2. Pousada Skars

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Meu pai tinha me comunicado que minha irmã, Charlotte, era campeã de hipismo além de adestradora, com apenas dezoito anos

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Meu pai tinha me comunicado que minha irmã, Charlotte, era campeã de hipismo além de adestradora, com apenas dezoito anos. Cresceu no aras da mãe dela e desde nova aprendeu a cavalgar. Devia ser uma menina incrível.

Eu nunca a conheci, exceto por algumas fotos quando era criança, porque meu contato com meu pai e sua família em Praga era pequeno. Não havia um motivo em especial para isso, exceto que me dediquei profundamente à vida de roteirista e diretor de cinema na Suécia, e acabei me afastando.

Aos trinta e três anos, estava de visita à casa de meu pai para matar a saudades e conhecer sua esposa e filha.

Me sentia um péssimo irmão e filho por ser desleixado a ponto de nunca querer saber como estariam hoje, mas me via pronto para compensar a ausência.

Meu pai e sua esposa eram donos de um grande hotel fazenda, e por isso sempre foram pessoas ocupadas. Independente disso, queriam me receber no aeroporto no dia que cheguei. Eu preferi permanecer num pequeno hotel ao centro da cidade até o momento que pudéssemos nos encontrar.

O por do sol alaranjava os céus, enquanto eu continuava a caminhar naquela trilha interminável. Para mim demoraria 1 hora pra voltar à cidade, porém parecia fazer muito mais tempo que isso. A princípio estava esperançoso com o dia, o clima, os encontros, os pássaros, as cores das nuvens, nada me incomodava. Depois de horas, tudo me perturbava, em especial o atraso. O que eles iriam pensar? Já estava para anoitecer e começava a achar que havia me perdido. Não conhecia nada de Praga, e me arrependia de sair pra fazer trilha de bike justamente no dia que veria meu pai após anos.

Antes eu parava para descansar, agora já não mais. Amaldiçoava à mim e à garota estúpida da cascata, que fez o desagradável favor de destruir minha bicicleta. Não aguentava andar quando repentinamente pisei em asfalto. Surpreso, olhei para baixo e ouvi barulho de carros. Não era possível que a cidade ia surgir a qualquer momento, por um segundo imaginei que estivesse sob miragem, de tão cansado. Depois de alguns minutos, tive certeza que finalmente chegava à civilização.

Era um lugar deslumbrante, a bela praça central com fonte e cercada de pequenos edifícios com trânsito tranquilo, cidadãos pacíficos, alguns andando e outros sentados em bancos jogando conversa fora, ou tomando café frente a lanchonetes. A primeira coisa que eu precisava fazer era parar em qualquer lugar e comprar água.

Feito isso, corri para o hotel, que para minha sorte era nas proximidades, há alguns quarteirões. Guardei a minha bicicleta quebrada dentro do porta-malas do meu carro e subi para o quarto, indo o mais rápido possível tomar banho.

Mesmo que tentasse não pensar na garota da cachoeira, não podia evitar. Apesar de ter conhecido poucas mulheres, eu tinha certeza que ela foi a garota mais bonita que já vi até então, e que mais me despertou desejo.

Após tomar banho e me arrumar, parti para o hotel fazenda de meus pais.

Eu estava extremamente ansioso. Estava dirigindo mas as pontas dos meus dedos começaram a formigar. A voz irritante do GPS não fazia sentido na minha cabeça. Tentava prestar atenção na estrada pra chegar ao destino, mas um turbilhão de pensamentos e emoções me confundia.

E então, depois de uma certa dificuldade, finalmente cheguei. Era a Pousada Skars. Como estava nervoso, minha mente processava imagens repentinas não condizentes com nada.

Desci do carro e pisei no chão decorativo que formava uma trilha orlada de árvores altas, iluminado com pequenas lâmpadas. Era por volta de 20 horas e as luzes que misturavam tonalidades azuis e brancas me lembravam vaga-lumes. Parecia feito para uma ocasião especial ou celebração.

Foi então que conclui que a ocasião especial era eu. O frio na barriga me incomodava. Seria mais fácil se simplesmente me recebessem. Quando alcancei o final da trilha, avistei o casarão enorme e rústico. Distante, à minha direita, estavam espalhadas várias casinhas de telhado comprido e vermelho.

Respirei fundo e segui para o casarão. Bati na porta de madeira pesada. Estava trancada. Enquanto buscava uma campainha ou qualquer coisa que avisasse minha presença, senti algo me atingindo na nuca. Virei depressa, havia sido alvo de uma pedrinha.

Não era possível que iriam me pregar uma peça ou fazer uma idiotice justamente naquela hora. Atrás de uma árvore, um vulto passou, e me chamou com um assobio seguido de risadas. Galopes foram ouvidos. Era uma pessoa montada em cavalo.

- Hey! - chamei.

Minha voz ecoou contra o silêncio que dominava o jardim deserto e iluminado adiante à pousada. Impaciente, fui atrás da pessoa deduzindo de quem se tratava. Corri para alcançá-la.

Quando percebi, tinha seguido para uma parte escura. Suspirei olhando ao redor, o vulto do cavalo desapareceu. Eu me via em um bosque ermo.

Segui andando pelo bosque, me guiando pelo barulho do trote distante. Cheguei a uma espécie de gazebo aberto, de madeira e com véus brancos que cobriam as laterais dando uma perfeita tranquilidade para o espaço. Imaginei que Charlotte estaria ali e em poucos segundos iria aparecer.

Subi os dois degraus que davam para o interior do gazebo e segui para o centro dele. O silêncio era tanto que eu ouvia minha respiração. Escutei os passos de alguém subindo os degraus logo atrás de mim.

- Ben? - era a voz dela. Bastante diferente do que eu imaginava.

Virei e vi a com trajes de hipismo. O cavalo repousava de pé, há alguns metros, comendo grama. Charlotte usava o casaco justo e elegante. Me aproximei mais. Meu coração deu um solavanco medonho e eu senti que o ar tinha desaparecido. Era a garota da cachoeira!

Era ela! A banhista que estava nua e cantava.

- O que... isso é alguma brincadeira?! - indaguei atônito.

- BEEENNN! - ela exclamou em alegria espontânea, quase num grito de felicidade. Do nada, pulou em minha direção. Fui agarrado com um abraço imenso, o peso suave do corpo veio contra o meu, e minha reação foi segurá-la antes que ambos caíssemos no chão.

Em choque, percebia que fora vítima do acaso, do fatal destino. A jovem ninfa pela qual eu estava deslumbrado era a minha irmã!

Cry Little Sister || Bill Skarsgård ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora