A GAROTA RUIVA

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Essa quarta-feira preferi não ir ao restaurante que costumava frequentar com Estela. Nem estava com tanta fome e nem tempo para comer estava me sobrando. Precisava traduzir alguns documentos estrangeiros para a empresa onde trabalho, e a pressão para terminar logo estava começando a pesar na minha cabeça

   Preferi ir a uma cafeteria. A casa de James era no meio do caminho para a cafeteria, então peguei meu computador, alguns papéis e uma caneta, entrei no carro e fechei os vidros escuros, como se estivesse bloqueando o mundo, A cidade estava movimentada, com pessoas indo e vindo, mas eu estava focada.

   Não demorou muito a passar pela casa dele, que dessa vez estava iluminada. As luzes brilhavam através das janelas, lançando um brilho acolhedor na calçada. James estava na parte de fora da casa, bem vestido, como se estivesse pronto para sair. Usava uma camisa social e calças bem passadas, o que era estranho para ele, não costumava sair assim. Não dei importância e quase arrombei o acelerador de tão fundo que pisei, tinha a urgência de chegar ao meu destino.

   Ao chegar no café, um pequeno estabelecimento aconchegante com uma decoração em verde pastel, coloquei primeiro minhas coisas sobre a última mesa, esperando encontrar silêncio para trabalhar enquanto jantava. Os assentos dos restaurantes eram aqueles grandes acolchoados que são quase uma parede de uma mesa para a outra, possibilitando que eu ficasse escondida e sozinha, além da grande placa de vidro refletivo ao meu lado, permitindo-me ver o trânsito e o movimento na rua. Enfim, o assento perfeito. Coisas simples assim costumam me deixar feliz, algo calmo no caos do dia a dia.

   Deixei as coisas lá e fui até o balcão, onde só havia uma atendente disponível. Ela estava de costas, arrumando algumas xícaras, mas mesmo assim comecei a falar, minha voz saiu leve no ambiente tranquilo.

— Boa noite! Eu vou querer um capuccino. — Congelei ao ver a moça virar pra mim. Era a garota ruiva da foto, a mesma que havia visto anteriormente no porta retrato na casa de Estella em uma situação suspeita. Seus olhos verdes brilharam.

— Boa noite! Você pode esperar um pouco? Vou chamar outro atendente, é que meu turno acabou. — Ela disse com um sorriso forçado.

   Continuei sem dar uma resposta, estava boquiaberta, tentando processar a coincidência de encontrá-la ali.

— Tudo bem, moça?

— Tudo sim! Você me parece familiar. — Respondi, tentando manter a postura enquanto meu coração batia a mil por hora.

   Ela sorriu novamente, dessa vez mais genuinamente, e foi para os fundos do restaurante chamar o outro atendente. O motor da caminhonete de alguém fez barulho lá fora ao estacionar, e eu me virei instintivamente para ver quem era. Era James. Que sorte a minha.

   Me fechei no banheiro, um pequeno cubículo com azulejos brancos e um espelho gasto, e pude escutar a moça voltar. Coloquei um olho entre a abertura da porta para ver sem ser notada.

— Ué, podia jurar que tinha uma mulher bem aqui. De qualquer forma, já estou indo.— A voz dela ainda sendo ouvida por mim, soando confusa.

— Tchau, Celeste! — A voz do outro atendente, bem masculina, ecoou pelo café vazio.

   Quando escutei o sino da porta tocar, sinalizando sua saída, saí do banheiro sem medo, pois o vidro que cobria a cafeteria era escuro e espelhado, impedindo que alguém de fora visse o interior. Ela deu um beijo em James e entrou no carro. Eles saíram,. Ao me virar, o atendente estava olhando para mim, confuso com meu comportamento estranho.

— Você não me viu aqui! — Resmunguei, tentando ser autoritária, mas ele deu de ombro e voltou pros fundos, provavelmente pensando que eu era apenas mais uma cliente estranha, as pessoas não costumam ser muito normais em Oakwood.

   Eles iam para a casa de James quase certeza, e mesmo se não fossem, eu precisava saber se iam. Sai rápido dali com minhas coisas, joguei-as no banco de trás e abri meu celular na conversa com Daniel, digitando rapidamente.

(• Casa do James agora, não dá tempo de explicar.)

(•A mamãe já dormiu mesmo, então certo.)

Entre SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora