5. Estocolmo

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- Ben, eu estou um pouco perdida. Então, eu espero que você possa me explicar o que essa bicicleta, justamente a bicicleta que eu chutei no dia em que eu estava na cascata, faz aqui no seu porta-malas.

Acho que se houvesse um cadáver no bagageiro, seria menos tenso do que a maldita bike.

- Não sabia que você era minha irmã. Eu estava pedalando, e foi uma coincidência assustadora, eu sei, mas eu morria de sede e precisava beber água. Quando fui até lá, você tomava banho, e então... bom, eu... - rangi os dentes sem saber como explicar melhor, passei a ponta dos dedos na testa e pensando em o que dizer. - ... eu a vi. Fiquei olhando. Sinto muito, juro que não sabia que você era justo a Charlotte, minha irmã. Foi por isso que fiquei tão confuso quando te reencontrei.

- Era você mesmo? A bicicleta é sua??

- Sim... por isso eu demorei e me atrasei pro nosso encontro. Eu tive que andar tudo a pé.

- BEM FEITO! - exclamou tão de repente que eu quase pulei. - TARADO! LIBERTINO! Você me viu pelada, que vergonha, seu crápula! - e sem mais nem menos, ela começou a me bater no braço, ou em qualquer lugar que alcançasse.

Na surpresa, tentei me proteger, embora soubesse que merecia os golpes. Passado o susto, me dei conta que Charlotte estava batendo 'de mentirinha' e com um sorriso de canto de lábio.

- Hey, hey! Espera aí! - segurei e ela tentou me chutar. - Charlotte!

Ela parou e me empurrou, brusca. Contudo, foi um empurrão tão insignificante quanto uma brisa, nem me tirou do lugar. Olhei bem para o seu rosto. Encontrei sorrindo, de bochechas rubras.

- Você não está brava comigo?? Que merda é essa? - indaguei arqueando uma sobrancelha.

- Que merda é essa, eu quem te pergunto! Você me viu pelada e acha que vai ficar por isso mesmo?!

- Então o que significa essa cara?

- Que cara, seu besta?? Eu vou fazer o quê? Antes você do que qualquer um. Na verdade... - ela suspirou e ajeitou o chapéu na cabeça. - Na verdade acho que me sinto melhor em saber que foi você quem me viu lá, e não outro homem... Eu estava incomodada.

- Mesmo? - perguntei receoso.

- Sim, mesmo...

Nesse instante reinou um silêncio cômico entre nós. Um olhando para a cara do outro, esperando qualquer comentário que não veio. Charlotte revirou os olhos, e finalizou o clima com um soco, dessa vez em minha barriga. Eu solucei com a boca do estômago queimando de leve.

- Anda, vamos embora. Nosso avião nos espera... - comentou, como se nada tivesse acontecido e entrou no carro.

Guardei as malas no porta-malas, as tacando sobre aquela bicicleta dos infernos. Em seguida, entrei no veículo e dei marcha ré para partirmos. Charlotte estava calada, conservando a feição de que nada aconteceu. Era impressionante como ela agia instintivamente quanto a tudo, e ainda assim, com naturalidade.

Agora minha irmã descobriu que eu tinha a visto nua, e seja lá mais o que pensado sobre ela. Então começou a surgir uma energia ou sensação no ar que eu não saberia dizer se era desconfortável ou favorável. Em nenhuma circunstância devia ser favorável, de qualquer forma, afinal, éramos irmãos. Ao mesmo tempo também não conseguiria dizer que era desconfortável, pois nos envolvia. E, mesmo que isso ficasse persistindo em minha mente, como um farol, algo me dizia que Charlotte pensava o mesmo que eu.

Talvez fosse impressão minha, ou talvez ela estivesse dando sinais e eu tentando buscá-los sem nenhuma sensatez. Para completar, o silêncio piorava tudo. Seria muita imprudência, na posição de irmão, fantasiar algo com ela? Eu fui vítima do acaso, e a desejava antes de reconhece-la. Foi então que me ocorreu, que mesmo que eu não tivesse a visto nua, se nada disso tivesse acontecido, muito provavelmente, eu a estaria desejando mesmo assim. Que inferno!

Cry Little Sister || Bill Skarsgård ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora