O PEQUENO BARCO

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   Ouço os tênis barulhentos de Daniel se aproximando da minha porta antes mesmo que ele pudesse bater. Seus passos ressoavam no corredor, denunciando sua chegada. Logo em seguida, ele bate na porta e eu me apresso para abri-la.

   — Já está tudo pronto para nós irmos? Lembrando que vamos só investigar, né? — Pergunta Daniel, com uma expressão de ansiedade evidente em seu rosto, seus olhos piscando rapidamente enquanto ele ajusta os óculos sobre o nariz, nunca tinha visto ele de óculos mas ressaltava seus olhos cor limão.

— Não está tudo pronto, e não, se eu tiver que tomar providências, eu vou tomar! É nisso que vamos trabalhar hoje, pretendo colocar um fim nessa investigação hoje, com a ajuda da polícia ou não. — respondo, com determinação na voz, tentando transmitir uma calma que eu mesma não sentia completamente. Meu plano era muito mais arriscado do que ele imaginava, mas ele não precisava saber disso agora, Daniel parece confuso com a minha resposta e questiona.

— Como assim? A gente vai prevenir possíveis erros?

   Decido não dar uma resposta concreta para ele. Se eu revelasse meu plano principal, de tomar medidas mais drásticas se necessário, ele certamente não concordaria em me ajudar. Daniel sempre foi o mais cauteloso de nós dois, sempre preferindo a segurança da observação.

   Em vez disso, vou levar ele até um pequeno lago afastado da cidade, Quando dou partida no carro, Daniel tira uma revista em quadrinhos do bolso, se distraindo com as páginas coloridas.

— Marvel? — pergunto, tentando aliviar a tensão no ar.

— Sim, sempre carrego uma comigo. — responde ele, com um sorriso tímido.

— Legal.

   Páramos de falar por um bom tempo mas Daniel começa a cheirar o ar e volta a perceber as coisas ao seu redor.

— Seu carro cheira a morango, mas um morango de sabor artificial.

— Não é o carro, é o meu perfume.

— Ah, sim, gostei.

— Bom saber, vou usar com mais frequência.

   Na verdade, não vou usar com mais frequência. Usei este perfume por estar sem opções.

   todos os meus outros acabaram e acho este bem doce.

*

   Daniel já largou a revista faz tempo e está cerrando as unhas há quase uma hora. Acho que já ficou sem elas. Ele sempre ficava nervoso quando algo importante estava para acontecer.

— Ei, pare com isso, você sequer tem unhas ainda?

— Argh! Tá bom. A gente já tá chegando?

— Já sim! — Enquanto falo, Daniel abre o vidro para jogar a lixa de unha fora.

   Ele joga, mas continua com a cabeça para fora do carro, olhando para trás. Depois volta seu corpo para dentro e olha pelo retrovisor.

— O que foi? — Pergunto, tirando o foco da estrada.

— Tenho a impressão de que já vi a moça que está dirigindo o carro atrás de nós.

   Olho pelo retrovisor, desacelerando o carro, mas não perceptivelmente. E, merda! É Celeste.

   Apesar do carro baixo e dos vidros escuros, consigo ver claramente seus cabelos cor de fogo em coque. Fecho os vidros. Ela está nos seguindo, mas sem James, isso não faz sentido.

   Viro na primeira rua à esquerda e continuo olhando para o retrovisor. Ela também virou. Fiz isso mais algumas vezes e ela realmente estava nos seguindo.

Entre SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora