CORRUPÇÃO - 01

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LÍDIA MARQUES.

"O Rio de janeiro continua lindo, o Rio de janeiro continua sendo o Rio de Janeiro, favereiro e março." Aqui no Rio de Janeiro o tráfico e a polícia desenvolveram formas pacíficas de convivência. A verdade é que a paz nesta cidade depende de um equilíbrio delicado, entre a munição dos bandidos e a corrupção dos policiais. Mas, eu nunca concordei com essa política de convivência.

Desde os meus sete anos, moro apenas com meu pai, coronel Miranda. Nesta mesma época, perdi minha mãe. A princípio não havia entendido. Por que minha mamãe não estava mais aqui? Ela nunca mais iria voltar? Maldito aneurisma cerebral.

Com o passar dos anos, percebi que ela não voltaria nunca mais. Cresci apenas com o apoio do meu pai, que nunca foi muito. Coronel Miranda, sempre muito ocupado com o trabalho. Em busca de uma aproximação ou pelo menos uma demonstração de amor, sempre pedi ao mesmo, para que me treinasse e me ensinasse a ser uma boa policial, assim como ele.

No começo, foi apenas um pretexto para me aproximar de meu genitor. Mas, com o passar dos anos, percebi que aquela era minha vocação.

Em busca dos meus sonhos, entrei aos vinte e dois anos na polícia militar. Comecei como aspirante de oficial em um batalhão convencional. Me designaram à oficina, acho que nunca me senti tão perdida. Nunca entendi nada sobre carro e agora tinha que fazer aquela porra toda funcionar.

No meu segundo dia na oficina, descobri um crime militar. Furto no quartel. Haviam trocado o motor de um Santana novo por um de Belina velho, e eu tinha certeza que havia sido uma guarnição de dentro do quartel. A minha única certeza naquele momento, era de que em hipótese alguma, eu iria desistir de resolver os problemas do batalhão.

No mesmo dia, tentei falar com o capitão Oliveira, sobre as peças que estavam faltando na oficina. Sem elas, as viaturas não iam para as ruas. E se as viaturas não fossem para as ruas eu teria que permanecer na oficina. E honestamente eu não entrei na polícia, para trabalhar como mecânica.

O mesmo não me ajudou em nada, apenas me mandou falar com o Fábio. De acordo com ele, talvez no comércio eu conseguisse algo. Fiz o que Oliveira mandou, e graças a ele descobri uma forma de sair daquele lugar.

Fábio me contou que o comandante subia o morro para pegar o dinheiro do tráfico, como uma via de mão dupla entre os traficantes e a polícia. Mas, o que me deixou mais perplexa era saber que meu pai era o principal envolvido nesse esquema.

Essa história toda, me deu um imenso desgosto. E eu resolvi agir. Aproveitei um momento de distração do Oliveira e furei seu pneu. Não tinha como ele subir o morro se a moto não andava. Enquanto ele restaurava a moto, eu liguei a minha, subi a favela e peguei a grana. Quando o problema com o pneu estava resolvido, eu já havia pegado o cascalho. Usei o dinheiro para comprar as peças necessárias e finalmente sair daquela oficina.

Foi uma boa jogada, mas no fundo eu sabia que meu pai não iria deixar isso passar. A sorte é que ele pensava que, seja lá quem havia roubado, só estava cumprindo ordens. Ordens de alguém que conhecia o sistema por dentro.

Eu estava almoçando. Quando, ouvi o coronel Miranda, mandar o Fábio verificar uma denúncia de baile funk no morro da Babilônia. Naquela hora, eu percebi que tinha dado merda. Meu pai ia mandar matar o Fábio, porque achava que ele era o traidor. Eu não podia deixar isso acontecer. Para mim, os "inocentes" não podem pagar pelos pecadores.

Nessa mesma noite, no horário em que meu pai havia marcado, peguei minha moto e fui em direção a favela, seguindo o carro que levava o refén. Sozinha, sentindo apenas a brisa da noite enquanto carregava um fuzil.

Chegando no baile, parei minha moto de forma desleixada e corri entre os corredores do morro, corri o mais rápido que pude. Após encontrar uma brecha que me possibilitava uma vista favorável do que estava acontecendo no baile, localizei Fábio com o olhar. Ele e os outros policiais estavam sendo recebidos por um grupo de traficantes. No momento de desespero, podia jurar que um dos vagabundos estava sacando a arma e não me contive. Apertei o gatilho do fuzil e o projétil foi arremessado à frente, alcançando o meliante, que caiu na mesma hora. Naquele momento só ouvi sequências de sons agudos e rápidos, era uma multiplicidade de tiros. Eu havia começado uma guerra, um tiroteio. E agora eu precisava fugir.

Na Mira do Perigo - Capitão NascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora