Os dias passavam com uma certa normalidade na rotina de William. Depois da conversa com Lilian, ele sentiu uma leveza em seu coração, algo que não experimentava há anos. Lilian, por sua vez, começou a se abrir mais, tanto com William quanto com o resto da turma. Com o tempo, a amizade entre os dois floresceu, e William se tornou um apoio constante para ela.
William ajudava Lilian a se enturmar, levando-a para conhecer melhor seus amigos, Luís e Arthur. No início, eles estavam receosos. Luís, sempre protetor, lembrava-se bem da história da tesoura e desconfiava das intenções de Lilian. Arthur, por outro lado, se mostrava curioso sobre ela, mas ainda assim mantinha uma distância respeitosa.- Você tem certeza disso, William? - perguntou Luís certa vez, enquanto estavam no campo ajudando na fazenda. - Não quero ver você se machucando de novo.
- Tenho, Luís. Ela mudou, sabe? E eu realmente acredito que todo mundo merece uma segunda chance - respondeu William, enxugando o suor da testa.
Arthur, que estava desmontando um aparelho eletrônico ao lado, ergueu os olhos e comentou:
- As pessoas podem mudar, mas é sempre bom ficar atento. Se precisar de qualquer coisa, estamos aqui.
William sorriu, apreciando a preocupação dos amigos. Sabia que levaria tempo para que eles confiassem em Lilian, mas acreditava que, com paciência, as coisas se ajeitariam.
Enquanto isso, Lilian lutava silenciosamente com seus próprios demônios. Sofria de um distúrbio de personalidade que a fazia, às vezes, perder a noção do tempo e do espaço. Havia momentos em que se encontrava em um lugar sem lembrar como tinha chegado lá. As mãos tremiam frequentemente, um sintoma que ela se esforçava ao máximo para esconder.
Um dia, durante o intervalo das aulas, William a encontrou sentada sozinha em um canto do pátio, com as mãos escondidas sob o livro que estava lendo. Ele se aproximou, sorrindo.
- Ei, Lilian! Quer se juntar a nós? Estamos discutindo o projeto de ciências do Arthur - convidou ele, tentando fazer com que ela se sentisse incluída.
Lilian ergueu os olhos, com um leve sorriso no rosto.
- Claro, William. Já estou indo - respondeu ela, levantando-se cuidadosamente.
Enquanto caminhavam de volta para se juntar aos outros, William percebeu que as mãos de Lilian tremiam levemente. Ele franziu a testa, preocupado, mas não disse nada. Estava decidido a não pressioná-la sobre algo que ela claramente queria esconder.
Com o passar do tempo, William e Lilian se tornaram inseparáveis. Eles passavam horas conversando sobre tudo: desde livros e filmes até sonhos e medos. Pedro se tornava mais próximo dela a cada dia, sem perceber completamente a profundidade das sombras que a assombravam.
Numa tarde, enquanto caminhavam pelo parque da cidade, Lilian parou de repente. William, que estava alguns passos à frente, voltou-se para ela, notando novamente as mãos trêmulas.
- Lilian, está tudo bem? - perguntou ele, tentando esconder a preocupação na voz.
- Ah, sim, só me sinto um pouco cansada - respondeu ela, tentando sorrir. - Acho que vou para casa descansar um pouco.
William assentiu, mas a inquietação não o deixou. Algo não parecia certo, mas ele não queria forçar Lilian a falar sobre o que quer que fosse.
No dia seguinte, na escola, Luís se aproximou de William com um olhar sério.
- Ei, cara, preciso te perguntar uma coisa - disse ele, olhando em volta para se certificar de que ninguém mais ouvia. - Você notou algo estranho na Lilian?
William hesitou, mas acabou confessando.
- Sim, Luís. Notei que às vezes as mãos dela tremem, e ela parece meio... distante. Mas não sei o que pode ser, e não quero pressioná-la.
Luís assentiu, pensativo.
- Fique de olho, William. Se precisar de ajuda, você sabe onde me encontrar.
William prometeu que ficaria atento, mas os dias continuaram com uma normalidade aparente. Lilian parecia se integrar mais ao grupo, e até Arthur começou a conversar mais com ela, compartilhando suas descobertas científicas.
Um dia, enquanto estudavam na biblioteca, Lilian começou a tremer mais visivelmente. William, que estava ao lado dela, colocou a mão em seu ombro.
- Lilian, quer dar uma volta? - sugeriu ele, preocupado.
Ela assentiu, e os dois saíram da biblioteca. No corredor vazio, Lilian parou e respirou fundo.
- William, tem algo que preciso te contar - disse ela, finalmente decidida a abrir seu coração.
William olhou para ela, encorajando-a a continuar.
- Eu... tenho um distúrbio de personalidade. Às vezes, não lembro como cheguei a certos lugares, e minhas mãos tremem por causa disso. Eu não contei para ninguém porque tenho medo do que as pessoas vão pensar.
William ficou em silêncio por um momento, processando a revelação. Então, segurou gentilmente as mãos de Lilian, olhando diretamente em seus olhos.
- Lilian, você não precisa enfrentar isso sozinha. Eu estou aqui para você, e tenho certeza que Luís e Arthur também estarão. Nós somos seus amigos, e amigos cuidam uns dos outros.
Lilian sentiu as lágrimas escorrerem por seu rosto, mas, dessa vez, eram de alívio. Ela sorriu, agradecida por ter encontrado em William alguém em quem podia confiar.
- Obrigada, William. Você não sabe o quanto isso significa para mim.
William sorriu de volta, sentindo uma nova determinação crescer dentro dele. Ele sabia que a jornada não seria fácil, mas estava decidido a apoiar Lilian em cada passo do caminho, não importa quão difícil fosse.
E assim, sob a luz suave do entardecer, William e Lilian deram mais um passo na construção de uma amizade sólida e sincera, enfrentando juntos as sombras invisíveis que assombravam Lilian.
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Cortes do Destino
RomansaVivendo uma vida pacata um jovem se vê em uma situação intrigante após traumas do passado voltarem junto a uma pessoa inesperada.