, seus gostos influenciaram demais a festa, talvez tornando-a tão formal.

Kareen estava no quarto há mais de uma hora. Ela sabia que provavelmente a música já havia tocado e todos deveriam estar se divertindo, mas escolher um vestido que não queria cooperar. A garota aproveitou o tom do cabelo para escolher a peça, sendo tão vermelha quanto os cachos. Nos pés, um salto muito bonito e, de quebra, Margarette que reclamava a cada cinco minutos.

— Queridinha, não tinha algo maior, não? — ironizou.

— Obrigada pela parte que me toca, Margo. Eu vou fechar com magia.

— Aí rebenta no meio da festa e você passa vergonha com os peitos expostos — Macaron revirou os olhos. — Prenda a respiração que eu vou fechar e depois você respira calmamente para ver se não vai arrebentar.

E assim foi feito. No fim, ficou perfeito e Macaron sorriu.

— Se eu fosse seu namorado, esse vestido não duraria muito, querida — e assim saiu do quarto, deixando-a sozinha. Internamente, Kareen torcia para que Ames não pensasse assim, afinal, o traje foi caro.

No salão, Rayne havia recusado dançar com algumas garotas da casa Adler e outras que vieram prestigiar a festa. A primeira dança estava reservada para sua garota e nada mudaria isso. As conversas com o diretor e outras pessoas estavam entediantes. Na verdade, esse tipo de entretenimento não fazia parte dos gostos de Rayne. Ele preferia algo mais comum, como uma ida ao parque ou até mesmo uma saída para apreciar o campo. Também curtia shows e outros tipos de entretenimento, mas não um onde ele parecia ser o centro das atenções. Apesar de tudo, compreendia que agora esse tipo de evento poderia fazer parte do seu ciclo de vida devido às inúmeras obrigações que um visionário tinha.

Na escola, ninguém além de Margarette e o diretor sabiam de seu relacionamento. Um por ser amigo e o outro por ser fofoqueiro, mas ainda assim se questionavam. Os outros candidatos foram liberados e estavam aproveitando a dança que tanto queriam, mas não havia ocorrido ainda porque Rayne não tinha uma parceira.

Casais já começavam a encher a pista de dança, movendo-se suavemente ao som da música instrumental. Rayne mal notava os outros, seus olhos constantemente varrendo a sala em busca de Kareen. Estava entediado e a conhecia o suficiente para saber que ela acabaria com essa sensação assim que pisasse no salão.

Então, ela apareceu. Kareen Bernauer desceu as escadas lentamente, atraindo atenção pelo seu atraso, e Rayne prendeu a respiração. Parou de falar, ou melhor, de ouvir e pediu licença, indo até ela e a esperando no último degrau. Foi impossível não observá-la melhor: o vestido vermelho era perfeito, abraçando suas curvas com elegância e destacando sua presença de forma quase mágica. Seus olhos brilharam ao encontrar os de Rayne, e um sorriso tímido, mas radiante, iluminou seu rosto.

Rayne se moveu rapidamente, estendendo a mão.

— Você está deslumbrante — ele disse, sua voz carregada de emoção.

Kareen riu suavemente, um pouco nervosa.

— Obrigada, Rayne. Você também está incrível.

Ele segurou sua mão com delicadeza e a conduziu até a pista de dança. Assim que se posicionaram, a música mudou para uma versão instrumental suave, criando o clima perfeito. Rayne colocou a mão na cintura de Kareen, puxando-a gentilmente para mais perto. Se restava alguma dúvida de que o próximo visionário divino estava comprometido, o olhar intenso dado a Kareen e a mão que fez questão de colar demais os corpos deixou claro.

— Pronta para essa palhaçada? — ele perguntou, os olhos fixos nos dela.

— Pronta — ela respondeu, sentindo uma onda de excitação e nervosismo.

Eles começaram a se mover, seguindo o ritmo lento e romântico da música. Rayne liderava com confiança, seus movimentos suaves e seguros. Kareen acompanhava, os dois se movendo em perfeita harmonia, como se estivessem dançando juntos há anos.

