Uma longa viagem

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Leonora e Clarissa acordaram ainda com a visão embaçada, lado a lado no centro da ponte que antigamente unia a Escola do Bem e do Mal. As duas estavam em choque, assustadas e muito confusas. A fada boa levantou-se do chão e olhou para a bruxa, que tentava inutilmente se levantar sem o apoio da bengala. Dovey, como uma boa esposa, deu o apoio necessário para que a ruiva se levantasse.

— O que está acontecendo, Lesso? Essa ponte... estamos de volta ao passado? — Clarissa perguntou, seus olhos arregalados de surpresa.

Lesso olhou ao redor, perplexa. — Não sei... não consigo imaginar o que houve. Magia negra, talvez!? Por que diabos voltamos ao passado?

Clarissa respirou fundo, tentando se acalmar. — Acho que a pergunta que importa agora é: como vamos sair daqui?

De repente, Lesso parou e ficou em silêncio, seus olhos estreitando-se. — Está escutando isso?

Clarissa inclinou a cabeça, tentando ouvir melhor. — Sim, é a voz do professor Ailon. Vamos. — A loira saiu andando rapidamente, puxando a fada pelo braço, em direção à escola dos Sempre, seguindo o timbre do professor. Durante o trajeto, Lesso pegou uma pedra do chão e segurou-a firmemente.

Clarissa olhou para a ruiva, confusa. — Por que está com essa pedra na mão?

Lesso deu de ombros com um sorriso travesso. — Sabe como é, eu amo colecionar pedras... me amarro demais. Vamos.

Clarissa revirou os olhos, deixando o acontecido para lá e continuou a seguir o caminho. — Então tá, vamos. — Juntas, entraram na escola dos Sempre, seguindo o som da voz até o salão principal, onde estava ocorrendo a aula de dança dos Sempre. A cara de nojo da bruxa ficou evidente ao avistar os jovens Sempre.

A loira olhou ao redor, tentando entender. — Em que época estamos?

Leonora observou atentamente os alunos. — Olhe as crianças atentamente. São da nossa época. Acho que voltamos ao nosso amado ensino médio. — Muitos adolescentes no salão principal traziam muitas memórias para ambas. Afinal, aqueles alunos estudaram com elas. Leonora e Clarissa se distanciaram um pouco, uma foi ver os Sempre e a outra olhar as pinturas para se recordar da época. Até que um jovem príncipe se aproximou de Clarissa, sendo cordial e beijando sua mão.

— Milady, precisa de ajuda? Parece perdida. — O jovem sorriu educadamente para Dovey.

Clarissa sorriu gentilmente. — Ah, não. Mas é muito gentil de sua parte oferecer ajuda a uma estranha. Deveria voltar a dançar, me falaram que essa aula é muito importante.

Leonora, com um brilho travesso nos olhos, jogou a pedra que tinha em mãos na testa do Sempre que estava conversando com a morena. — Alvo na mira, daqui eu acerto!!

— Aiiii!!! Eu vou contar tudo para minha mãe. — O pequeno príncipe saiu correndo com a mão na testa.

A fada ficou boquiaberta, olhando para Lesso com reprovação. — Lesso!!! O que foi isso!? Por que atacou esse inocente jovem?

A ruiva riu de leve, observando o jovem correndo. — Não, inocente jovem não. Olha o jeito que ele corre.

A boa diretora então reconheceu o menino e suspirou. — Ah! É o Alexandre. Lesso, não deveria ter jogado uma pedra nele. — Disse de maneira divertida, soltando uma pequena risadinha que fez Lesso sorrir ainda mais.

A ruiva se preparou para correr. — Tem razão, Clarissa, corre!

A boa fada olhou para a bruxa, incrédula. — Ah, por favor, Lesso. Você não tem medo do Alexandre nem quando ele é grande, quem dirá agora, desse tamanho.

A diretora do mal ergueu as sobrancelhas, apreensiva. — Medo dele eu não tenho, agora da mãe dele. Ele foi contar para a Sra. Ruschel.

A fada arregalou os olhos em choque. — Sangue de Jesus! — Quando a ruiva virou-se para responder a Clarissa, percebeu que a morena já estava do outro lado do salão, correndo em direção à saída.

Lesso gritou, indignada. — Clarissa! Me espera! — Ela correu atrás da morena, recebendo risadas dos demais alunos que presenciaram a cena.

A morena continuou a correr, falando. — Leonora, corre! — Ambas só pararam quando já estavam na ponte que une as duas escolas.

A bruxa se apoiou nos joelhos, tentando recuperar o fôlego. — Olha, só lembrando que no dia do nosso casamento, você falou muito sobre companheirismo e acabou de me deixar para trás com um joelho que é equivalente a um graveto.

Clarissa soltou uma risada, tentando disfarçar o nervosismo. — A culpa é sua que me assustou. Além disso, o Alexandre não vai atrás da Rayza, e sim da professora Margarida.

A ruiva fez uma careta de nojo. — Credo, Storian é testemunha do quanto eu não gostava dessa professora.

A morena riu, balançando a cabeça. — Ela nem te deu aula.

Leonora deu de ombros. — Mesmo assim, só pela cara dava para ver que era chata. Igual à Anemone.

Clarissa respirou fundo, olhando para o castelo dos Nunca. — Vamos entrar? — Esse lugar a deixava desconfortável, voltar lá não seria nada fácil.

Lesso colocou a mão no ombro de Clarissa, tentando confortá-la. — Vamos. Essa coisa de viajar no tempo é obra da Ruschel. Vamos encontrar a versão jovem dela e tentar convencê-la a nos mandar de volta. — A reitora falou enquanto tirava o sobretudo e tomava a frente do caminho.

A morena suspirou fundo e assentiu. — É um ótimo plano, cheio de falhas! Rayza como reitora... você sabe que ela não é a mesma Rayza que conhecemos, né? Nesta época, provavelmente ela estava no auge da maldade. — A boa fada fazia o máximo de esforço para acompanhar sua amada.

Leonora apertou a mão de Clarissa, determinada. — Eu sei muito bem como ela é nessa época, minhas costas ainda hoje doem pelas torturas que passei na mão dela. O problema é que ela será nossa única chance. — A ruiva entrou sorrateiramente no castelo, largando o sobretudo em um lugar qualquer para não atrapalhar. Em seguida, segurou a mão de Dovey, com medo de perdê-la durante o percurso, e a conduziu pelos corredores do castelo, subindo e descendo escadas.

Clarissa olhou ao redor, desconfiada. — Estamos chegando perto do quarto da Rayza, não é? — Ela perguntou, apertando a mão da bruxa.

Leonora assentiu, mantendo-se alerta. — Sim, como sabe? Você mal andava por esses corredores.

Clarissa franziu o cenho, sentindo um frio na espinha. — Porque estou sentindo uma coisa muito ruim no peito.

Leonora sorriu de leve, tentando confortá-la. — É normal. Ninguém se sente bem perto dos reitores do mal.

Clarissa fez uma careta. — Tá bom. Esses corredores têm um cheiro tão...

Leonora a interrompeu, brava. — Não começa, Clarissa.

Clarissa sorriu, apesar do medo de dizer algo errado. — Peculiar. Tem um cheiro peculiar...não estou falando mal dos Nunca. Acalme-se.

Você é meu amor ( Dovesso Lesso X Dovey)Onde histórias criam vida. Descubra agora