3. Charlotte

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- Como você é alto!! - ela exclamou com o rosto enfiado no meu pescoço. A voz em meu ouvido. Justamente a voz que eu ouvi num canto contra o barulho da queda de água naquele dia, naquela tarde! E aquele corpo inteiro estava contra o meu, justamente o corpo que eu vi, completamente nua, há poucas horas atrás.

- Meu deus... Charlotte??

- Sim, sou eu, Ben! - ela me encheu de beijos no rosto, e eu apertei meus olhos, berrando por dentro.

Aos poucos seus pés tocaram o chão e ela me soltou do abraço. Eu a segurei nos ombros, afastando de mim, para que eu pudesse ver seu rosto. E era o mesmo rosto delicado, de lábios vermelhos e carnudos, o nariz pequeno, os olhos grandes e verdes oceânicos como os meus. Estavam úmidos de lágrimas, os cílios pretos e volumosos prestes a borrar a maquiagem.

- Ben, eu não acredito, que felicidade poder te abraçar, eu sonhei tanto com isso! - ela começou a dizer. Eu peguei ar para explicar o mesmo, porém, fui interrompido. Charlotte continuou disparando. - Você não faz ideia como é maravilhoso te conhecer! Eu morri de ansiedade! Acredita que sou sua fã?? Já revi seus filmes e séries umas quinhentas vezes!

Estava pasmo, olhando aquela beldade angelical, meu coração aceleradíssimo, meu cérebro me mandando incontáveis sensações euforizantes de desejo por milésimo de segundos.

- O que foi? Está assustado comigo, irmãozão? Deve ser esse paletó de montaria horrível, eu estava treinando, os cavalos daqui amam a noite. - enquanto dizia, ela foi abrindo os botões do casaco, tirando.

A situação complicou em dobro quando vi o dorso que eu havia vislumbrado naquela tarde, dessa vez coberto por uma camisetinha justa, que delineava as suas curvas. O mais cruel era o decote, que seguravam os seios fartos. Abaixei cabeça e pressionei as pálepbras com as pontas dos dedos.

- Desculpa, Charlotte. Estou um pouco... confuso.

Ela deu uma risada baixa, e eu a senti se aproximando. Tentei dar uns passos para trás, ainda com a mão no rosto, mas ela segurou meu pulso me fazendo fitá-la novamente. Um cheiro doce e abaunilhado vinha do cabelo trançado, castanhos e macios, jogado sobre o ombro, sob o capacete de hipismo.

- Eu estou muito feliz que você veio, Ben. - ela disse, com a face próxima da minha.

Me encarava. Só me restou engolir em seco. O rosto estava próximo e eu não deixei de retribuir seu sorriso natural, totalmente envolvido. Ela deveria estar me achando um idiota e eu não conseguiria agir como se não fosse. Talvez acontecera rápido demais e eu estivesse perdido, ou talvez ainda houvesse salvação. Tentei não pensar, pois sempre que o fazia, terminava imaginando o que não devia.

Seus olhos enormes e delineados ainda estavam sobre mim, ela analisava os detalhes do meu rosto.

- O que está fazendo? - perguntei.

- Vendo como você é bonito. Já percebeu? Também procuro semelhanças. Você é o Benjamin mesmo, não é?

- É claro que sou... você é mesmo a Charlotte?

- Claro que sim. Estamos meio parecidos, afinal. Papai me disse que você tem uma marca de nascença na nuca, sabia que eu também tenho, com formato de coração?

- Não...

- Quer ver?

- Quero.

Ela afastou, foi inevitável não sentir alívio. O que veio a seguir não colaborou em nada na pressão já presente. Charlotte virou e retirou o capacete de montaria, para que eu visse a marca na nuca. A blusinha era de costas nuas e mostravam a cintura fina, bem torneada que dava caminho para o quadril. Fechei as mãos imaginando como seria se pudesse puxá-la.

Cry Little Sister || Bill Skarsgård Onde histórias criam vida. Descubra agora