MUDANÇAS

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   Já não me recordava do meu surto e das coisas que disse para Daniel na noite passada. Eu estava observando o perfil de James nas redes sociais e consegui um print das redes sociais dele de dois meses atrás.

Antes e depois: estão no banner do capitulo pq não consegui colocar no meio da história.

— Carla! — Era Daniel.

— Oi, Daniel. — Continuei olhando para o computador. Ele ficou um tempo parado a quase um metro de distância, mas depois chegou mais perto.

— Desculpa por ontem, eu falei besteira.

— Tá tudo bem, eu também não devia ter falado daquela maneira com você. Mas você ainda vai me ajudar a procurar pela Estela?

   Ele me pareceu meio inseguro de responder, e eu não o culpo. Desde o começo ele não queria, então não posso forçar. Mas, para minha surpresa, ele aceitou.

— Tá, eu ajudo! — Fiquei com um pé atrás, pensando em confiar completamente na resposta.

— Tá, então olha isso! — Apontei para o computador.

Assim que bateu o olho, ele ficou meio confuso, franzindo a testa.

— O que seria isso? — Ele me questionou.

— Este aqui é o perfil do James nas redes sociais de dois meses atrás, e este aqui é de hoje! Olha que há dois meses tinha uma aliança na bio que vinha junto com "casado" e ele tirou, além de que antes o perfil de Estela estava marcado na bio e agora não está mais. — Ele continuou olhando na esperança de ver algo a mais, seus olhos movendo-se rapidamente pela tela.

— E o banner do perfil! Tinha uma mulher e agora não tem mais!

— É a Estela! — Ele olhou para trás e nosso chefe, Soares, estava nos olhando. Então ele foi para a cadeira dele e eu fiz um sinal com a mão para a gente se falar depois.

   Apesar de ter disfarçado, fui chamada por ele. Odiava falar com ele, ele era sempre muito mandão e autoritário, não suporto gente assim.

— Carla! Minha sala, por favor.

— Sim, senhor. — Eu disse, fechando o notebook com um suspiro de pré-morte fofo.

   Dirigi-me até sua sala, sentindo o peso de cada passo. Ele estava sentado com a cara fechada e com os dedos cruzados, fazendo força com o braço sobre a mesa.

— Você não me enviou os documentos traduzidos, o prazo era até ontem, Carla.

— É que, na verdade, eu não terminei. — Estava em encrenca, com certeza. Meu estômago revirava enquanto tentava encontrar uma desculpa válida.

   Ele colocou a mão na testa, pressionando fortemente, como se tentasse conter a frustração.

— Consigo entregar ainda hoje se me der mais tempo. — Ele me interrompeu com um grito antes que pudesse terminar de falar.

— NÃO! Não consegue. Mais tempo? Você está demitida. — Não pude conter as lágrimas que rolaram no meu rosto.

   Nenhuma delas era de tristeza, eu sabia que essa demissão não tinha sido só pelos documentos. Tenho falhado muito atualmente no trabalho, mas precisava do dinheiro. Minhas mãos tremiam enquanto absorvia a notícia com sangue nos olhos.

   Saí da sala dele batendo a porta, abafando seu grito de raiva. Peguei minha bolsa e fui em direção ao elevador para sair do lugar. Daniel veio atrás de mim, claramente preocupado.

— Você está chorando? O que aconteceu? — Sua voz estava cheia de preocupação e simpatia.

— A gente conversa sobre isso depois, não estou com cabeça. — Minha voz saiu mais grossa do que pretendia.

   Antes de entrar no meu carro, passei no carro do lado, que era do meu chefe, e arranhei a porta com a chave. A sensação de vingança momentânea, me deu uma breve satisfação. Saí disparada depois disso.

*

   Nove da noite e eu estava tentando dormir, minha cabeça estava a mil. Cada pensamento parecia mais pesado do que o anterior, impossibilitando qualquer tentativa de descanso. Então escuto algumas batidas na porta, meio abafadas pela chuva que caía lá fora.

— Quem é? — Perguntei.

— É Daniel, abre aqui. — Sua voz veio acompanhada pelo som da chuva.

   Andei rápido para não deixá-lo se molhar tanto. Ele estava encharcado e não fazia sentido estar ali. Ele entrou assim que abri a porta, molhando a casa inteira com suas roupas encharcadas. Tirou o moletom e pendurou em uma cadeira.

— Queria saber o que aconteceu hoje de manhã no trabalho. — Ele disse, tentando disfarçar a curiosidade com um tom de preocupação.

— Você veio aqui nessa chuva só por isso? Fofoqueiro. — Respondi, tentando aliviar a tensão.

   Ele deu uma risada e fez que não com a cabeça, seus olhos brilhando com uma mistura amor e preocupação.

— Você saiu chorando, vim ver como você estava, na verdade. — Sua honestidade me tocou.

Fofo.

— Estou bem, na medida do possível. O Soares me demitiu hoje mais cedo. Esqueci de entregar os documentos que ele me pediu semana passada traduzidos. — Expliquei, sentindo o peso do dia inteiro.

— Mas demitiu só por isso? Que babaca.

— Na verdade, eu reconheço que venho pisando na bola ultimamente. — Admiti sendo justa.

— Mesmo assim, você daria uma chefe melhor.

   Passamos o resto da noite conversando sobre assuntos do trabalho e como o chefe e o resto eram insuportáveis. A conversa fluía facilmente, e pela primeira vez em muito tempo, senti uma leveza nesse momento. Passamos a falar sobre Estela e ele percebeu meu semblante ficando triste.

   Ele me abraçou por trás, me colocando deitada sobre seu peito. Ele cheirava bem, mas ainda estava úmido. Mesmo assim, isso não impedia de passar calor para meu corpo. A sensação de segurança era reconfortante. Ele beijou minha testa e então me afastei devagar.

   Ele continuou olhando para o teto, dessa vez estava rosado, como se estivesse com vergonha. Quebrei o clima com uma pergunta.

— Está livre no seu horário de almoço amanhã?

— Estou, sim. — Ele respondeu.

— Vamos na casa da irmã de Estela.

— Certo. — Ele bufou, como se estivesse esperando um convite diferente.

    Apesar disso ele foi embora bem tarde e, antes de ir, me deu outro beijo na testa.

— Tchau!

— Tchau, Daniel!

   Fechei a porta, deixando a sala quente novamente. O som da chuva lá fora parecia mais distante.

Entre SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora