Capítulo 9

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CAPÍTULO NOVE

30 DE SETEMBRO DE 2004

Passado de Hazel Martinez, aos cinco anos.


     Em uma tarde comum como qualquer outra, de uma quarta-feira, eu presenciava algo que jamais pensei que veria algum dia. A primeira discussão acalorada entre meus pais. Que sempre tentavam soar discretos em minha frente quando estavam chateados um com o outro, mas agora, gritavam como dois loucos.

     Eu não entendia muito bem o porquê de aquilo estar acontecendo, havia chegado da escola fazia poucos minutos. Não sabia se iria até eles e pedisse para que parassem ou, ficava vendo eles desmoronarem aos poucos, em uma situação nunca antes vista.

     Então eu simplesmente me esgueirei na beirada da porta de entrada e fiquei observando-os, até aquela angústia ir embora. Eu detestava brigas, justamente por raramente presenciá-las.

     – AMÉLIA! NÃO DÊ AS COSTAS PARA MIM, ESTOU FALANDO COM VOCÊ. - Meu pai gritava à pleno pulmão, alto o suficiente para dar de ouvir na rua em frente à nossa casa.

     – Escute aqui, Gilberto. - Minha mãe agora havia se virado depressa e indo em direção ao meu pai, apontando um dedo em direção ao seu rosto – O que você pensa que está fazendo cogitando em ir até lá? Ficou louco?

     Ir aonde? Será que poderei ir junto com ele, se isso for deixá-la mais tranquila?

     – Ele nunca irá nos deixar em paz se eu não resolver isso de uma vez por todas – respondeu meu pai, aparentemente se acalmando – Irei até lá, cuide de Hazel até eu voltar.

     Minha mãe parecia não estar acreditando no que ouvia, pois assim que meu pai acabou de falar, ela se sentou lentamente no sofá, apoiando as mãos no rosto. Segurando o que aparentemente era um choro.

     A angústia piorava no meu peito.

     Poxa, eu só queria estar rindo e fazendo biscoitos de trigo com a minha mãe e meu pai, o que houve? Por que eles ainda não sentiram a minha falta? Eles sabem que eu chego da escola sempre nesse horário.

     Me assustei ao ouvir os passos de papai se aproximando da porta, provavelmente para sair. Mas não consegui sair de lá a tempo, na verdade eu me sentia tão imobilizada que era incapaz de sequer me mexer para fingir que não estava os ouvindo. E quando se aproximou o suficiente, meu pai pareceu notar que eu estava ali, e com a expressão mais preocupada que já vi em seu rosto, ele se abaixou e falou comigo, antes de me dar um abraço.

     – Hazy querida, não pense que esqueci da nossa partida de xadrez – disse ele, pegando em meus ombros – Terei de sair, mas em breve retornarei, então fique pronta.

     – Posso ir com você? – perguntei segurando sua mão, na esperança de arrancar aquele sentimento horrível que eu nunca havia sentido.

     – É melhor você ficar com a sua mãe, meu amor – respondeu ele, claramente estranho – Eu amo você filha.

     Aquele que estava apertando meus ombros com uma expressão apavorada no rosto e tentando me abraçar, não era o meu pai. O meu pai era o meu herói. Era ele quem curava todos os meus ralados ao cair de bicicleta, ele quem pegava em minha mão no escuro me fazendo enfrentar os bichos papões que estavam embaixo da cama. Ele quem jogava inúmeras partidas de xadrez comigo para que eu ganhasse minha primeira medalha nos campeonatos da escola.

Um aliado ao acaso - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora