Entre Sombras

INSTRUSOS

   No outro dia no trabalho, não conseguia parar de pensar no que vi na noite passada. Eu com certeza voltaria lá hoje ou amanhã, O que importa é que alguém vai salvar ou vingar Esther.

— Você está bem, Carla? — Daniel me perguntou, sua voz parece preocupada enquanto seus olhos estavam no meu rosto.

   Daniel é meu único colega aqui no trabalho. O resto são todos insuportáveis, são mesquinhas e fazem comentários maldosos isso torna cada dia aqui um desafio.

— Estou sim, é que me aconteceu umas coisas ontem que me deixaram um pouco desnorteada, mas nada de mais. — Minha voz calma, mas por dentro estava uma cachoeira de dúvidas. Eu queria falar para ele, mas não sei, sabia que precisava contar para alguém.

   Antes que ele pudesse sair, eu puxei o braço dele para dentro da sala de reunião, os meus dedos apertando seu braço.

— O que foi isso? — Ele perguntou, os olhos arregalados de surpresa e um pouco de medo.

— Eu vou te falar uma coisa, mas você tem que prometer que vai ficar de bico fechado! — Minha voz estava baixa, quase um sussurro, estava com medo de ser ouvida por alguém além de Daniel.

   Ele ficou assustado de primeira, mas seu olhar foi suavizando enquanto meu olhos fixavam nos seus, ele desviou o olhar e pareceu envergonhado.

   Logo passou e ele ficou mais curioso, inquieto como se estivesse se preparando para uma revelação surpreendente.

— Pode falar. — Pensei antes de falar, tentando achar uma maneira de contar aquilo em palavras leves.

— Eu tenho uma amiga e nós nos encontramos todas as quartas à noite em um restaurante no centro da cidade. Ela estava tendo problemas com o marido da última vez que a gente se encontrou, mas o marido dela não deixou ela terminar de falar. E essa quarta-feira, ontem, ela não compareceu, então resolvi ir na casa dela. Chegando lá, vi por dentro do carro dele o marido dela estava jogando restos de algo que parecia ser pedaços de corpo humano para os cachorros, Você entendeu o que eu estou pensando?

— Carla, você sabe que isso é uma acusação séria! — Falou ele como se estivesse me dando bronca, sua voz saiu preocupada mesmo assim.

— Esse nem o maior problema, ele sabe que eu estava  ontem na casa dele o observando de noite! — E isso realmente era o que me deixava mais aflita, ele viu que vi, e eu vi que ele me viu.

— Mas você falou que estava dentro do carro, e seus vidros são escuros!

— Mas ele já viu meu carro inúmeras vezes. Eu vou lá mais tarde, você quer ir comigo?

Daniel era uma pessoa medrosa, mas aceitou ir comigo às oito e meia, dando a desculpa de que não deixaria eu ir sozinha. Eu acho que sozinha ficaria mais segura do que com ele.

20:30

   Cheguei antes de Daniel porque queria dar uma espiada sozinha, mas com pouco tempo ele também chegou. Por nossa sorte, não havia ninguém em casa, e íamos entrar.

— Carla, você sabe que isso é crime, né? Invasão de privacidade. — Ele só estava com medo, suas palavras saíram sussurradas.

   Bufei e respondi brava.

— Não se for para descobrirmos um crime, se eu estiver certa claro.

Antes de irmos para o quintal externo, olhamos em todos os cômodos da casa. Eu achei o celular de Esther com todas as ligações perdidas. A tela estava toda trincada e suja de sangue. Coloquei dentro da minha bolsa, sentindo um arrepio percorrer meu corpo todo ao tocar no aparelho.

— Vamos para o quintal agora. — Afirmei.

— Falta olhar aquele quarto! — Daniel apontou para o cômodo e nós fomos. Entrando no quarto e era o de Esther, mas as roupas de Esther não estavam mais ali. Ao invés disso, tinha uma mala e um porta-retrato de cabeça para baixo. Tinha uma foto de uma garota ruiva, magra e alta sorrindo. Peguei na mão, e antes que pudéssemos ir para o quintal, escutamos a caminhonete de James chegando.

   O som do motor rugindo do lado de fora fez meu coração saltar no peito, e olhei para Daniel com ansiedade.

— Temos que sair daqui agora! — Sussurrei, meus olhos arregalados de pânico enquanto me preparava

   Conseguimos sair pela janela, quando chegamos ao meu carro, que deixei no fim da rua para James não ver, respirávamos ofegante

— Você tá com o celular que pegou ai ainda?

— To sim. — respondi estendendo o celular.

   Ele parecia querer falar algo mas o faltava coragem.

— Podemos dar uma olhada nele lá em casa amanhã se você quiser.

— Ah claro, a tarde? — Ele disse que sim e então fomos para nossas casas.