18

23 1 3
                                    

----02/11/2005----
Quarta, 07:46 A.M

– Prontos?

– Sim. – Takemichi respondia a sua mãe enquanto olhava [Nome] sentada com a cabeça apoiada na mesa.

– Filha? Vamos? – [Nome] apenas concordou com a cabeça e levantou. Estavam indo para o velório e enterro de Keisuke Baji.

Chegaram no local e estava chovendo, mas não muito. Entraram e se curvaram em demonstração de respeito para Ryoko Baji. Foram em direção ao caixão, mas [Nome] parou na metade do caminho. Se virou e saiu daquele lugar, indo em direção ao pátio aberto. Era bem bonito. Na frente de onde estava ocorrendo o velório, era  bem florido. Ao redor havia um gramado muito bonito, com banquinhos de praça e várias plantas para enfeitar. [Nome] se sentou em um desses bancos, sentiu um frio em sua barriga. Abriu sua bolsa e pegou seu caderno de anotações, desenhos e letras de músicas. Adorava descontar tudo que estava sentindo em palavras. Começou a escrever pensando em Baji.


𝑄𝑢𝑒  c̶o̶r̶t̶a̶r̶ã̶o̶  𝑐𝑜𝑟 𝑡𝑒𝑟ã𝑜 𝑠𝑒𝑢𝑠 𝑜𝑙ℎ𝑜𝑠?
𝐸 𝑎 𝑙𝑢𝑧 𝑑𝑜𝑠 𝑠𝑒𝑢𝑠 𝑐𝑎𝑏𝑒𝑙𝑜𝑠?
𝐸𝑢 𝑛ã𝑜 𝑝𝑜𝑠𝑠𝑜 𝑡𝑜𝑐á-𝑙𝑜𝑠
𝑀𝑎𝑠 𝑒𝑢 𝑛ã𝑜 𝑣𝑜𝑢 𝑒𝑠𝑞𝑢𝑒𝑐ê-𝑙𝑜𝑠.

[Nome] escreveu, riscou, e por fim rasgou e jogou fora. Não eram essas palavras que ela procurava (por mais que tenha gostado do final).

– Oi, [Nome]. – Ela ergueu a cabeça olhando direto para aqueles olhos cor de lavanda.

– Oi. – Ela respondeu limpando suas lágrimas rapidamente. – Eu acho que passei vergonha, né?

– Acho que todo mundo entende sua dor. Tudo bem se eu sentar?

– Pode sentar. Você viu o Chifuyu?

– Vi, eu cheguei aqui bem cedo. Ele estava aqui. Ficou na frente do... enfim, ficou lá por muito tempo. Depois ele se levantou, cumprimentou a Sr. Ryoko e foi embora.

– Que engraçado, você foi o último a ficar próximo do Baji e é o único que está ajudando a tia Keisuke.

– Sei que vocês não têm cabeça pra isso. Estou triste, claro, mas se eu consigo ajudar... não tem porque eu não fazer nada.

– Você me surpreende cada vez mais. – [Nome] o abraçou.

– Querida? – Ryoko chegou na intenção de falar com [Nome]. – Desculpa atrapalhar. De novo eu queria falar com você e o Chifuyu, mas... Ele foi embora um pouco antes de você chegar. Eu separei essas coisas que eu acho que você gostaria de guardar.

– Minha nossa. Agora estou ansiosa pra ver o que tem aí dentro. – Apontou para caixa. – Ele disse... disse que tentou ser o melhor da sala. Disse uma vez, pra mim e pro Chifuyu. Ele queria te deixar orgulhosa.

– Eu tive muito orgulho dele. Principalmente por ter feito amizade com vocês, meus anjos. Bom, eu vou indo, estou lá dentro se precisar de algo – beijou a testa de [Nome]. – Fique bem. – Saiu deixando-os a sós novamente.

– Queria que Chifuyu estivesse aqui... Não sei o porquê dele estar se afastando. Amanhã Baji faria 15 anos – se virou para Mitsuya. – Eu iria fazer um bolo bem bonito e entrar no quarto dele cantando "feliz aniversário" junto do Fuyu, mas agora eu não tenho nenhum deles comigo. – Disse chorando.

– Ele tem algum motivo, esse luto desse ser bem doloroso pra ele, sabe? Eu não me lembro de ter visto ele sozinho, sem o Baji, nenhuma vez.  Olha, a culpa de ele estar assim não é sua. Deixa ele tirar o tempo dele. 

– Eu preciso ir embora. Me desculpa. 

[Nome] se levantou na pressa, derrubando seu caderno de anotações. Mitsuya viu, pensou em ir atrás dela, mas sabia que ela precisava ficar sozinha. Ele pegou aquele caderno, que qualquer um que visse saberia que era de [Nome], e guardou. Ele não leria nada dela sem a sua permissão. Então [Nome] foi pra sua casa, chorando mais ainda ao passar em frente do antigo apartamento de Baji e indo em direção ao elevador. Deitou em sua cama e acabou dormindo.

----03/11/2005----
Quinta, 00:04 A.M

[Nome] acordou por acaso, sentia que havia dormido muito. Olhou ao seu redor e percebeu que estava em seu quarto. Olhou para seu relógio e viu que marcava 00:05. Ela acendeu a luz e procurou por todos os cantos seu caderno de anotações, porém lembrou que havia deixado cair. Logo foi atrás do seu novo caderno, não queria rabiscar ele ainda, mas estava com a letra certa na cabeça. A música do Baji. 

God stood me up
And I don't know why
Lights are on
But nobody's home. 

Ela escrevia se lembrando do dia em que viu as caixas de mudança em frente ao bloco do apartamento.

There ain't no loveLike our love 2X
There ain't no loveLike our love
Love Love love love love love l̶o̶v̶e̶l̶o̶v̶e̶
Let the last worms goAnd roll in tonightDon't wake us upWe got nothing for youBuild us a doorAnd rest here with meLights are onBut nobody's home 

Então pegou seu gravador que sua mãe lhe deu de aniversário e se sentou de frente do seu teclado. Tentou criar a melodia perfeita e por fim gravou a música que dizia tudo o que ela sentia. Ela o amava. Os dois o amava de um jeito absurdo. E no final da gravação, em uma das 3 fitas gravadas, ela recitou uma carta a ele:

– Dia três de novembro de dois mil e cinco. Querido Baji, nunca na minha vida eu poderia me imaginar vivendo sem você. Ultimamente eu estou e está sendo muito doloroso. Eu acordo e penso em ir na sua casa, mas aí lembro que você não está lá. Nem você, nem suas coisas e nem a tia Keisuke. Hoje eu estaria morrendo de ansiedade para acordar, descer correndo pra sua casa, entrar no seu quarto junto do Chifuyu e te acordar cantando parabéns... Mas você se foi antes que isso pudesse ter acontecido uma última vez. Não tive tempo de te dizer que te amo, nem te dizer que eu estou apaixonada pelo Mitsuya... É, eu estou apaixonada pelo Mitsuya. Não tive nem coragem de te ver no seu próprio velório. Me desculpe, Baji, eu não queria aquela cena na minha cabeça. Prefiro pensar que pelo menos a última vez que eu te vi, você estava vivo. Não sei como será daqui pra frente, mas espero conseguir aguentar tudo isso. Te amo, Keisuki Baji. Desculpa por não ter te salvado.

Com amor, [Nome].

𝓞𝓷𝓵𝔂 𝓨𝓸𝓾 - 𝓣𝓪𝓴𝓪𝓼𝓱𝓲 𝓜𝓲𝓽𝓼𝓾𝔂𝓪Onde histórias criam vida. Descubra agora