Capítulo 5

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                                KAEL SILVEIRA,
                                     QUARTO

Acordo escutando o maldito toque de chamada do meu celular, pego ele que está no criado mudo ao meu lado. Minha visão pouco turva me impede de ver corretamente quem está me ligando, mas após um tempo, consigo entender que é o Álex.

Atendo, me questionando de tudo.

—Porque tá me ligando? Você não tá na sala?!

—Não! Eu tive que sair por causa de alguns problemas...–Ao terminar a frase seu tom de voz diminuiu, como se estivesse falando de algo ruim.

—Ok, mas me responde, porque ligou?

—Eu pensei em um plano que pode funcionar ou não... Não sei, mas precisamos arriscar!

Ele fica um tempo sem falar e depois pergunta:

—Posso ir para sua casa de novo? Vai ser melhor.

—Vem logo, mas já vou  avisando que acabei de acordar.

—Certo!

Não demorou muito para que eu ouvisse um toque de batida na minha porta, mas foi o suficiente para que eu pelo menos possa me arrumar. Abro ela e noto o rosto do Álex um pouco diferente, como se ele estivesse fazendo sérias perguntas a si mesmo, apreensivo.

—Posso entrar?

Que pergunta estranha.

—Sim...? Porque não poderia?

Ele entra, se sentando no sofá e colocando ambas as mãos na cabeça.

—Certo, eu preciso que você me escute com atenção, ok?!

—Se acalma ai cara.. eu vou te ouvir.

Fico ao lado dele, aguardando o tal plano que mencionou.

—Quando a gente viu aquilo..–Ele fecha o rosto parcialmente, nem eu e o Álex gostamos de nos lembrar da cena dos experimentos.

—Eu notei alguns corpos de pessoas conhecidas, sabe? Alunos que eu conheço..

—Estou acompanhando.

—Pelo que eu me recordo, esses corpos reconhecidos eram  de estudantes que tinham um desempenho maior nas aulas, entende?

—Hummm...–Depois que ele diz isso, eu acho que me lembro de ver pessoas conhecidas lá também.. O problema é que foi uma situação insanamente rápida, então não consigo memorizar bem

—O ponto é que eles provavelmente vão continuar levando alunos com esse mesmo desempenho para lá, e é ai que vem o nosso plano

Aguardo ele finalmente dizer... O olhando com curiosidade.

—Você não o conhece muito bem, pois raramente conversavam.. Mas cê sabe quem é o Alvin?

Tento me lembrar de quem ele está falando, mas falho.

—Não... Eu acho.

—É aquele baixinho que sempre usa uma blusa de frio preta e tem óculos.. Se lembra agora?

Ah, provavelmente sei de quem ele está falando agora.

—O nome dele não é Lucas?
—É sim, isso que eu falei é só o apelido dele

Ah.

—Tá, e o que tem ele?

—É que o Alvin é um dos alunos mais inteligentes da nossa sala...Então eu pensei que não demoraria muito para ser levado até aquele andar. E se convencermos ele de ir ao subterrâneo, ficar em uma chamada secreta com a gente, gravar o que anda acontecendo lá e enviar para nós o vídeo?

Meu Deus, eu nunca ouvi uma idéia tão burra em toda a minha vida.

—Espera.

Preciso de alguns momentos para pensar

—Esse plano tem vários erros que eu acabei de identificar, tipo, como vamos convencer ele? E se ele já estiver lá? E se não acreditar em nós? Como ele vai entrar lá?

—Eu já pensei nisso tudo, calma! Deixa eu me explicar.

Lá vai..

—Eu me lembro da diretora de vez em quando ir na sala de aula e chamar um dos alunos para seu escritório, provavelmente ela usa esse método pra enganar os estudantes e leva-los até o andar. O que facilita pra gente, pois o Lucas vai ser praticamente obrigado a ir por causa da diretora.

Ele me encara, tentando captar se estou prestando atenção

—E então a gente pode dizer para ele entrar em uma chamada secreta conosco enquanto a diretora o leva para o "escritório", quando ele chegar no subterrâneo.. Nós falamos para o mesmo começar a gravar o que está acontecendo e nos mandar o vídeo!

Eu ainda estou sem entender como isso vai funcionar.. Mas vou me esforçar.

—Ok, porém o pessoal vai ver o Lucas gravando o vídeo, certo? Eles vão fazer algum mal pra ele... – Pontuo, espero que ele consiga responder essa.

—É ai que você entra no plano!

—Hum.. E o que eu vou fazer?–Ainda estou sem esperanças de que isso vá funcionar.

—Como a nossa chamada secreta com ele irá ser gravada, você vai ameaçar o outro lado da linha dizendo que a ligação realmente está sendo guardada e que, se eles fazerem algum mal pro Lucas, iremos mostrar a chamada para a polícia. E enquanto eles se sentem apreensivos por causa disso, nós vamos poder entrar na escola e ir até aquele andar!

Ele diz todo o plano em uma animação indescritível, com altas expectativas de que isso vá funcionar.

—Uhm... Deixa eu pensar.

É uma estratégia muito arriscada, eu não sei se é o melhor a se fazer. Principalmente porque vamos colocar outra vida em risco.

Mas eu vejo que o Álex realmente está colocando toda confiança nesse método dele.

—Não é como se pudéssemos fazer algo diferente, né? Eu aceito o plano.

Eu enxergo o sorriso dele aparecer instantaneamente após ver que eu concordei com essa maluquice.

—Kael.. Nós vamos conseguir!

—Eu espero.



CATHERINE SILVA, ESCRITÓRIO DA DIRETORA.



Batidas leves na porta são ouvidas, eu apenas digo que pode entrar.

—Olá, senhora Silva. —Entrou o Miguel, com seu rosto um pouco diferente do que normalmente vejo.

—Olá Miguel, o que o trás aqui? — Deixo os meus papéis na mesa e o encaro, colocando minhas mãos sobre meu queixo. —Você já fez o que foi ordenado? — Indaguei novamente.

—É exatamente sobre isso que quero falar. —Ele afirma

—Eu falhei em assassina-los, conseguiram fugir.—Ele diz essa última frase sem medo.. Como se não temesse o que eu fosse dizer, não que a minha resposta vá ser negativa. Na verdade, ele não conseguir mata-los foi perfeito.

—Não tem problema. — Tomo um gole do café ao meu lado. —Na verdade, isso é até melhor. Eu admito que esse meu plano de tirar a vida deles foi mal feito. Caso você conseguisse os matar, seria uma prova bem concreta do que estamos fazendo e a polícia ou alguém viria atrás de quem os mataram. Resumindo, sua incompetência foi positiva para o nosso lado.

Ele dá uma sorrisinho de canto, logo depois questiona

—E qual seria a próxima ação da senhora?

—Nós vamos esperar eles atacarem, ou pelo menos, tentarem. Se eles tentarem entrar aqui nessa escola, será benéfico para a gente, pois seria mais fácil de mata-los com o nosso próprio conhecimento da área.

Ele fica um tanto quanto surpreso, mas volta a sua postura.

—Eu admiro esse seu plano..

Eu sei.

—Se é só isso que tem a falar, pode se retirar — Disse, tomando outro gole.

—Claro. — Saiu da sala, fechando a porta.



O Andar OcultoOnde histórias criam vida. Descubra agora