Corazón

❤ 17 ❤

    Melanie ficou em silêncio durante todo o trajeto até a cafeteria, tal qual ela mesma escolheu. Eu não sei o que dizer a ela, não sei se consigo iniciar qualquer assunto interesse nesse momento. Estou tenso em relação a nossa conversa sobre esse casamento.

    Parei o carro no estacionamento do local, desci e dei a volta para abrir a porta para ela. Agradeceu juntamente de um sorriso. Está agindo normalmente, acho que só eu que estou paranoico mesmo.

    Dentro do estabelecimento, escolhemos sentar na mesa mais afastada e não muito iluminada pelo sol. Apesar do calor solar ser útil para uma manhã fria como hoje, não quero ficar exposto demais na luz, minha cabeça ainda está doendo e muita luminosidade só vai piorar. 

    Logo uma atendente veio a nossa mesa anotar nossos pedidos, pedi um café extra forte e Melanie escolheu um chocolate quente com marshmallow e uma fatia grande de bolo de chocolate. Queria saber onde cabe tanta comida no estômago dessa garota.

    Notando que eu não parava de olhá-la, Melanie se aproximou um pouco e perguntou baixo:

— O que foi? 

— Você acha que eu sou otário? Seja sincera.

— Em relação a que? 

— Antes de você chegar, meu pai e eu tivemos uma pequena discussão sobre como eu deveria ter investido em você antes e, por não ter feito isso antes, ele acha que sou otário.

— Olha, Rosi — seu olhar sereno fez meu coração errar algumas batidas — Cada pessoa tem o seu próprio tempo para decidir o que é melhor para ela. Dito isso, se você pensou que não era o momento de se aproximar de mim, ou seja lá o que pensou, está tudo bem. Eu não vou achar que está errado ou não. Quer me contar a sua versão da história? Lembre-se, eu tenho o dia todo livre para te ouvir.

— Eu… — hesitei por um segundo, minha voz falhou e pensei seriamente em não prosseguir, mas ela precisa saber quem sou de verdade. Respirei fundo e continuei — Eu sou egoísta, sou arrogante e grosseiro em grande parte do dia, me cobro constantemente. Também me considero ciumento, possessivo e manipulador. Eu não sei como ainda não morri de tanta droga e álcool que eu já enfiei no meu corpo. Ainda acha que eu não me aproximei porque cada um tem seu tempo? Melanie, estou tentando te livrar de uma furada, eu não presto e você não merece isso.

— Bom, então temos muito o que trabalhar. Visto que vou cursar psicologia, vou te usar como base para os meus estudos no futuro — paramos nossa conversa somente para receber nossos pedidos — Sabe, Rosi, nem tudo está perdido, você ainda tem uma parte boa que você mesmo está reprimindo por causa do falecimento de sua mãe. E não adianta mentir para mim porque eu sei que está.

— Minha mãe não tem nada a ver com isso.

— Tem e eu te digo o porquê — enfiou um pedaço de bolo na boca e sorriu respondendo com a boca cheia — Esse bolo é perfeito! Enfim… Seu pai me contou que você já foi bom, imagino que se espelhava na natureza bondosa de sua mãe e sem ela você pegou tudo que possuía e escondeu achando que ninguém mais merecia sua generosidade. Rosi, eu entendo que ainda sofra, mas você não pode mais reprimir isso, olha só no que você se tornou. Eu estou aqui, eu posso te ajudar.

    Prestei atenção em todas as palavras, estou mastigando mais de trezentas vezes antes de engolir junto com o choro preso na garganta. Melanie não está errada e eu tenho uma relação de amor e ódio quando está certa, mas sei que está dizendo isso para o meu próprio bem.

    Já fui bom até o momento em que minha mãe ficou doente e perdi o contato frequente com ela. Por que deixei de ser assim? Ela brigaria comigo por isso, eu a deixaria triste e odiaria deixá-la triste.