Capítulo 4

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                           ALEXANDRE BORGES
                                 CASA DE KAEL

Sento ofegante no sofá da sala dele, olhando pra cima tentando processar o que aconteceu.

—Pode passar a noite aqui. — Disse meu amigo indo para a cozinha.

—Valeu...

A gente quase morreu.

Será que tudo isso realmente vale a pena?
Será que se só contarmos para a polícia não vão nos ajudar?

Eu não sei...

Kael sentou do meu lado com dois copos d'agua na mão

—Toma — Esticou seu braço e me entregou o copo.

Tomo um gole e solto um suspiro segundos depois.

—Desculpa, foi tudo culpa minha — Confessei, arrependido.

—Desculpas não vão funcionar agora.

É, eu sei.

—Precisamos saber como entrar lá sem passar por aquele cara de novo.

O que? Ele ainda quer entrar na escola?
Antes ele estava bem relutante sobre.. Mas agora..

—Sim, verdade.

Kael se levantou.

—Eu vou pro meu quarto, você pode dormir ai na sala. A gente resolve isso amanhã.

Meu amigo entra no seu quarto e bate a porta, eu deixo o copo no chão e me deito no sofá.


..



No dia seguinte, acordo relembrando do que aconteceu ontem. Levanto do sofá e percebo que a porta do quarto de Kael está fechada — Pelo que parece, ele ainda está dormindo.

Pego meu celular do bolso, são sete da manhã. É melhor eu ir para casa — não quero deixar meu amigo incomodado mais do que já deixei.
Envio uma mensagem pra ele, dizendo que precisei ir embora pois preciso resolver algo urgente.

Abro a janela da sala dele e pulo para sair, já que ele está com a chave no seu quarto.

A caminhada até minha residência não foi tão animadora como deveria ser normalmente. Enquanto andava, me questionava se tudo o que estou fazendo realmente é o certo a se fazer.

Chegando em minha moradia, ela está do mesmo jeito que deixei-a antes de sair ontem a noite.  O prato na mesa onde esqueci de levar a pia, a sala levemente bagunçada enquanto a Televisão está ligada.

Enquanto ando até meu quarto, vejo pela visão periférica um quadro do meu pai falecido em cima do criado mudo no corredor.

—Caramba

Me aproximo do quadro, o pegando com minhas duas mãos.

—Pai..

Deslizo meu dedo pela sua foto, me relembrando daquele dia em que ele me deu o melhor conselho que eu poderia ter recebido.

Foi 4 nos atrás, era mais um dia após a escola e eu mexia no meu celular enquanto deitava no sofá.

A porta se abre, ele chegou do trabalho e foi direto conversar com minha mãe, que estava no quarto.

Permaneço no celular, sem notar que ele havia chegado em casa. Minutos depois, sou pego desprevenido pelo meu pai que pegou o celular de mim.

—Ei, Devolve!
—Você já fez seu dever de casa? — Perguntou com seus olhares de preocupação sobre mim
—Não, mas eu faço depois — Digo enquanto me levanto e olho paro o celular que estava em sua mão —Eu preciso entregar só semana que vem, não precisa se preocupar.
—Ah filho, mas esse não é o problema.— Ele se senta no sofá. —Fica aqui do meu lado, quero te contar algo.

Me sento também, esperando o que ele tem a falar.
—Eu vejo que você raramente sai de casa, tem idéia de como isso é ruim pra você?

Ah, esse assunto de novo..

—Nós somos seres humanos, filho, vivemos em sociedade e precisamos conversar com outras pessoas e sair de casa. Não tem como alguém viver sem conversar com outras pessoas, você acaba sendo alguém solitário e sem nenhuma habilidade de socialização

—Eu sei disso.. — Resmungei, olhando pro lado

—Então, o que me diz? — Questionou, colocando suas duas mãos em meus ombros. —Vai tentar se esforçar pelo menos um pouco pra viver no mundo a fora?

—Eu não sei, não é algo que eu consigo fazer facilmente..

—O pai vai te ajudar nisso, ok?

—Tá.–Afirmei sem nenhum animo. —Agora pode me passar o celular?

Ele suspira e faz o que eu pedi, nós dois sabemos que eu não quero fazer isso.

Continuei jogando no meu celular por um bom tempo, até que eu ouço meu pai do meu lado novamente, tomando o celular de mim.

—Vem, vamos para o mercado.

—Porque?

—Sua mãe precisa de alimentos pra casa e você precisa sair também.

Apenas concordo relutante, ele parece estar me obrigando agora.

Nós saímos de casa e, vamos caminhando nas ruas noturnas até o mercado. Meu pai me fazia algumas perguntas sobre a escola, como se eu tivesse algo de interessante para responder. (Não quero falar sobre as notas baixas que eu tinha.)
Seguimos andando, eu com tédio e ele um tanto quanto desanimado de me ver não aproveitando a caminhada.

Dois homens em uma moto nos para no meio do caminho.

—Assalto, assalto! — Anunciou o bandido que estava na garupa e desceu da moto.

Meu pai ao meu lado segura minha mão que está suando frio com a tensão que recebi inesperadamente.

—Começa pelo moleque, rápido! — Ordenou o motorista berrando para o outro assaltante

Assim como mandado, o bandido me pega pelo braço com força e checa o meu bolso direito

Meu pai furioso, golpeia um soco no estômago do ladrão que estava perto de mim, esse que foi jogado três metros de distância de minha pessoa.

—DROGA! –Reclamou o assaltante que ainda estava na moto.—VAI LOGO!!

Meu corpo fica tremendo da situação repentina,
O bandido que levou o golpe se levanta e pega uma pistola, disparando uma bala no peito do meu pai que cai no chão.

—Pai! — Me ajoelho ao seu corpo caído,  começando a implorar para que ele viva.

De repente, vários vizinhos ao redor vêem o que está acontecendo e gritam "Ladrão, ladrão!" Com isso, um grupo de pessoas aparecem correndo rapidamente até o bandido ferido — Que por pouco, sobe na moto e consegue fugir.

Continuo vendo o meu pai quase desacordado no chão, continuo ajoelhado ao seu lado — chorando, perguntando se ele pode me ouvir

—ALGUÉM CHAMA A AMBULÂNCIA AQUI!—Gritou um dos vizinhos, correndo até mim.



Consigo voltar para a realidade após lembrar daquele dia, meus olhos encharcados enquanto ainda olho a foto dele. Eu me recordo que ele não resistiu enquanto a ambulância o dirigia até o hospital.. E então depois desse ocorrido, tive que passar por várias sessões de terapia. Quando finalmente consegui superar a morte dele, obriguei a mim mesmo ser mais sociável e ter mais conexão com o mundo.

—O que será que você faria no meu lugar..?

Enquanto ainda olho para a foto dele, me surge uma idéia magnífica.

—Já sei!


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Eita, que que será que o Alexzinho pensou?

Não se esqueça da ⭐





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