1. Férias em Praga

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Repostando ;D

Minha garganta estava seca e as narinas ardiam a cada vez que eu respirava

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Minha garganta estava seca e as narinas ardiam a cada vez que eu respirava. O suor escorria pelas têmporas e havia uma espécie de excitação imensa dentro do meu peito que me permitia continuar a pedalar. A exaustão não era o suficiente para me parar. O prazer se expandia nessa adrenalina junto com endorfina pelo corpo.

Compensava acelerar mesmo com os músculos doendo, para receber a brisa quente contra o rosto. Fechava os olhos e seguia, suspirava exaustivamente e continuava.

Ofegava, numa felicidade plena com os raios de sol que passavam pelas pálpebras fechadas e vinham contra a mente ofuscando todo e qualquer pensamento de receio ou medo de minha bicicleta topar contra uma árvore, pedra ou outro obstáculo que fosse.

E a razão desse sentimento estava pulsando em meu coração numa espécie de euforia, pois recentemente descobri a existência de minha irmã por parte de pai e eu iria me encontrar com ela pela primeira vez.

Longe, pude ouvir com esperança o som de uma cascata. O relaxante barulho se aproximava. A brisa ficou fresca e eu tive a certeza que estava próximo. Brequei a bicicleta e escutei atentamente. Olhei para cima, contra os fachos que passavam um a um entre as copas das árvores densas ao redor da estrada de terra. Segui levando a bike ao lado do meu corpo, conduzida pelo guidão, e caminhei para o centro da floresta.

Minhas pernas estavam cansadas. Ansiava por água e descanso. Repousei a bicicleta apoiada em um dos troncos e pensei ter ouvido o relinchar de um cavalo ali por perto, mas ignorei. Segui andando a pé onde as raízes eram altas demais e não se passavam as rodas.

Foi então que eu a vi. Primeiro, contemplei a gruta parcialmente iluminada pelo dia. A queda cristalina escorria suave entre os declives, seguindo feito cortina branca, espumando sua beleza alva. Aparentemente eu havia descoberto um paraíso secreto, mas não fui o primeiro.

 Aparentemente eu havia descoberto um paraíso secreto, mas não fui o primeiro

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Banhando-se tranquilamente na cascata, estava uma garota. Eu me abaixei a tempo de ela não me notar. Me escondi entre os arbustos que se enroscavam nas rochas ao redor do lago. Inclinando a cabeça, tratei de limpar o suor que insistia escorrer da testa para próximo dos meus olhos, para certificar-me melhor. Meu coração já acelerado pela exaustiva jornada não me permitia saber se eu estava apavorado ou deslumbrado com a situação. No fim, encontrava-me perdido e confuso, quando secretamente ergui os olhos e a vi melhor. Estava nua e cantava.

Em menos de um segundo fui apresentado a uma imagem da qual tive a certeza que permaneceria pra sempre gravada na mente: aquele corpo pequeno e excepcionalmente branco, que refletia com suavidade a clareza do reflexo do sol contra o rio. As gotas caiam como um cenário atrás, parecendo brilhar com o propósito de criar uma espécie de efeito visual hipnotizante. Era como se natureza inteira e ela estivessem conectados. Mesmo com o barulho da queda d'água, eu ouvia uma canção doce e calma, ressoando de sua voz delicada.

O cabelo molhado e castanho escorria por sobre os ombros levemente ossudos, seguindo para o tórax magro que sustentava os seios fartos, grandes o bastante para encher minhas mãos. A cintura era fina e o quadril esguio, enquanto suas pernas firmes mostravam uma pureza de aspecto imaculado entre elas.

Por um bom tempo tive o prazer de admirar aquela ninfa se banhando. Seu rosto era de feitio arredondado, juvenil, quase infantil. O queixo pequeno e as maçãs do rosto estavam em perfeito equilíbrio na face perolada, de olhos grandes. Me esqueci da sede, da canseira e das dores musculares. Eu estava ali, impressionado e admirado com uma das visões mais belas da minha vida.

Até que, de forma trágica fui interrompido. Senti sobre meu braço um incômodo quente e ardente. Quando me dei conta havia uma lagarta se rastejando na minha pele. Ou seria uma taturana, não quis analisar por muito tempo.

Sem pensar duas vezes, agitei o braço para que saísse, e a criatura caiu pesada contra a terra. O movimento brusco fez com que minha mão topasse contra o tronco de arbustos onde eu me escondia. Abaixei-me, mas era tarde demais, o barulho foi o suficiente para a garota parar seu banho e olhar para onde eu estava. Quando fitei rapidamente, ela estava com os braços sobre os seios, e o olhar assustado para todos os cantos.

- Olá? - gritou ela, ainda procurando.

Rangi os dentes pensando na possibilidade de ser visto. Seria uma grande desilusão, então procurei permanecer imóvel.

Alguns demorados segundos depois, ela foi deslizando pela água até sair para a terra, onde se encontravam suas roupas. O destino parecia querer me pregar uma peça pois estavam todas na rocha bem de frente onde eu me escondia. Encolhi o máximo meu corpo alto demais, fitando-a como um soldado atrás de trincheiras.

Muito provavelmente incomodada com o pensamento de que houvesse alguém a bisbilhotando, ela seguiu rápida até as roupas, vestindo com pressa sobre a pele úmida.

Independente da situação tensa, era inevitável eu não observar suas curvas agora próximas, de tantos notáveis detalhes.

Inclusive seu rosto me era familiar. Talvez já tivesse sonhado com ela antes, e aquilo tudo me remetia à um grande dejà vu. Terminando com um vestido preto e solto, a jovem correu acanhada, seguindo para a trilha onde eu havia chegado.

Suspirei quando me ocorreu que eu a havia espantado. Me ajeitei e levantei, vingando com uma pisada no bicho asqueroso que foi o responsável pela interrupção. Fitei a lagarta recém morta pela sola do meu tênis, seus pedaços espalhados pelo chão. A menina desapareceu e só deus sabia onde foi.

Parti dali e segui de volta para onde estava estacionada a minha bike. Mas, para a minha surpresa, ela não se encontrava como eu havia deixado. Estava jogada, de roda amassada, e com a correia solta. Comecei a rir ao imaginar que a garota ficou furiosa o bastante e fez questão de vingar-se com um chute.

Como eu iria voltar, a pé, é que seria o grande problema. Desanimado, enchi minha garrafa com a água da cascata e tentei consertar o estrago, em vão. Sempre fui uma lástima pra serviços manuais. Desistente e pensando em meu encontro com minha irmã, retornei a trilha pra casa andando. Seguia levando a bicicleta quebrada ao meu lado. Pelos meus cálculos demoraria por volta de uma hora até chegar na cidade.

Apesar disso, a caminhada me fazia bem, e com as energias recuperadas, aproveitei da paisagem. Meus pensamentos voltavam para a garota e algo me dizia que não tão cedo eu esqueceria, ainda assim, meu coração estava repleto de ansiedade para ver meu pai que eu não via há anos, e conhecer sua filha chamada Charlotte.

Após se separar de minha mãe, meu pai veio morar em Praga com a nova esposa, juntos tiveram uma filha. Por isso, deixei Estocolmo para trás e vim passar as férias em Praga para conhecer a família do meu pai. Como será a minha irmãzinha Charlotte?

Cry Little Sister || Bill Skarsgård ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora