Capítulo 1: Ilusão.

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Point of View de Camila.
  
  
O sol escaldante de Miami parecia querer me derreter junto com todas as minhas dúvidas, enquanto eu atravessava os corredores lotados da escola. As risadas e conversas enchiam o ambiente, um som distante, como se eu estivesse cercada por um mundo que não era meu. Apertei meus livros com força contra o peito, tentando usá-los como uma barreira invisível contra os olhares que eu sabia que estavam sobre mim. Não precisava olhar para saber que algumas das risadas abafadas eram sobre mim. Eu sentia isso no ar, e principalmente agora que eu estava... namorando Lauren.

Por um breve momento, meus olhos a encontraram, mesmo sem querer. E lá estava ela, como sempre, no centro de tudo, cercada por seu pequeno séquito de seguidores. Lauren, com o cabelo perfeitamente ondulado caindo sobre os ombros, o sorriso que poderia derreter corações, mas que, para mim, ultimamente, parecia frio. Ela passou por mim sem nem um olhar, sem um aceno, como se eu fosse invisível. Como se o que tínhamos—ou o que dizíamos ter—não passasse de algo banal.

— Lauren é tão insuportável. — A voz de Dinah cortou o silêncio que eu havia me imposto, arrancando-me dos meus pensamentos. Ela andava ao meu lado, com o rosto rígido, refletindo a frustração que eu tentava esconder. — Sério, Mila, como você aguenta aquilo?

Meu estômago revirou, e eu respirei fundo, tentando disfarçar o desconforto. Dei de ombros, forçando uma leveza que estava longe de sentir. — Ela tem os momentos dela — murmurei, um sorriso falso brincando nos meus lábios, sem nunca chegar aos olhos.

Dinah me lançou um olhar duro, claramente insatisfeita com minha resposta. — Momentos? — Ela riu, uma risada seca, sarcástica. — Ela te trata como se você fosse descartável. E você sabe disso.

As palavras atingiram fundo, como um soco inesperado. Uma parte de mim queria rebater, queria dizer que não era assim, mas a outra, mais honesta, sabia que Dinah tinha razão. Meu peito apertou, mas, por fora, eu mantive a compostura. — Não é tão simples assim — murmurei, tentando não soar derrotada. — Você não entende.

Dinah parou, virando-se para mim com os olhos fixos nos meus, cheios de uma intensidade quase palpável. — Talvez eu não entenda porque você nunca me conta tudo. — Sua voz ficou mais firme, sem espaço para rodeios. — Mas eu vejo o suficiente. Ela te ignora, Mila, te humilha na frente de todos, e você fica aí, fingindo que tá tudo bem.

Minhas pernas vacilaram por um instante, e meus olhos foram involuntariamente até Lauren, a poucos metros, rindo com seus amigos, espalhando seu charme. E lá estava ela, sorrindo para outra garota, aquele sorriso que eu, por tanto tempo, achei que fosse só meu. Meu coração se apertou, como se alguém tivesse acabado de torcer uma faca que já estava cravada.

— Eu não tô fingindo — sussurrei, quase inaudível, como se tentar acreditar nas minhas próprias palavras fosse a última defesa que me restava.

Dinah cruzou os braços, inclinando-se na minha direção, sem recuar. — Não tá? — Seus olhos faiscavam. — Então me responde uma coisa: você tá feliz? Porque do jeito que eu vejo, Mila, você tá se arrastando atrás de uma garota que só sabe te machucar. Isso aí não é amor, e muito menos um relacionamento saudável.

Cada palavra dela parecia quebrar uma barreira que eu havia erguido em volta de mim mesma. Senti meus olhos arderem, mas engoli o choro, determinada a não deixar nenhuma lágrima cair. Vulnerabilidade era a última coisa que eu queria demonstrar.

— Às vezes ela é diferente — rebati, minha voz fraca, quase implorando para acreditar nisso. — Às vezes ela me faz sentir... especial.

Dinah suspirou profundamente, sua expressão suavizando um pouco. — Às vezes não é o suficiente, Mila. — Sua voz agora era suave, mas ainda carregava a força de alguém que se importava. — Você merece mais do que isso, mais do que migalhas.

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