Capítulo 4

27 10 3
                                    

QUARTA-FEIRA 15 DE JUNHO

Hazel Martinez

     Cá estou eu, sobrevivendo a mais um dia trabalhando de concierge.

     Ok! Devo admitir que também não é lá tão desprimoroso assim, só é... cansativo. Os concierges devem estar a todo vapor, em todos os momentos. Mal havia como dar uma entrepausa de um serviço ao outro. Margaret me chamava tantas vezes ao dia que acabei ficando com um longo eco soando na cabeça.

     Quando cheguei em casa após o turno de ontem, quase me peguei alucinando. Sam estava no hospital e eu me encontrava sozinha em casa, e pude jurar que ouvia bem baixinho alguém me chamar "Hazel!" "Srta. Hazel" "Hazel venha ao saguão".

     Só fui me dar conta de que era Margaret ainda ecoando em meu subconciente quando me levantei às pressas da banheira feito uma esbaforida e peguei a chapinha de cabelos que Sam havia usado na noite anterior para se arrumar, e perambulei pelada pela casa à procura de quem estava me chamando.

      Eu estava pelada, úmida e com a bendita chapinha que me tornava mais indefesa do que meu vizinho que quebrou as pernas recentemente por estar traindo a noiva com a personal piriguete da academia, ao se jogar do terceiro andar do prédio.

     Ele só podia ser louco, afinal.

     Já adianto que, foi Sam, a futriqueira entre nós duas, que descobriu esse escândalo.

     Eu só sou a bem-informada.

     Ao menos depois daquele vexame, que graças à Deus ninguém viu, pelo menos um deles. Já que ainda me recordo do papel medonho que me fiz passar na frente daquele Olimpo, céus, me dá gastura no estômago só de pensar que quase coloquei à força aquele roupão pré-aquecido nele.

     Enquanto na verdade, o verdadeiro Sr. Hauptmann que era o meu hospede do dia, era um velho gordo e peludo, com um pé na cova e o outro no mundo. Esse senhorzinho soube como me fazer bufar ao menos cinco vezes por segundo. Com os pedidos sem noção e os comentários referente ao meu corpo descarados demais para o meu gosto.

     A contragosto me obriguei à voltar para a realidade quando ouvi o tilintar dos saltos de Margaret se aproximando pelo corredor que ficava na ala direita do hotel. Hoje minha função era ficar somente na recepção, diferente de ontem, que fiquei quase meu turno inteiro na ala do TI resolvendo um cadastro preenchido errado.

     Confesso que foi bem mais empolgante estar na presença de um nerd extrovertido, sim eles existem, inclusive, na faculdade fui para a cama com um. Foi de longe melhor do que estar vagando feito uma mosca varejeira pelo hotel e esbarrando com aquele loiro de privada, o Daniel, aliás, descobri seu nome pelo nerd chamado Ryan. Acho que foi a única pessoa gentil que trabalha neste lugar que se portou feito um ser humano normal até agora.

     Acredito que Ry e eu - sim, nós nos tratamos por apelidos agora – Ficamos ao menos umas duas horas ininterruptas conversando sobre trabalho e banalidades da vida. Fazia tempos que eu não ria com um homem, sem acabar tirando a calcinha para ele no final do dia.

     Assim que Margaret passou a aparecer no meu campo de visão, pude ver uma expressão completamente desconfortável em seu rosto.

     Suspeito, vindo dela que está sempre com a feição controlada.

     - Srta. Hazel, preciso que você providencie lagostas para o hospede Myers, do quarto andar, quarto 101. - disse ela, dando uma leve pausa antes de prosseguir – Só há um adendo... elas precisam estar vivas.

Um aliado ao acaso - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora