┃ 𝐅𝐎𝐔𝐑 ┃ Os irmãos Shelby

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Aquela arma apontada para mim não me despertou tanto medo quanto deveria

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Aquela arma apontada para mim não me despertou tanto medo quanto deveria. Não sabia ao certo se era por ter me conformado a ter um fim trágico devido ao casamento abusivo que tive, ou se era por não haver motivos reais para que alguém fizesse acabar com a minha vida naquele instante.

Pelo menos, era o que eu pensava.

Mas em instantes, a minha expressão levemente confusa se transformou em um grande sorriso quando passei a encarar aqueles olhos azuis e aquele bigode horroroso do homem que mirava aquela arma em minha direção.

— Ah, eu não posso acreditar nisso! — murmuro, incapaz de tirar aquele sorriso bobo do meu rosto. — Arthur Shelby! — Cantarolei seu nome, vendo um sorriso zombeteiro se instalar no rosto do homem.

— Eu realmente poderia ter atirado em você por ter ido embora sem se despedir, hum?! — O mais velho diz, recolhendo a arma e guardando-a em sua cintura. Ele ainda me olhava de maneira agradável e com uma certa diversão nos olhos.

Quem mais poderia apontar uma arma daquelas para mim, simplesmente por eu supostamente ter ido embora sem me despedir?!

— E eu teria o prazer de ajudá-lo a esconder o corpo. — A voz grave do outro homem que entra ali soa quando ele aparece sob a penumbra daquele cômodo de iluminação precária.

Quando vejo o segundo rosto conhecido, simplesmente não consigo conter a minha felicidade tão espontânea.

— John! — Chamo em um tom surpreso. Saio rapidamente de trás daquele balcão e me dirijo até os dois com animação.

Os Shelby ainda se vestiam como bem me lembrava, apesar de agora aparentarem mais maduros. Usando aquelas boinas e sobretudos escuros que exalavam elegância e poder, assim como o pai deles e todos os seus homens que mandavam na região na época de minha adolescência. E ainda que, naquela época os irmãos fossem apenas garotos, já trabalhavam com o pai.

Os Peaky Blinders eram reconhecidos há quilômetros de distância, pelo seu caminhar firme, olhar enigmático... totalmente intimidantes. Eram uma gangue bastante temida e seus membros eram particularmente bonitos e bem vestidos.

Recusando as boas maneiras, abraço Arthur — que eu considerava como um irmão — de modo afetivo, e ele não hesita em retribuir, afagando os meus cabelos como sempre fazia quando éramos mais novos. Logo, parto para abraçar John. E eu não esperava que ele pudesse ter crescido tanto durante esses anos. Quando eu o vi pela última vez, ele tinha apenas quatroze anos e já passava da minha altura, mesmo que eu fosse três anos mais velha que ele. Agora, ele passava até mesmo de Arthur que sempre fora o mais alto dos irmãos.

Com certeza é a genética.

John Boy me aperta em um abraço tão caloroso quanto o de Arthur.

E então, sinto uma pequena pontada no peito por perceber que eles haviam sentido minha falta tanto quanto eu senti deles. Eles estavam tão felizes quanto eu por esse reencontro. Uma década é muito tempo para que uma amizade possa se manter a mesma, então fiquei um pouco acanhada para procurá-los logo que cheguei... Além disso, não cheguei nem mesmo a perguntar à minha irmã sobre a família Shelby. Apenas cogitei a possibilidade deles terem se mudado para outro lugar, ou simplesmente não se lembrarem de mim... terem algum tipo de ressentimento... Mas pelo visto, tudo isso não passara de pensamentos ansiosos e indesejáveis. Até porquê, eu não precisei me preocupar com o nosso reencontro. Eles me encontraram.

𝐆𝐔𝐍𝐏𝐎𝐖𝐃𝐄𝐑 ┃ Thomas ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora