Capítulo 𝐈𝐈𝐈 : Beyond the portal

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A perplexidade ainda me envolvia como um manto pesado: todos que eu amava estavam mortos. No silêncio do jardim, onde antes floresciam risos, agora o eco das minhas lembranças se tornava insuportável. O impulso de fugir queimava dentro de mim, enquanto as chamas devoravam tudo ao meu redor, transformando a realidade em um pesadelo surreal. Perguntei a mim mesma se tudo aquilo era verdade, se os últimos momentos haviam realmente existido. A exaustão me dominava, e, sem forças, caí no chão, imersa na dor e no desespero. Fiquei ali, imóvel, como se o mundo tivesse parado e eu fosse uma mera sombra do que um dia fui.

Finalmente, levantei-me, trêmula e desolada. A força que me sustentava se esvaía a cada instante, e eu cambaleava como uma alma perdida. Foi então que o primeiro relâmpago cortou o céu, revelando nuvens escuras que dançavam, misturando-se com a fumaça da destruição. Os relâmpagos se sucediam, e uma chuva fina começou a cair, trazendo consigo uma sensação de alívio e terror.

A chuva era o meu único aliado, abafando os sons daqueles que me perseguiam, permitindo-me um vislumbre de esperança. Mas à medida que as gotas caíam, elas se misturavam ao sangue seco sob meus pés, e eu sentia cada passo como uma punhalada de dor. Meu cabelo grudava em meu rosto cansado, enquanto o desespero pulsava em meu peito, me impulsionando a seguir em frente, mesmo quando a incerteza e o medo ameaçavam me consumir. Cada som ao meu redor parecia um prenúncio de morte.

─ Finalmente... ─ murmurei, aliviada ao alcançar os grandes pinheiros que guardavam a entrada da floresta. Minha garganta ardia, uma lembrança cruel do que poderia vir, mas não me importava. O que mais poderia eu perder?

Antes que eu pudesse dar o próximo passo, uma figura misteriosa surgiu diante de mim, pairando como um fantasma. Fiquei atônita, paralisada pela presença enigmática.

Era um elfo. Seus olhos, heterocromáticos e profundos, brilhavam com uma luz ancestral, como se carregassem a sabedoria de eras esquecidas. Seu corpo esguio e elegante exalava uma força silenciosa, enquanto as gotas de chuva escorriam por seus cabelos, emoldurando seu rosto simétrico.

─ Antes de qualquer coisa, mantenha a calma. Eu não vou te machucar, ─ disse ele, um sorriso suave nos lábios, ainda que o mundo ao nosso redor estivesse mergulhado em caos.

─ Palavras não têm valor, ─ respondi, a voz trêmula de medo. ─ Você deve estar dizendo isso para me enganar. Eu sei que foi Eros quem trouxe vocês para nos exterminar.

─ Não foi por vontade nossa. Ele está mais forte do que nunca, e nenhuma criatura conseguiu detê-lo. ─ O elfo falava com uma sinceridade que me fazia hesitar. ─ Posso te ajudar a escapar. Se você seguir por esse caminho, sua cabeça poderá rolar.

─ O que você ganharia me ajudando? ─ questionei, a amargura transparecendo em minha voz. ─ Eu perdi tudo: meu reino, minha família, meu amigo. Não tenho nada para oferecer.

─ Não precisa me oferecer nada, por enquanto. Sei que é estranho confiar em alguém que acaba de conhecer, mas prometo que você ficará bem, princesa. ─ Seus olhos brilhantes pareciam encontrar os meus, como se quisessem me aquecer na escuridão. ─ Há seres na floresta que poderão te ajudar. Não tenha medo deles; são confiáveis.

─ Como sabe que sou uma princesa? Você estava me espionando? ─ As batidas do meu coração aceleravam, a adrenalina correndo em minhas veias.

─ Por favor, não pense assim! Eu nunca faria isso. Apenas confie em mim. Se você conseguir chegar até eles, terá as respostas que busca.

Reino Rival | O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora