Sangria - Tom Marvolo Riddle

1.

O vício é a marca de toda história de amor baseada na obsessão. - Elizabeth Gilbert

Eu vivi tempo suficiente, eu li incontáveis livros, tudo calculado da forma mais perfeita possível, eu consegui o emprego em Hogwarts, eu sou o professor de Defesa Contra Arte das Trevas, eu estou conseguindo o impossível que sempre desejei, mas um vislumbre de uma mulher em uma loja de joias antigas me desencadeou uma onda de sentimentos aos quais eu não consigo suportar.

É dilacerante, eu a vejo em todos os lugares da minha mente, se eu fechar meus olhos e tentar me concentrar ela ainda vai invadir, quase discretamente o fundo da minha mente, e se alojar como um parasita corroendo todas as paredes do meu cérebro, e não há nada que eu possa fazer.

— Professor?- Ouço um dos alunos do primeiro ano me chamar.
— Ah sim, peço desculpas, bem, como eu ia dizendo as magias que iremos estudar hoje estão na página 57 do livro de vocês...- Olho para os alunos e vejo uma garotinha ao fundo levantar sua mão receosa. — Sim?- Aceno para ela.
— Professor Riddle, o senhor já pediu para abrirmos os livros, na verdade o senhor já nos explicou sobre os três primeiros feitiços...- Sua voz é baixa, me encosto na mesa passando a mão pelas têmporas, eu já não consigo se quer dar aula como deveria, só espero que nenhum dos pestinhas abra a boca sobre minhas falhas, se não, eu serei expulso, tudo isso pela maldita trouxa.

...

Sabia que não era uma boa ideia ter ido ao encontro dela, mesmo que no fim para ela tenha sido apenas uma alucinação, ou assim espero, afinal ela não deve saber nada sobre magia, bom, pelo menos não deveria saber. Eu me senti o ser mais imundo possível ao aparatar para o meu quarto nas masmorras do castelo, jamais irei repetir isso em voz alta, mas impossível negar a beleza esplêndida daquela mulher, é quase como se ela fosse uma bruxa, não como nós estamos acostumados, mas sim aquelas das histórias trouxas, as quais bebem sangue e se mantém jovens, ou que possuem uma beleza surreal e diabólica; acredito que eu não seja o único a pensar desta forma, visto que na igreja vários burburinhos sobre ela se faziam bem presentes, também o fato dela estar em um banco nos fundos sozinha fazendo todos manterem uma certa distância, era completamente bobo.

Imaginei que ela provavelmente estava se sentindo muito mal com a atitude dos irmãos de igreja, mas ao prestar mais atenção vi que ela parecia alheia a tudo e todos, apenas ao final do culto pude ver um lampejo de esperança nos olhos dela, é claro, não entenda mal, não é como uma pessoa mortificada ou com cara de poucos amigos, pelo contrário, sua expressão é convidativa, não há nada rude nela, parece que até seus passos são gentis, é quase etéreo, mais motivos da desconfiança de bruxaria, para tolos, claro.
Mesmo depois, mesmo comigo diante dela, mesmo assim, Cecília em nenhum momento demonstrou medo, ela nem aos menos falou nada, e... se tocar de forma tão... simples? Bastou a minha presença, nada mais, nem um toque ou se quer uma conversa, isso me intriga mais do que deveria, foi por isso que dei meu nome, porque é a mulher que mais me deixou confuso, sentindo uma estranheza palpável ao mesmo tempo que o fogo me consumia com a vontade de devorar seu corpo maldito.

Senti vontade de abrir a cabeça dela e ver o que tinha em sua mente, alheia a tudo durante o dia, nem mesmo o estranho da loja em sua casa foi capaz de fazer ela mudar a expressão serena no rosto, o que é você? O que é toda a serenidade desse olhar? Ou posso eu estar enganado e na verdade você é como as viúvas negras, vai tentar me matar no segundo que eu encostar em você?... Se for esse o caso então eu espero que sua carne tenha o gosto tão saboroso quanto aparente, pois sua morte será por minhas mãos.
Eu nunca pensei que meu nojo e minha repudia poderiam absorver essa obsessão e coexistir dentro de minha mente junto dela.

Depois de tantos pensamentos, tantos sim ou não, decidi ouvir meu lado racional, eu não iria mais procurar aquela mulher, e eu espero que Cecília acabe com um fim trágico, sem qualquer misericórdia, afinal ela precisa ser responsabilizada por ter a audácia de querer mexer com a cabeça de um bruxo, a raça que ela deveria lamber os pés e implorar pela vida.
Não passa de uma tola, vivendo em meio aos tolos, sem qualquer resquício de sangue bom, apenas sujeira e peste, pragas que serão extintas por minhas próprias mãos, e não irá tardar.

Ou talvez, eu mesmo de a ela, seu destino trágico...

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Um sagrado beijo em seus corações!

Miah.