A escuridão e o silêncio são companheiros que Lara conhece bem. Ela sempre teve medo de portas—não das comuns, mas das que parecem guardar segredos sombrios, portais para o desconhecido. Desde aquela noite, há anos, quando uma porta antiga e misteriosa se abriu e sua filha desapareceu para nunca mais voltar, Lara carrega um pavor paralisante desses lugares.
Sentada no sofá da casa de sua namorada, Lara fixa o olhar na porta do corredor que leva aos quartos. Sua respiração é pesada, o coração batendo no peito como um tambor de guerra. As mãos trêmulas seguram uma pequena lâmina, refletindo a luz fraca do abajur.
Lara (sussurrando para si mesma): "Não... Não de novo. Eu preciso parar, mas... não consigo. Por que ela tinha que ir embora? Por que aquela maldita porta tinha que se abrir?"
A lâmina desliza entre os dedos, e Lara olha para o braço, onde cicatrizes antigas marcam a pele. Ela hesita, segurando a lâmina perto da pele, o olhar perdido na madeira escura da porta que a assombra.
Lara (com a voz trêmula): Sofia vai odiar isso... Ela vai me deixar. Mas se eu não fizer, as memórias vão... vão me destruir.
Uma lágrima solitária escorre por seu rosto, caindo sobre o braço tenso. O som do silêncio é interrompido pelo zumbido suave do celular na mesa ao lado. Lara pega o aparelho com as mãos trêmulas. É uma mensagem de Sofia, sua namorada, perguntando como ela está.
Mensagem de Sofia: Oi, amor. Estou saindo do trabalho agora. Chego em 30 minutos. Como você está?
Lara (respondendo a mensagem): Estou bem, só um pouco cansada. Mal posso esperar para te ver.
Lara deixa o celular de lado, e a lâmina escorrega de sua mão, caindo no chão. Ela abraça a si mesma, tentando conter as lágrimas que agora escorrem livremente.
Lara (sussurrando): Eu preciso de ajuda... mas e se for tarde demais?
O olhar de Lara volta-se novamente para a porta do corredor, agora uma presença ameaçadora que parece aguardá-la, como se estivesse à espreita, esperando o momento certo para revelar os horrores do passado.
A vida com sua namorada, Sofia, tem sido um refúgio de paz em meio ao caos interno, mas mesmo o conforto da casa de Sofia não apaga o medo constante que habita Lara. Cada porta trancada, cada passagem escura na casa de Sofia, desperta um terror que ela tenta enterrar cortando-se, uma tentativa desesperada de silenciar os gritos internos que a assombram. Hoje, porém, Lara está sozinha em casa, e as paredes parecem se fechar ao seu redor. A memória da porta, do portal e da tragédia volta à tona, e ela precisa enfrentá-la ou se perder para sempre.
Ela caminha pela sala, os olhos se fixando na porta do corredor. Cada passo é pesado, como se seus pés estivessem presos ao chão. A lâmina que ela sempre mantém por perto parece chamar por ela, oferecendo uma fuga momentânea do tormento que pulsa em sua mente.
Lara (falando para si mesma, com voz hesitante): Se eu abrir aquela porta... vou encontrar o mesmo abismo que levou minha filha? Ou só o vazio de um passado que não consigo deixar pra trás?
A lâmina brilha em sua mão, um reflexo do desespero que consome Lara por dentro. Ela se aproxima da porta, as lembranças da noite fatídica rodopiando em sua mente como fantasmas.
Lara (com os olhos fixos na porta): Eu... eu não posso viver assim. Preciso fazer isso parar, de alguma forma.
A dor interna grita por alívio, e Lara sente a lâmina pressionar contra sua pele, um corte pequeno, mas suficiente para trazer uma breve distração. Ela fecha os olhos, as lágrimas caindo enquanto um alívio doloroso a invade.
O som de uma notificação do celular corta o silêncio novamente. Com as mãos trêmulas, Lara pega o aparelho e vê outra mensagem de Sofia.
