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    Não sou uma pessoa ansiosa, nunca tive problemas com isso, mas desde que conheci a Melanie fico com medo do que possa sair da boca dessa garota. As poucas coisas que sei foram as que Matt e ela mesma me contaram e acredito que não somam 1% de quem ela é.

    Joguei a camiseta sobre o ombro e a convidei para entrar, quanto mais eu adiar a limpeza da garagem melhor. Melanie não parece se incomodar em conversar aqui, porém não quero que se suje de graxa sem querer. Fechei o portão da garagem novamente e entramos pela porta que dá acesso à cozinha. 

— Vamos conversar na sala. Melhor do que lá em cima no meu quarto.

— Seu quarto deve estar uma zona, isso sim.

— Muito pelo contrário, eu sou extremamente organizado. É que meu pai já está em casa, deve estar descansando, não quero incomodar — joguei algumas almofadas para o outro sofá dando espaço para ela se sentar — Fique à vontade. Quer beber alguma coisa? Está com fome?

— Não, obrigada. Perguntinha, mora só vocês dois?

— Agora sim. Tinha meu irmão mais velho, mas só Deus sabe para onde ele se mudou.

— Entendi. Bom, eu não queria enrolar muito, será que posso ir direto ao ponto?

— Como quiser.

— Então, é sobre hoje de manhã. Eu… 

    Melanie parou de falar de repente, olhava fixo para algo atrás de mim. Me virei para olhar também, era meu pai nos olhando do topo da escada. Vestia seu típico robe preto, seu pijama por baixo e as pantufas. Carregava um jornal em uma das mãos e uma xícara de chá na outra.

    Descia as escadas devagar, parecia uma tortura. Não aparentava estar bravo, apenas um pouco confuso, talvez curioso. Normalmente, meu pai não costuma me ver acompanhado de alguma garota dentro de casa, não que eu nunca tenha trazido alguém aqui, só quando ele não está em casa.

— Não me disse que teríamos visita. E vê se veste uma camiseta, onde estão seus modos? 

— Oh, saco! — desvirei a camiseta que estava em meu ombro e a vesti a contragosto — Melhor agora?

— Muito melhor. Me perdoe, senhorita, às vezes esse garoto se esquece como se comportar ao lado de uma dama — deixou o jornal e a xícara sobre a mesa de centro e estendeu a mão para cumprimentá-la — Donquixote Homing, muito prazer.

— Melanie Sanchez Miller — a garota se levantou e apertou sua mão junto de um sorriso sutil, parecia um pouco tímida — O prazer é todo meu. Eu amei a sua casa, a estética dos anos 90 é incrível. Bem diferente da minha mãe que é tão modernista, a única parte da casa que ela não tocou foi o meu quarto.

— Eu agradeço o elogio, Rosinante ajudou em boa parte da escolha da mobília e decoração. Acredito que sozinho não conseguiria deixar essa casa com cara de lar.

— Aprendi com a mamãe — soltei esse comentário um pouco tristonho — Agora que ela não está mais aqui, alguém tinha que assumir esse papel.

    Escutei Melanie falando alguma coisa para meu pai, mas não prestei muita atenção. Minha mente começou a vagar sobre as lembranças de quando eu acompanhava minha mãe em floriculturas, ela tinha um fascínio por arranjos florais. Os quadros de casa foram todos pintados por ela.

    Mamãe também gostava de visitar dezenas de lojas de móveis da cidade, sempre querendo encontrar a peça perfeita para a casa. Não gostava de nenhum tom de marrom, preto ou branco, preferia cores vivas, alegres e que não deixasse a casa sombria.

    No fim do meu devaneio, notei que meu pai já não estava mais lá e Melanie me observava em silêncio.

— Há quanto tempo está me encarando?

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