Acordei pela manhã com um pouco de dor de cabeça, irritado e mal humorado. Estou cansado de ficar sonhando situações impossíveis, preciso mesmo esquecer essa garota antes que eu vá parar em um sanatório usando uma camisa de força.
Como estou extremamente faminto a ponto de desmaiar, vou tomar meu café da manhã e depois me preocupar com o resto. Também preciso arrumar o que fazer, tenho o sábado todo livre, talvez eu tire o dia para separar algumas coisas minhas que não uso mais e doar, tem um tempo já que quero fazer isso.
Encontrei meu pai na cozinha tomando café, aquele cheiro maravilhoso me deixou com ainda mais fome. Passei por ele e me servi uma xícara dessa perfeição quentinha em forma de líquido.
— Bom dia, noivo do ano — olhei para meu pai de canto e o vi sorrindo — Dormiu bem? Você me parece péssimo.
— Bom dia — respondi com a voz arranhada. Depois de alguns segundos em silêncio, virei a cabeça lentamente em sua direção e franzi o cenho — Do que você me chamou?
— Noivo do ano ou que você parece acabado?
— Que história é essa de noivo do ano?
— Você bebeu ontem?
— Sim, mas não tanto... Eu acho.— Você pediu a Melanie em casamento ontem — o homem pousou sua xícara na mesa e voltou a me encarar — Não se lembra? Eu nunca te vi tão feliz em todo esse tempo morando aqui — continuei paralisado olhando para ele — Deixe-me adivinhar, achou que foi um sonho, um delírio seu, uma viagem daquelas bem pesadas usando aquelas porcarias que você enfia na boca?
— Do que você está falando? Eu não estou mais me drogando, entendeu? Parei com isso — senti mais uma pontada de dor na cabeça e apertei os olhos — E sim, eu achei que foi um sonho — desisti de tentar tomar café, minha cabeça está latejando tanto que mal consigo parar em pé — Vou tomar um remédio e dormir mais um pouco, estou com muita dor. Me acorde para almoçar?
— A Melanie ligou, disse que precisava falar com você urgentemente. Imagino que daqui a pouco ela apareça aí.
— Depois que eu me matar e ser ressuscitado eu falo com ela. Ainda não engoli o fato do noivado ser real, como é que eu vou encarar aquela garota sem parecer um otário?
— Já parou para pensar que isso é culpa sua mesmo? Se você tivesse tomado uma atitude decente desde o começo com essa garota, não estaria aí achando que tudo que vive com ela é só sonho. Eu te avisei desde o começo para você parar de fazer as coisas só pensando no seu bel-prazer.
— Nossa, muito obrigado por esfregar na minha cara que eu sou mesmo um otário.
— Por nada. Alguém precisava te dar um choque de realidade e dizer isso a você — meu pai passou por mim sem esboçar uma reação se quer e subiu as escadas.
Depois de ouvir a porta de seu quarto se fechando, me sentei no pé da escada sentindo uma extrema raiva de mim mesmo. Estou tentando mudar meu jeito de fazer as coisas, mas devo estar muito acomodado para não conseguir.
O orgulho de ser egoísta me consome, me destrói e me manipula para destruir o que habita a minha volta e assim eu acabo sozinho de novo e de novo e de novo… Um ciclo sem fim. Não quero acabar como meu irmão, mas será esse o destino que me espera? Eu, de fato, me mataria se parecesse 1% com meu irmão.
Agora o arrependimento é o único sentimento presente em mim e as lágrimas pesadas também me fazem companhia.
Eu gostaria de continuar chorando em paz se a campainha parasse de tocar. Me levantei e fui atender a porta. Me apavorei quando vi Melanie pelo olho mágico, não esperava que ela realmente viesse e eu não quero recebê-la aqui estando de qualquer jeito, mas também não quero deixá-la lá fora esperando demais. Com muita coragem e vergonha, abri a porta.
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Corazón
FanfictionUm spin-off do livro "Última Música: Hotel California" que conta a história de como Donquixote Rosinante era em sua adolescência e como parte de sua personalidade foi moldada por Melanie Sanchez. MOST PEAKS: #2 em #Rosinante #15 em Corazón