Enquanto giravam pela pista, o resto do mundo parecia desaparecer. Tudo o que importava era a conexão entre eles, a sensação de estar nos braços um do outro. Os olhos de Kareen brilhavam com emoção, e Rayne sentia o coração bater acelerado, mas de uma forma que trazia felicidade e paz.

A música os envolvia, cada nota parecendo ressoar diretamente em seus corações. Quando a dança finalmente chegou ao fim, Rayne e Kareen pararam, ainda nos braços um do outro. Eles se olharam, respirando um pouco mais rápido, sorrisos suaves nos lábios, que logo desapareceram por parte dele.

— Foi perfeito — Kareen sussurrou.

— Foi, sim — Rayne respondeu, afagando uma mecha dos belos fios dela antes de se afastar. — E é só o começo. O casal estava prestes a se beijar mesmo que as bocas estivessem distantes. O olhar condizia com o que ocorreria, porém, um visionário divino se aproximou e Rayne revirou os olhos. Ele não se tornou um deles para socializar, mas para mudar as coisas.

— Permita-me — O loiro extremamente carismático se aproximou. Fora ele, só havia mais um visionário, e a maioria se perguntava por que ele estava ali. Ao se aproximar de Kareen, ela sorriu falsamente. Não poderia negar um pedido desses na frente de todos sem saber o que ele realmente queria. Kareen observou os olhares e sorriu minimamente, aceitando a mão dele, e logo se afastaram para a dança.

— A propósito, sou Ryoh Grantz — ele se apresentou, notando a face de desdém dela.

— Sou Kareen Bernauer, mas creio que já saiba. Do contrário, não teria me tirado para dançar. — A perspicácia de Kareen um dia ainda a colocaria em problemas. O visionário, no entanto, riu, a rodopiando no salão e dançando mais próximo.

— A princesinha da casa dracónea em solo plebeu, óbvio demais para passar despercebido. — Se afastou novamente e, enquanto se movimentavam conforme a música, ao se aproximar para o ato final, ficaram frente a frente, sendo possível sentir ambas as respirações.

— O que você quer?

Ele sorriu pela pergunta ríspida.

— Nada, apenas avisar que estou de olho em você e que eu não acredito que o mercado ilegal inteiro tenha desaparecido.

Ela deu de ombros, não esboçando nenhuma preocupação, e apenas revidou a dança.

— Então encontre quem foi e leve a julgamento. Só não esqueça de me chamar para ver. — A música se encerrou e ambos se afastaram minimamente. Ryoh elevou a mão esquerda dela até os lábios, deixando um leve selar.

— Foi um enorme prazer te conhecer, Kareen — afirmou sorrindo.

— Pena que não posso dizer o mesmo — ela sorriu falsamente, retornando para perto de Ames, que detestou cada segundo daquela dança.

Será que os outros não entendiam que só ele podia tocá-la daquele jeito? Mesmo que fosse em uma dança?!

Aparentemente, Kareen não era a única com comportamentos levemente obsessivos...

🔮🔮🔮

A festa foi ótima e, apesar disso, o casal não conseguiu conversar. Rayne não teria como matar a curiosidade a respeito da conversa dela com o líder dos visionários, pois, no primeiro horário da manhã, foi chamado até a sala do diretor, respirou fundo, inclinando-se na cama para beijar a testa de Kareen com ternura e cobrir parte do corpo nu com o lençol macio. A festa os havia levado para um caminho inesperado, mas não se arrependeria de nada do que foi feito, somente por não vê-la sorrindo ao abrir os olhos.

Rapidamente, Rayne redigiu algo em um pedaço de papel qualquer e deixou sobre a cômoda lateral junto à caneta enfeitada de coelhinhos brancos:

Nos vemos na aula,
tive de conversar com o diretor.

Ames.

Ele não tinha como saber, mas em breve teriam sérios problemas e talvez demorasse um pouco a retornar.

A namorada de Rayne AmesOnde histórias criam vida. Descubra agora