8.Silver Fayne, a primeira missão como visionário

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Rayne,

Faz duas semanas desde que fui enviado em minha primeira missão solo. Aparentemente, um grupo de contrabandistas está dando trabalho para o governo, e como os visionários querem comprovar na prática se posso ou não arcar com meu cargo, me mandaram nessa missão. O diretor Wahlberg me concedeu uma aranha mediadora; segundo ele, nossos ideais são parecidos e esse pequeno bichinho seria de grande utilidade, como foi para ele um dia.

O problema é que já espanquei seis contrabandistas e ninguém soube me dizer quem é o chefe.

— Abre — ordenei, e o homem pegou um pé de cabra para abrir a caixa. Quando acabou, eu o aprisionei junto aos outros e fui conferir o material, ficando extremamente confuso. O que...?

Peguei um dos itens na mão e conferi serem ovos de dragão, o que me leva a crer que ou há uma falha na contenção da cidade ou os Bernauer estão envolvidos nisso.

Eu fui acordado mais cedo do que o esperado e, sinceramente, não é como se eu tivesse dormido. Não depois de vê-la com aquele vestido e dançando daquele jeito com outro visionário. Quando dei por mim, já havíamos ultrapassado todos os limites e acabei cedendo à minha vontade de ter Kareen só para mim, algo que nunca vou esquecer.

Na sala do diretor, Wahlberg me encarava:

— Você deve saber que vai ser testado.

— Já esperava por isso — afirmei.

— Excelente, quero que fique com isso, vai facilitar em suas buscas — ele me entregou uma aranha mediadora.

— Obrigado, diretor, mas creio que não tenha me chamado até aqui só para isso, não é?

Ele riu.

— Extremamente perspicaz, como esperado — Wahlberg se levantou e uma tela ficou disponível para nós. Nela, dava para ver um homem alto, de longos cabelos trançados com as laterais raspadas, usando roupa de montaria com um emblema prateado e o símbolo em vermelho rubi. — Esse é Silver Fayne. Ele sumiu da prisão marítima de seu país e há indícios de que esteja por aqui. Se o encontrar, a aranha entrará em contato direto comigo. Não quero que faça nada.

Achei a ordem estranha, mas não questionei. Apenas segui meu caminho. Pelo visto, não verei minha garota após a aula e talvez demore mais do que imaginei para retornar.

OFF

Apreendi a carga e encarei um dos homens que não parava de rir, como se estivesse possuído.

— Vocês não sabem o que estão fazendo e com quem estão mexendo — ele riu, e me aproximei mais.

— Ah é? Então que tal contar para mim? — O homem ficou sério ao sentir a ponta da minha varinha em sua garganta e meu pé em seu peito. Riu antes de cuspir no meu sapato. Respirei fundo antes de chutá-lo e continuar batendo. — Parece que seres como você só aprendem com a dor, então que assim seja. Eu vou extrair cada uma das informações que preciso de você e com muita dor.

Todos nesse mundo de merda sabem que contrabando de itens mágicos é crime, pois a maioria sempre vai parar na mão de quem não presta. E ainda assim o fazem sem pensar, então não preciso ter um pingo de calma ou carinho com essa porcaria.

🔮🔮🔮

Os itens já estavam no depósito mágico, foram verificados pessoalmente por um dos visionários divinos que achou uma boa ideia envolvê-los em magia antes de os exportar para fora da cidade através de um portal. Fiz como conversei com o diretor e não encontrei nada nem ninguém pelo meu caminho que batesse com a descrição daquele que me foi mostrado.

Quando estava retornando para a escola, um tremor forte surgiu e uma fumaça se levantou ao longe, onde o portal estava aberto. Corri para lá e, ao chegar, vi o homem parado na frente do portal. Pele negra, olhos âmbar e cabelos trançados na cor preta, utilizando a mesma armadura que vi no vídeo que Wahlberg me mostrou. Não demorou para a aranha sumir e os restantes dos visionários divinos se reunirem.

O homem sentou sobre o ar como se houvesse uma cadeira invisível e encarou cada um de nós.

