CONVERSA COM EMMA

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Como combinado, no horário do almoço de Daniel,
fomos à casa da irmã de Estela. Eu sabia o lugar porque já tinha ido lá com ela uma vez. Chegando lá, bati na porta e ela abriu.

— Oi, Carla! — Ela olhou ao redor como se estivesse procurando alguém.

— Onde está a Estela?

— A Estela não veio, Emma. — Ela nos convidou para entrar com um gesto da mão, e eu contei tudo que aconteceu para ela, A casa tinha uma decoração simples, com fotos de família espalhadas pelas paredes, e um aroma de café.

— Sua irmã não está mais entre nós.

   Ela parou de andar quando a frase chegou aos seus ouvidos, e antes que pudesse se virar, vi uma lágrima cair no chão. Passamos horas e horas conversando sobre o assassinato de sua irmã. Ela chorou muito, muito mais do que um ser humano pode chorar. Consegui fazer ela se acalmar enquanto, a todo momento, Daniel marcava o relógio com a mão, falando sobre seu tempo ser pouco. Ele parecia dividido entre voltar ao trabalho ou  apoiar aquela situação delicada.

— Sempre disse pra Estela que aquele homem não prestava. — Emma disse entre soluços.

   Eu não sabia disso. Antes de tudo acontecer, para mim, ele era uma pessoa boa pelo menos.

— Mas o que você queria que eu fizesse? Disse que precisava da minha ajuda, o que é? — Ela perguntou, tentando se recompor.

— Não é nada demais. Se a polícia vier me acusar aqui, diga que estava comigo na noite passada, independente do dia.

   Ela me olhou desconfiada, mas depois sua expressão suavizou e lágrimas voltaram a rolar.

— Você é das minhas, boa sorte. — Ela disse com uma força na voz, parecia passar pra mim toda coragem que tinha.

   Acabar com James não é o meu plano principal. Eu só quero obter provas e levar para a polícia. Provas concretas. Mas se ele não deixar isso acontecer, vou ter que ir para o plano B.

— Está tudo bem, mas vai me avisando. Eu quero saber se a minha irmã realmente tiver sido assassinada. — Emma era uma mulher forte de personalidade e quase por nada se deixava abalar, mas pela primeira vez vi que se descontrolou. Me senti na obrigação de dar um abraço nela. Senti seu corpo tremer enquanto ela chorava no meu ombro. Ela olhou para Daniel e agradeceu por estar ajudando.

— Obrigada e me desculpem por qualquer coisa. — Assim que saímos de lá, fomos rapidamente para o trabalho. Claro que eu fui só deixar Daniel. Perdemos a noção do tempo e ele ia levar bronca provavelmente. Quase chegando, nossos celulares apitaram e as notificações eram do jornal online da cidade. Eles só mandavam notificação quando era algo realmente importante. Nós nos olhamos e ele pegou o celular, ficando paralisado por um momento olhando para a tela.

— Carla, eu acho melhor você ver isso. — Ele me mostrou o celular.

   Ele me mostra uma reportagem onde o marido ou ex-marido de Estela fala sobre o "desaparecimento" da mulher. A foto de Estela aparecia na tela, acompanhada de um texto.

— Ela tem 26 anos e tem quase 1,70 m, cabelos loiros e olhos escuros, me ajudem a achar minha esposa por favor. — James falava no vídeo enquanto se esforçava para chorar.

— Que canalha! Por que ele demorou tanto tempo para isso? — Minha voz saiu com mais raiva.

— Talvez ele estava com medo. Não tem como saber!

  Ele devia estar esperando o corpo se decompor ou estava escondendo as coisas que o incriminassem. Tanto faz, essa mentira não iria durar tanto tempo se isso dependesse de mim.

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