Mensagem de Sofia: Chego em casa em 15 minutos, amor. Trouxe algo especial para o jantar. Espero que você esteja bem.
Lara olha para a mensagem, sentindo um misto de amor e culpa. Ela solta a lâmina, deixando-a cair no chão com um pequeno estalo.
Lara (sussurrando, quase inaudível): Sofia... eu preciso de você agora. Eu... não consigo fazer isso sozinha.
A casa parece respirar ao seu redor, as sombras alongando-se enquanto Lara se senta no chão, abraçando seus joelhos. A porta, sempre presente, parece pulsar, como se tivesse vida própria, aguardando o momento de envolver Lara em suas trevas.
A tensão no ar se intensifica enquanto Lara permanece sentada no chão, os joelhos abraçados contra o peito. A lâmina agora descansa a poucos centímetros dela, esquecida, mas ainda um lembrete silencioso de seu sofrimento. A casa, silenciosa e vazia, parece ecoar os sussurros de suas memórias mais dolorosas, aquelas que ela tenta desesperadamente reprimir.
A porta do corredor é um portal para o passado, um vestígio da noite em que sua vida foi despedaçada. Lara sente seu coração bater mais rápido, o medo misturado com uma sensação avassaladora de impotência. A cada segundo que passa, a porta parece se tornar mais ameaçadora, como se o próprio destino estivesse esperando que ela a abrisse.
Lara (sussurrando para si mesma): E se... e se eu nunca conseguir superar isso? E se eu estiver condenada a viver nessa escuridão para sempre?
Ela se levanta lentamente, as pernas trêmulas sob o peso de sua angústia. Aproxima-se da porta, hesitando. O corredor além parece engolido pela penumbra, uma escuridão que esconde mais do que apenas sombras. Lara estende a mão, os dedos trêmulos tocando a maçaneta fria.
Lara (com a voz fraca): Só mais uma vez... Só mais uma vez, e talvez... eu consiga encontrar alguma paz.
Enquanto ela segura a maçaneta, uma onda de pânico a atinge, o terror de reabrir a ferida que nunca cicatrizou. Ela recua bruscamente, tropeçando para trás, o som de sua respiração acelerada preenchendo a sala. Os olhos se enchem de lágrimas, e Lara cai de joelhos, o corpo sacudido por soluços incontroláveis.
Neste momento de desespero absoluto, a porta da frente se abre. Sofia entra, o som de seus passos leves na madeira ecoando na casa. Ela percebe Lara no chão, imediatamente deixando o que estava segurando e correndo até ela.
Sofia (ajoelhando-se ao lado de Lara): Lara! O que aconteceu? Você está machucada?
Lara levanta o olhar, os olhos cheios de dor e vergonha. Ela tenta falar, mas as palavras se perdem em um nó na garganta. Sofia segura o rosto de Lara entre as mãos, forçando-a a focar em sua voz suave e calma.
Sofia (com firmeza, mas com ternura): Estou aqui agora, amor. Você não precisa passar por isso sozinha. Vamos superar isso juntas, ok? Só precisa confiar em mim.
Lara soluça mais uma vez, mas desta vez ela sente uma pequena faísca de esperança no calor do toque de Sofia. Ela sabe que a estrada para a cura será longa e dolorosa, mas, com Sofia ao seu lado, talvez, apenas talvez, ela consiga encontrar a força para enfrentar seus demônios.
Sofia abraça Lara com força, e as duas ficam ali no chão, enquanto a escuridão do corredor parece recuar, pelo menos por enquanto, diante do amor e do apoio que finalmente chegaram.
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Minha Galáxia Cor de Rosa (Safo)
Romantizmé uma história encantadora que se passa em um universo onde as estrelas brilham em tons de rosa. Morgana, uma escritora sonhadora, e Jully, dona de uma editora, são duas jovens que vivem nesse mundo vibrante, onde suas vidas se cruzam de maneira ine...