#5 Fogo

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"Conhece-te a ti mesmo." - Sócrates



Leo estava deitado na cama, envolto em cobertores, com a testa ainda quente. Desde a confusão na floresta, ele se sentia péssimo, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Não conseguia encarar Daniel, não depois de tudo o que aconteceu. As aulas eram um borrão distante enquanto ele passava os dias trancado no dormitório.

Uma batida suave na porta interrompeu seus pensamentos. Leo ignorou, presumindo que fosse alguém do corredor. Mas a porta se abriu lentamente, revelando Daniel com uma bandeja nas mãos.

— Bom dia, doente. — disse Daniel, com um sorriso meio torto.

Leo levantou a cabeça apenas o suficiente para olhar para ele, desconfiado. — O que é isso?

— Café da manhã. — Daniel respondeu, entrando no quarto e fechando a porta com o pé. — Achei que você poderia estar com fome.

— Pensei que ia ficar sem comer. — murmurou Leo, observando Daniel colocar a bandeja na pequena mesa ao lado da cama.

— Eu não sou um monstro, Leo. — respondeu Daniel, com uma nota de seriedade na voz. — Olha, eu trouxe capuccino com leite de aveia sem açúcar e um cinnamon roll. Sei que são os teus favoritos.

Leo piscou, surpreso. — Como você sabe disso?

— Eu prestei atenção. — disse Daniel, dando de ombros. — Além disso, você sempre reclama que ninguém mais sabe o que você gosta.

Leo sentou-se na cama, ainda desconfiado, mas curioso. Pegou a xícara de capuccino e deu um gole. O sabor familiar e reconfortante trouxe um pequeno sorriso ao seu rosto. — Obrigado. Eu... não esperava isso de você.

Daniel se sentou na outra cama, de frente para Leo, observando-o atentamente. — Acho que você precisa de um amigo agora, mais do que nunca. Mas não se habitue.

— Está envenenado? — perguntou Leo com um leve sorriso, tentando aliviar a tensão.

Daniel riu. — Sim, claro. Eu passei a manhã toda misturando veneno no teu capuccino.

O silêncio preencheu o espaço entre eles, apenas o som do café sendo sorvido e o papel do cinnamon roll sendo aberto. Leo ainda estava processando tudo o que aconteceu, mas este gesto de bondade inesperada o fez reconsiderar seus sentimentos em relação a Daniel.

— Desculpa pelo que aconteceu na floresta. — disse Leo, finalmente. — Eu não devia ter... explodido daquele jeito.

— A culpa não foi só tua. — respondeu Daniel, balançando a cabeça. — Olha, eu só quero que as coisas sejam menos complicadas entre nós. Eu... — hesitou, escolhendo cuidadosamente suas palavras. — Eu realmente quero que a gente consiga conviver em paz. E, quem sabe, ser amigos novamente.

Leo olhou para Daniel, uma mistura de emoções cruzando seu rosto. Havia raiva, sim, mas também havia um resquício de esperança. Talvez, só talvez, eles pudessem superar tudo isso.

— Vamos ver. — disse Leo, com um leve sorriso. — Um passo de cada vez, certo?

Daniel assentiu, aliviado. — Certo. Um passo de cada vez.

O café da manhã continuou em um silêncio mais confortável, ambos os garotos mergulhados em seus próprios pensamentos, mas com uma pequena faísca de reconciliação começando a brilhar. Quando Daniel terminou de comer, levantou-se, pegando sua bandeja.

— Vou deixar você descansar. — disse ele, virando-se para ir para sua cama.

— Espera. — disse Leo, de repente. — Onde você vai?

— Para a minha cama. — respondeu Daniel, confuso.

— Não vai não. Fica aqui.— pediu Leo, desviando o olhar. — Pelo menos até eu terminar. É meio chato comer sozinho.

Daniel hesitou, mas então sorriu e voltou a sentar-se. — Tudo bem, eu fico.

Daniel se acomodou ao lado de Leo, saboreando o café da manhã. O silêncio entre eles era pesado, mas carregado de possibilidades. Finalmente, Daniel decidiu quebrá-lo.

— Lembras-te de como éramos amigos quando éramos pequenos? — perguntou Daniel, a voz suave, quase hesitante

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— Lembras-te de como éramos amigos quando éramos pequenos? — perguntou Daniel, a voz suave, quase hesitante.

Leo olhou para ele, surpreso. — Sim, lembro. Foi antes de tudo... antes de as coisas mudarem.

Daniel assentiu, olhando para o seu café. — Eu sempre me perguntei o que aconteceu. Por que você começou a implicar comigo? Fiz alguma coisa?

Leo suspirou, o peso do passado pressionando-o. — Foi tudo tão confuso. Senti uma pressão enorme para ser alguém que não sou. As expectativas dos meus pais, a necessidade de ser popular... Acabei por descontar em você.

— Eu também estava confuso. — admitiu Daniel, com tristeza nos olhos. — Eu escondi tanto sobre quem eu realmente sou... E isso só piorou quando você começou a me tratar mal.

— Eu fui um idiota, Daniel. — Leo falou com um tom de arrependimento. — E sinto muito por isso. Não tenho desculpa.

Daniel olhou para Leo, sentindo uma mistura de raiva e compaixão. — Eu aceitei o que me fizeste porque pensava que merecia. Achava que, de alguma forma, tinha feito algo errado.

Leo respirou fundo. — Eu só queria ser aceito, mas acabei perdendo um amigo de verdade.

Daniel sorriu ligeiramente. — Talvez ainda haja uma chance para nós. Se formos honestos um com o outro, talvez possamos reconstruir nossa amizade.

Leo ficou pensativo por um momento e depois concordou. — Sim, eu gostaria disso. Prometo ser honesto contigo daqui para a frente.

— Eu também prometo. — Daniel estendeu a mão. — Prometemos confiar um no outro e ser honestos, aconteça o que acontecer.

Leo apertou a mão de Daniel, sentindo um novo começo. — Promessa feita.

 — Promessa feita

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