— Ora, ora, eu não esperava que o próprio líder dos Bernauer viesse aqui, não quando a princesa está na escola — Ryoh provocou, levando-o a rir.

— Eu não teria dito melhor, mas Kareen é muito indisciplinada. Fora que esta é uma terra que eu ainda não colonizei — pelas palavras, todos se prepararam para lutar e ele riu.

— Crianças, não se deem ao trabalho. Nossas contagens de linhas são extremamente diferentes e, se todos os meus dragões passarem por aqui, não vai sobrar ninguém vivo. Ou acham mesmo que estou no nível do seu violãozinho favorito?

Arrogante e perigoso. Acho que era isso que Wahlberg queria evitar.

— E o que você quer? — perguntei, sem me importar com os outros olhares.

— Minha princesa precisa assumir seu posto, caso contrário, vou perder a paciência. Afinal, é muito chato reinar enquanto as crianças brincam nesse mundinho imbecil de vocês.

Antes que pudéssemos dizer alguma coisa, Wahlberg apareceu sorrindo.

— Silver Fayne, eu não esperava pela sua presença — o diretor estava muito calmo para uma situação na qual qualquer passo errado poderia destruir a cidade. Foi então que o diretor deu um passo à frente com a esquerda para trás.

— Digamos que uma certa princesa indisciplinada me trouxe até aqui e, como detesto lidar com crianças, vim onde tinha uma melhor concentração de poder refinado — o sorriso cruel deixou claro que teríamos problemas.

— E o que você pretende fazer?

— Isso não é óbvio? Eu vou matar cada um deles e absorver o poder, mato você por último, depois colonizo o seu mundo. E quando acabar, terei minha querida princesinha e um trono.

Wahlberg riu levemente.

— Silver Fayne, você é sempre tão bem-humorado, mas receio que não posso deixar você fazer isso.

O homem ficou de pé e abriu os braços.

— E pretende me impedir como? Pois é óbvio que eu tenho toda a vantagem — naquela imensa escuridão do portal era possível ver diversos olhos rubros e sentir o calor emanar. Eram tantos dragões que eu não sei se uma magia de repulsão daria certo.

— Mestre, estou ficando com dor de cabeça. Não consigo calcular esse poder — a aranha afirmou e Wahlberg respirou pesado.

— Talvez você deva reconsiderar. Até onde sei, Kareen não está mais aqui e é um perigo atacar assim. Ou acha que não reagiremos? — O homem bateu o pé no chão e fechou o punho esquerdo, onde pudemos ver uma lança vermelha.

— Pelo jeito você não quer reconsiderar — todos puxaram a varinha e Wahlberg respirou fundo, deixando sua terceira marca aparente antes de retirar as mãos das costas e atirar algo na direção de Fayne, que pegou no ato.

— Faça uma boa viagem, Silver Fayne. Vortex! — De repente, tudo começou a ser puxado em direção àquele buraco negro. Notei que a única coisa reativa, além do próprio Silver Fayne e do portal, eram os ovos que estavam desaparecendo.

— Isso não vai me segurar por muito tempo. Sempre haverá fome pelo meu poder e eu vou voltar. Tão rápido quanto fui — e assim tudo acabou. Wahlberg olhou para Ryoh e respirou pesado.

— Eu não imaginei que teríamos esse tipo de problema, por isso fui atrás dela, mas pelo visto esse cara não tem paciência. Bom, vamos indo, não tem mais nada para fazer aqui.

Todos se afastaram e eu esperei um momento antes de ir até Wahlberg:

— Diretor, espera — ele me encarou conforme eu me aproximei. — Quem é esse homem?

— Isso, meu caro Ames, você terá de perguntar para a sua namorada — eu ergui a sobrancelha fingindo estar confuso. — Não é porque estou velho que não reconheço o amor jovial. Vocês têm muito o que conversar.

E assim Wahlberg sumiu, me deixando curioso sobre o que Kareen deveria me dizer.

A namorada de Rayne AmesOnde histórias criam vida. Descubra agora